
O peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 2010, morreu no domingo (13/4) aos 89 anos. O escritor integrou o chamado "boom" latino-americano ao lado de outros grandes nomes, como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo. A causa da morte de Llosa não foi divulgada.
Vargas Llosa abordou realidades sociais em obras como A cidade e os Cachorros e A Festa do Bode. Após os estudos na Academia Militar de Lima, ele obteve uma licenciatura em letras e deu os primeiros passos no jornalismo.
O professor Erivelto da Rocha Carvalho, do Departamento de Teorias Literárias e Literaturas da Universidade de Brasília (UnB), afirma que Mario Vargas Llosa deixa um legado contraditório como a América Latina em que ele nasceu.
"Sua ensaística deverá ter ainda uma revalorização em comparação com a premiada narrativa ficcional, enquanto sua atuação como articulista seguirá sendo contestada devido às suas opiniões reacionárias e sua atuação política, bem como às polêmicas pessoais em que se envolveu, vide sua relação com García Márquez, por exemplo. O núcleo de maior interesse em sua obra deverá continuar sendo a fase que vai dos seus primeiros romances até a Guerra do Fim do Mundo (1981), cuja referência fundamental é a obra de Euclides da Cunha", pontua Erivelto.
A carreira literária de Llosa despontou em 1959, quando publicou o primeiro livro de contos, Os chefes, com o qual recebeu o Prêmio Leopoldo Alas.
O prestígio dele como escritor foi consolidado com Conversa no Catedral (1969). Depois foram publicadas as obras Pantaleão e as Visitadoras, Tia Julia e o Escrevinhador, A Guerra do Fim do Mundo, Peixe na Água, A Festa do Bode e O sonho do celta.
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Com a obra traduzida para 30 línguas, Vargas Llosa recebeu os prêmios Cervantes, Príncipe das Astúrias das Letras, Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o Prêmio Nacional de Romance do Peru e o Rómulo Gallegos, entre outros.
Llosa teve uma grande amizade com o escritor colombiano García Márquez. No entanto, em fevereiro de 1976, Lhosa deu um soco em Márquez — fato que fez com que a amizade entre os dois fosse rompida. O motivo da agressão não foi revelado e continua alvo de especulações até hoje.
Após a morte do autor de Gabriel García Márquez, em abril de 2014, Llosa declarou que os dois haviam feito um "acordo de cavalheiros" para manter em segredo o motivo da agressão.
Na política
No livro autobiográfico O Chamado da Tribo, Llosa conta que descobriu a política aos 12 anos, quando o general Manuel Odría derrubou o presidente José Luis Bustamante y Rivero, que era seu tio por parte materna da família.
Em 1971, ele rompeu com a aproximação do governo de Fidel Castro. Em resposta às tentativas do governo social-democrata do então presidente Alan García de nacionalizar os bancos peruanos, Vargas Llosa emergiu como um líder de direita, liderando protestos contra a ação em 1987.
O escritor foi candidato à presidência do Peru em 1990. Ele era o favorito até que surgiu o agrônomo Alberto Fujimori, que acabou sendo eleito.
Após a derrota, ele retornou à literatura, de onde, segundo ele, nunca deveria ter saído.
Reações
A presidente do Peru, Dina Boluarte, lamentou a morte e afirmou que "seu gênio intelectual e sua vastíssima obra permanecerão como um legado imperecível para as futuras gerações". O governo peruano decretou "Luto Nacional no dia 14 de abril".
O presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo, descreveu Vargas Llosa como "mestre da palavra, grande cronista da América Latina e intérprete exponencial de suas rotas e destinos".
O presidente chileno, Gabriel Boric, chamou Llosa de mestre dos mestres. "Nos deixa obra, admiração e exemplo. Nos deixa um rumo para o futuro", disse Boric.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou que "além das diferenças políticas, sempre devemos reconhecer a grandeza de um escritor".
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Com informações da Agência France-Presse*