TELEVISÃO

"Soltei o freio de mão com o meu sotaque", afirma Clarissa Pinheiro

Pernambucana, Clarissa Pinheiro celebra a oportunidade que os artistas nordestinos estão tendo de liberar o sotaque nas produções atuais do audiovisual brasileiro. Atriz esteve no elenco de "mar do sertão", produção composta por um elenco majoritariamente regional

Clarissa Pinheiro, atriz -  (crédito: Renata Duarte/Divulgação)
Clarissa Pinheiro, atriz - (crédito: Renata Duarte/Divulgação)

Atriz e jornalista, Clarissa Pinheiro estrela o filme Um dia antes de todos os outros, com texto de Jô Bilac e direção de Valentina Homem e Fernanda Bond. Na produção, que explora as relações de cuidado entre mulheres, a atriz dá vida a Marli, uma cuidadora. Em breve, a artista poderá ser vista no filme O rei da feira, estrelado por Leandro Hassum, e nas séries Dias perfeitos e Pablo e Luizão, protagonizada por Paulo Vieira, ambas no Globoplay.

Foi em 2019 que a pernambucana ganhou projeção ao fazer parte do elenco de Amor de mãe (2019), na pele de Penha, uma empregada doméstica que, ao longo da trama, acabou se tornando uma das grandes vilãs. Em seu currículo constam a novela Mar do sertão (2022) e as séries Onde nascem os fortes (2017), Justiça (2016) e Sob pressão, na Globo. No cinema, atuou em vários filmes, como Casa grande (2014) e Aquarius (2016).

Clarissa Pinheiro, atriz
Clarissa Pinheiro, atriz (foto: Renata Duarte/Divulgação)

Entrevista | Clarissa Pinheiro

Como foi viver uma nordestina em Mar do sertão?

Dar vida à Tereza foi um processo muito prazeroso. Soltei o freio de mão com o meu sotaque, podendo explorar expressões e gírias próprias do povo nordestino. Fiquei bem feliz em participar de um projeto da Globo com um elenco cheio de conterrâneos. Deu uma mistura boa, trazendo as diversas melodias existentes no Nordeste. Um chiado cearense, a malemolência baiana, a fala mais cortada como a pernambucana, paraibana e potiguar, apesar desse último ter o "S" limpo, entre tantas outras características do ser nordestino mescladas na trama, foram elementos que trouxeram identificação para grande parte do público. Recebi esse retorno nas ruas e também de amigos e familiares. Foi uma novela muito linda de se fazer.

E como você observa a crescente escalação de artistas nordestinos para projetos?

Durante muito tempo, as escalações para projetos na TV priorizaram determinados tipos físicos, em sua maioria do eixo Rio-São Paulo e, com isso, também predominou um sotaque mais sudestino nas tramas. Fico feliz em observar o aumento de oportunidades para artistas nordestinos. Na verdade, penso que o Nordeste tá na moda. Retratado em várias novelas, filmes e séries, nos últimos tempos. Acho ótimo, mas vejo que certos projetos com temática regional ainda não absorvem tantos atores daquela região como deveriam. Claro que um bom ator pode interpretar diferentes tipos, de diferentes regiões. Mas, justamente por se tratar de uma trama regional, acho que seria mais interessante trazer para esse universo mais pessoas que dialoguem e tenham em sua bagagem traços daquela cultura, como uma forma de ampliar o conhecimento a respeito daquele povo. Foi o que vimos em Mar do Sertão, uma novela que ganhou o público por trazer o jeitinho "nordestino raiz". Enfim, acho que estamos caminhando, mas ainda temos muito o que discutir e evoluir. 

Aliás, será que poderemos ver Tereza no elenco de No Rancho Fundo, assim como vários outros personagens da trama?

Não sei se a Tereza fará alguma visita ao Rancho Fundo, mas é gostoso receber feedbacks tão legais das pessoas na rua. Essa nordestina braba, justa, reta em seus valores e parceira de vida do seu Timbó parece ter cativado o público. Ainda hoje me perguntam pelas rapaduras dela! Rsrs

Você fez muito sucesso em Amor de mãe. Esse trabalho foi um divisor de águas da sua trajetória?

Quando o José Villamarim me chamou para interpretar a Penha, brincou dizendo: "Se prepara para andar nas ruas e ser reconhecida!". Eu ri do comentário e jamais poderia imaginar o tamanho que a Penha ocuparia na trama. Foi uma surpresa para mim, porque eu não sabia muito da trajetória da personagem quando topei fazer o papel. Ao longo da novela, a Penha foi ganhando camadas e apresentando um arco dramático super interessante. Foi um prazer dar vida a essa mulher. Eu sempre considerei o filme Casa grande (2014) como um divisor de águas da minha carreira mas, Amor de mãe, com certeza, foi um grande impulsionador na minha trajetória, principalmente pelo alcance que tem a novela das oito, na Rede Globo.

Você está no elenco do filme Um dia antes de todos, que vem percorrendo festivais. Fale um pouco sobre esse projeto e como foi rodá-lo na pandemia.

Um desafio em vários sentidos. Rodado em quatro dias, durante a pandemia, com um orçamento de R$ 90 mil. Tivemos duas semanas de imersão já na própria locação. Ali descobrimos afetos e camadas das personagens, o que nos deu muita propriedade na hora de gravar os planos, em sua maioria, planos sequência. Foi muito gratificante fazer parte desse projeto, composto em sua maioria por mulheres. Vencemos os desafios e, apesar de ser suspeita, acho que o filme ficou lindo.

O filme traz a discussão sobre relações e os idosos que acabam sendo abandonados pela família e cuidados por terceiros. Como esse tema te tocou? 

A situação dos idosos, no Brasil, é bem complicada. Muitos não possuem apoio familiar e são poucos os asilos que oferecem condições acolhedoras. Uma das atrizes do filme é angolana e nos relatou a forma como seu povo cuida dos mais velhos. Eles são tratados com respeito e muita consideração. São preciosidades, pessoas que carregam sabedorias e, por isso mesmo, toda a comunidade se envolve em seus cuidados. No filme, o filho da Dona Iara terceiriza essa função, deixando para Marli (minha personagem) toda a responsabilidade quanto ao bem estar de sua mãe. E nessa relação, vemos o afeto e dedicação de alguém que nem mesmo é da família. É bem triste constatar que esse tema abordado no filme seja uma realidade tão presente em nosso país. 

Quais os próximos projetos?

Atualmente estou envolvida em um projeto voltado para o teatro. Estamos ainda na fase de pesquisa de mesa, mas não vejo a hora de ir para sala de ensaio. Estou com algumas possibilidades no audiovisual, mas por enquanto não posso revelar! De qualquer forma, em breve algo novo virá.

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postado em 02/08/2024 08:00
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