Música

Em entrevista, Alok fala sobre o poder transformador da música

Um dos maiores nomes da cena eletrônica mundial, Alok, que tem Brasília como cidade do coração, declara amor pela capital e reitera apoio às causas indígenas

 17/04/2024 Credito: Minervino Junior /CB/DA.Press. Cidades. Especial Aniversário de Brasilia 64 anos. Preparação da festa do aniversario de brasilia -Palco do show e entrevista com Alok. -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
17/04/2024 Credito: Minervino Junior /CB/DA.Press. Cidades. Especial Aniversário de Brasilia 64 anos. Preparação da festa do aniversario de brasilia -Palco do show e entrevista com Alok. - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Um nome exótico, com referências distintas e uma música que soa não tão familiar para o público da capital. De mansinho, o Dj Alok, que nasceu em Goiânia, mas tem Brasília como cidade do coração, tornou-se um dos mais relevantes nomes da música eletrônica mundial e hoje representa a cultura brasiliense  ao redor do globo. Utilizando o entretenimento como meio de transformação, o artista busca potencializar vozes silenciadas por meio de seu trabalho.

Há uma década, um encontro com os indígenas yawanawá, no Acre, mudou os rumos da trajetória artística do músico. Desde então, o também produtor musical tem utilizado a plataforma que construiu ao longo dos anos de carreira para amplificar o discurso dos povos originários. Ao Correio, o DJ falou sobre as memórias que guarda da cidade e reforçou a relevância  de colocar a causa indígena em primeiro plano.

 

Entrevista // Alok

Como você resume sua história com Brasília? Como a cidade influenciou na sua formação pessoal e profissional?

Brasília foi o lugar onde eu passei mais tempo na minha vida. Eu morei dos 11 aos 23 anos aqui, tirando um período em que eu morei em Londres. Meu ensino fundamental, ensino médio e faculdade foram na cidade, momentos que são muito importantes para a nossa formação e que contribuem para várias questões interpessoais nossas. Nasceram aqui relacionamentos que eu tenho até hoje, com pessoas que eu conheci em Brasília e trabalham comigo até hoje, meus melhores amigos. O primeiro show da minha vida foi em Brasília. A minha família sempre foi muito consolidada aqui, então eu não me via morando em outro lugar. Aqui em Brasília estava todo mundo. Brasília, para mim, é fonte de memórias afetivas de tudo que vivi, de tudo que já passei. Poder voltar hoje em dia é muito especial, até porque eu sempre quis tocar no aniversário de Brasília. Quando fui convidado para tocar aqui, eu não queria fazer só mais um show. Eu tinha aquele sentimento de querer fazer o melhor show possível, que esteja ao meu alcance.

 

Após visitar tantas cidades, estados e países, sua visão de Brasília mudou?

Sinceramente, não. Eu não consigo perder a memória afetiva que eu tenho daqui. Toda vez que eu venho para cá, é como se eu tivesse resgatando várias emoções e sentimentos. É muito louco, mas é como se eu tivesse voltando e resgatando várias memórias. Só que, ao mesmo tempo, é interessante, porque eu estou no mesmo lugar. Pode ser que tenham as mesmas pessoas, mas o sentimento é diferente, como se Brasília estivesse cada vez mais evoluída. Mas as minhas memórias afetivas são aquelas da infância, adolescência. O céu continua maravilhoso. E, agora, ainda tenho outra memória maravilhosa, do aniversário de Brasília, que vou guardar por anos e anos.

 

Você está engajado nas causas dos povos indígenas há mais de uma década. Como começou essa relação?

Há 10 anos, eu estava em busca de inspiração para a minha carreira. Aí, eu tomei a decisão de ir para uma aldeia super isolada no Acre, em que eu precisei pegar três voos e passar 13h em um carro e 9h em uma canoa voadeira para chegar ao destino. Lá, fiquei 10 dias com o povo da aldeia, e foi um momento muito importante para eu ressignificar várias coisas, como a forma que a gente lida com a cultura indígena e a forma como a gente lida com a natureza, por exemplo. Naquela época, eu fazia música para alcançar o top 10 mais ouvidos. Lá, eles faziam música para curar.

 

O que mudou nesse meio tempo?

O que mudou foi exatamente essa forma como eu ressignifiquei a cultura indígena. Primeiro, a gente começa com o encantamento da música e o entretenimento, em uma tentativa de reflorestar nossa mente, reflorestar aquela visão de que a gente é uma cultura mais desenvolvida e eles menos. Isso não existe. São valores e objetivos diferentes. A gente fala de preservar a natureza, mas estamos super desconectados com ela.

 

A música eletrônica é cercada de diversos preconceitos e, muitas vezes, pode ser considerada uma arte alienada. Você acredita que está quebrando estereótipos com o seu trabalho?

Eu acho que a música eletrônica tem esse lado que pode ser mais nichado, segmentado por um público que curte mais essa pegada. Mas, ao mesmo tempo, o que poderia ser uma desvantagem para mim acabou se tornando uma das maiores vantagens da minha carreira, porque a música eletrônica é universal. A música eletrônica é mundial. A minha música não fica só no Brasil, ela viaja o mundo inteiro. Isso acabou sendo uma grande vantagem no sentido de que eu faço músicas que quebram fronteiras, então muito da minha carreira internacional foi guiada por isso. Eu sou um Dj de música eletrônica, mas eu me vejo muito mais na esfera pop. Os meus pais, por outro lado, são DJs e se veem muito mais nesse lugar do segmento eletrônico mais underground e tudo bem, eu respeito. Eu quis seguir um caminho diferente. Quando eu faço um evento como o aniversário de Brasília, por exemplo, que é um público muito diverso e que a grande maioria não é adepta da música eletrônica, eu realmente preciso fazer um trabalho que seja de abrangência também. Não dá para fazer um set que seja voltado para a cena eletrônica. Acho que esse é um dos grandes pontos da minha carreira, essa flexibilidade que eu tenho de poder me adaptar aos diferentes lugares. Eu faço música com indígena, eu faço música com o Fagner, eu faço música com funkeiro, então eu me sinto nesse lugar de pluralidade, como se minha criatividade não tivesse limite.

 


  •  Alok tem memórias e conexões afetivas com Brasília
    Alok tem memórias e conexões afetivas com Brasília Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  17/04/2024 Credito: Minervino Junior /CB/DA.Press. Cidades. Especial Aniversário de Brasilia 64 anos. Preparação da festa do aniversario de brasilia -Palco do show e entrevista com Alok.
    17/04/2024 Credito: Minervino Junior /CB/DA.Press. Cidades. Especial Aniversário de Brasilia 64 anos. Preparação da festa do aniversario de brasilia -Palco do show e entrevista com Alok. Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  17/04/2024 Credito: Minervino Junior /CB/DA.Press. Cidades. Especial Aniversário de Brasilia 64 anos. Preparação da festa do aniversario de brasilia -Palco do show e entrevista com Alok.
    17/04/2024 Credito: Minervino Junior /CB/DA.Press. Cidades. Especial Aniversário de Brasilia 64 anos. Preparação da festa do aniversario de brasilia -Palco do show e entrevista com Alok. Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
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postado em 21/04/2024 12:46 / atualizado em 21/04/2024 12:26
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