Em 2014, o artista Rodrigo Ramos se deparou, pela primeira vez, com uma série de fotografias de localizadores sonoros acústicos utilizados na Primeira Guerra. O equipamento militar rastreava ruídos que indicassem um iminente ataque aéreo ou o lançamento de bombas. "No fim da Primeira Guerra, de 1918 até 1940, fazia parte do armamento antiaéreo. Os soldados ficavam ouvindo para tentar identificar de onde viria um possível ataque aéreo e direcionar uma resposta", explica Ramos, que ficou fascinado pelo aparato e, a partir da ideia de maximizar sons mínimos criou a instalação Espelho sonoro, em cartaz na Caixa Cultural.
Distribuída pelas galerias Piccola I e Piccola II, a obra consiste em uma série de amplificadores que transmitem constantemente sons captados por Ramos em centros urbanos. "É uma releitura artística desse aparato de guerra, mas, na contemporaneidade, uso para ouvir os sons da cidade, dos espaços naturais urbanos, e para localizar sons que passam batidos no nosso dia a dia", explica o artista. O projeto consiste em colocar os amplificadores em praças públicas e captar os registros.
Até hoje, Ramos passou por 15 cidades e distribuiu mais de 40 pontos de escuta. "Em cada cidade, vou geralmente para uns cinco pontos e faço a instalação do aparato em praças ou lugares que acho que têm uma sonoridade interessante. Gravo e faço mapeamento sonoro desses lugares. A exposição é uma reunião desse material todo", avisa. A exposição ocupa duas galerias, mas também vai se estender pelo espaço externo da Caixa Cultural nos momentos em que o artista realizar palestras e oficinas.
Nas galerias, além da instalação sonora, estarão expostas 20 fotografias das cidades apresentadas com QR code para que o público possa ouvir a paisagem sonora dos locais retratados. Um conjunto de quatro televisões com vídeos e registros das intervenções urbanas também acompanham a instalação. A intenção de Ramos é proporcionar uma ampliação da escuta para que as pessoas parem e ouçam os sons da cidade. "Quero 'desanestesiar' os ouvidos para os sons ambientes cotidianos que passam despercebidos. Acho que hoje, na nossa vida cotidiana, a gente passa tão rápido pelos espaços que não consegue apreciar e estar presente" acredita o artista.
A pesquisa de Rodrigo Ramos também incorpora a noção de poluição sonora, inevitável nas captações realizadas nos grandes centros urbanos. "Às vezes, as pessoas ficam tão imersas na poluição sonora que não param para ouvir. Quando você para e ouve o som ao redor, começa a ter noção da qualidade sonora do ambiente", conta. Mesmo quando escolhe fazer as captações em áreas com mais natureza, o artista nota a invasão sonora dos barulhos de fundo da cidade, como carros e trânsito. "E mesmo a natureza tem uma poluição sonora que chega ao espaço", garante. "Isso é um ampliador de som, é um pouco como os animais ouvem, eles têm uma audição mais ampliada que a nossa. Pensando numa questão ecológica, a poluição sonora não afeta somente a nós, e sim a todo o ambiente. E as pessoas se tocam disso mesmo em locais afastados."
Serviço
Espelho Sonoro
De Rodrigo Ramos. Visitação até 24 de março, de terça a domingo, das 9h às 21h, nas galerias Piccola I e II, na CAIXA Cultural Brasília (SBS Quadra 4 Lotes ¾). Classificação indicativa livre
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