
Brasília sempre foi celeiro de talentos com incontáveis nomes em diversos gêneros e vertentes. Recentemente, Jean Tassy, um artista "prata da casa", tem se destacado nacionalmente e lidera a novíssima cena da música pop brasiliense para o Brasil. Após lançar o segundo álbum, Acrônico, ele se estabeleceu entre os músicos em ascensão e busca voos mais altos.
O disco, que veio acompanhado de curta-metragem dirigido por Helder fruteira e Carol Aó, é composto por 12 faixas e tem 33 minutos. Lançado no fim de 2024, o álbum foi crescendo pacientemente com os ouvintes e alcançou o marco de 4 milhões de reproduções na semana passada. Produzido pelo parceiro de longa data de Tassy, Iuri Rio Branco, o trabalho conta com participações de peso como Liniker, Wiu, Don L, Yago Opróprio e Duquesa.
O álbum é sucessor do popular disco de estreia do cantor, intitulado Amanhã. No entanto, carrega características diferentes da obra que mostrou Jean Tassy para os brasileiros. "Nesse segundo disco, a gente já fez uma coisa mais pop. Afinal, a ideia é entrar num lugar mais do pop", explica o artista que destrincha o disco de estreia: "O primeiro disco foi mais pra mostrar a minha cara pra galera, mostrar que isso aqui sou eu. No rap, mas sem estar muito preso no rap, e também com a minha própria musicalidade, isso sou eu".
Portanto, a ideia de Tassy nunca foi se apresentar novamente, ou apostar em uma sonoridade pasteurizada pelos sucessos do antecessor. Ele queria permanecer em movimento. "Esse é meu processo de abertura musical mesmo, de olhar para o lugar de onde eu vim, do rap, e sair aos pouquinhos. Tudo de forma muito natural", afirma o músico. Contudo, não foi um tiro no escuro. "Eu diria que é um disco experimental com consciência", reflete.
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"A gente entendeu que o meu sonho ainda estava muito preso numa estética, ainda preso ao rap. Eu também queria sair, migrar um pouco desse espaço, e Acrônico veio com isso", confessa o artista, que realmente está fazendo um processo de se aproximar do cenário pop nacional. Tassy veio do rap, é grato por tudo que conquistou, mas quer ter mais faces. "Ele veio exatamente para romper um pouco dessa barreira. Para eu parar de sempre ser visto pela mesma galerinha".
Tassy está satisfeito com o que fez. "A forma como me apresento musicalmente está muito mais próxima do que eu desejo agora", conta. A ideia sempre foi ser mais do que já foi. "É interessante estar nesse lugar de que eu posso entregar mais do que já esperam de mim", acrescenta.
Acrônico, em significado, é a qualidade de algo atemporal. Jean Tassy tem a intenção de continuar mudando para atingir esse lugar na música. Por isso, o artista fez questão de ser abrupto no processo do novo álbum. "Eu não queria dar um passo, eu queria mesmo dar um pulo para frente", crava.
Medo
Para poder dar um salto de coragem, a pessoa precisa de alguma forma fazer as pazes com o medo. Tassy tem uma relação muito consciente com esse sentimento. Ora deixa o medo ir embora, ora caminha de mãos dadas com ele. Porém, sempre reconhece que ele está ou esteve lá.
O segundo álbum traz o receio de não alcançar as conquistas do primeiro. Esse foi o primeiro medo que enfrentou. "Eu tinha mais esse medo de dar certo ou não. Eu sabia que ia me arriscar em coisas que não havia feito, o que me fazia questionar se ia funcionar", lembra o artista. "Porém, quando eu fiz a primeira faixa mais ousada liberei todas essas inseguranças e pensei: 'agora eu posso testar o que eu quiser'", completa.
O mesmo ocorreu com os assuntos. "No início da minha carreira, eu escrevia mais uma coisa mais poesia ligada a problemas sociais e muito mais voltada para mim. Então era uma coisa bem metafórica, que acabava sendo muito difícil. Depois que eu comecei a escrever mais love song, parei de escrever desse jeito mais complexo e fiz sucesso", analisa o artista, que precisou encontrar um meio-termo para vencer um medo. "Nesse disco, eu consegui variar entre os dois. Quando você faz um disco, tem que ser esses dois lados, tem que ser um pouco poético e um pouco romântico. Dessa forma, perdi o medo novamente de falar de mim mesmo", comemora.
Entretanto, é a adrenalina de pisar em um próximo degrau desconhecido que o move. "No dia que eu perder o friozinho na barriga eu posso já mudar de profissão. Se um dia eu subir no palco e não sentir o friozinho na barriga, não tem pra que eu estar fazendo isso", comenta. "A insegurança, ela anda junto num lugar que não é nem pejorativo, não é uma coisa destrutiva. É aquela coisa de buscar sempre a evolução, uma autocobrança que seja saudável. Se ela for uma cobrança sadia, eu acho que é importante", conclui.
Brasília
Um dos saltos de fé de Jean Tassy foi se mudar de Brasília. Ele foi para São Paulo, onde mora o produtor com quem trabalha e também para fazer as conexões que permitiram esse disco ser possível. "Acho que foi essencial eu não sair tão pequeno de Brasília, foi bacana sair num meio-termo ali e depois começar a crescer mais em São Paulo", exalta o cantor.
Porém, a ideia é sempre manter um intercâmbio. Jean sabe de onde veio e vê valor na música da capital. "A gente sabe que tem a cena daqui, mas eu acho que fazer esse processo de ida e volta também é bom", diz o artista que acredita que pode ajudar outros que estão vindo a crescer. "Porque você pode enriquecer a própria cena local com esses retornos. Você vai, busca e volta de novo", pondera.