
Formada em 2010, a banda paulistana Terno Rei tem se consolidado como um dos principais nomes do rock alternativo brasileiro desde 2019, com o lançamento do álbum Violeta, responsável por dar ao grupo projeção nacional. Em Gêmeos, lançado em 2022, o quarteto da capital paulista lotou casas de shows por todo o país — em Brasília, foram quatro apresentações lotadas na Infinu Comunidade Criativa e no Toinha Brasil Show durante a turnê do projeto. Agora, os artistas voltam a mostrar a força da música independente com Nenhuma estrela, disco que guarda Relógios, faixa em parceria com o músico brasileiro Lô Borges.
Em entrevista ao Correio, Alê Sater, vocalista e compositor do Terno Rei, contou sobre o período de criação do projeto. "Dessa vez, a gente fez tudo de uma forma mais relaxada. Violeta foi o trabalho que nos deu projeção nacional, então havia muita expectativa e algum tipo de pressão no disco seguinte, Gêmeos, que a gente adora, mas que teve esse peso, e isso era uma coisa muita nova para nós", explicou o cantor. "Com Nenhuma estrela, a gente só quis fazer o nosso melhor e focar em nós mesmos", acrescentou.
Na estrada há 15 anos, Alê, compositor da banda, se viu inspirado pelo processo de amadurecimento pessoal e artístico durante a composição do disco. "Foi uma época em que eu estava pensando muito em como o tempo nos influencia como pessoas, comunidades e grupos, além de influenciar também nas nossas decisões e atitudes. Acabou que tudo do álbum teve esse conceito geral de tema da maturidade, nas letras, no instrumental e até na arte da capa", apontou o cantor.
A balada acústica 32, por exemplo, é uma das faixas do álbum que mais trazem a reflexão do amadurecimento. "Eu me lembro/Há 10 anos atrás/Daquela festa/Eu era tão novo/Com medo de se entregar/Eu era qualquer um/E agora sou eu/Que tenho que enfrentar/E agora sou eu/Que tenho os meus 32/32 dentes, o mundo na frente, não posso ficar pra trás", canta o vocalista de 34 anos.
Em relação às melodias, a intenção era preservar a essência melancólica e introspectiva das canções. "As composições são repletas de acordes menores, e trazem aquela melancolia que é bem característica do nosso som. Ao mesmo tempo, tivemos a possibilidade de fazer uma produção bem expansiva em termos de arranjos e instrumentos, então o disco tem músicas com synth, sopro, violão percussivo e bateria eletrônica", listou Alê.
Segundo o guitarrista Bruno Paschoal, as inspirações externas do disco foram "o de sempre". "Artistas dos anos 1980 e 1990, como Tears for Fears e Smashing Pumpkins", exemplificou o músico. "Não teve nenhuma banda específica que acabou marcando o álbum, o que tornou ele bem democrático e um pouco eclético até, com músicas de vários estilos", complementou.
Participação especial
Quinto álbum do grupo, Nenhuma estrela é o primeiro disco do Terno Rei com uma participação especial — em Relógios, Alê Sater divide os vocais com Lô Borges. "Foi uma coisa incrível e muito espontânea. A gente estava com a música pronta, até que o nosso empresário teve a ideia de chamá-lo para cantar conosco, já que a harmonia e a letra dela tinham a ver com o que ele fez ao longo da carreira solo e também com o Clube da Esquina", relatou o cantor.
Rapidamente, o músico mineiro topou o convite e, em menos de uma semana, a parceria estava pronta. "Foi muito fácil e ficou muito bonito. Para nós, é um privilégio e uma honra ter ele conosco. É a primeira parceria que a gente faz em um disco nosso e não poderia ser mais especial", comemorou Alê.
Entre os quatro integrantes do grupo, a preferência pelo novo disco é unânime. "Eu costumo dizer que o álbum mais recente sempre acaba sendo o preferido, mas eu acho que Nenhuma estrela, em específico, é um trabalho bem conciso", avaliou Bruno. "Com a maturidade, você vai se entendendo melhor e sabe os pontos fracos e fortes de cada um. Então fica mais fácil de encontrar os caminhos que levam às músicas, eles já são mais claros e óbvios, e acho que isso acaba refletindo no projeto final", opinou o guitarrista.
Desde Violeta, no entanto, a banda já é sinônimo de rock paulistano para o resto do país — uma das principais faixas do álbum de 2019, inclusive, chama-se São Paulo. "Para nós, esse reconhecimento é um sonho. A gente sempre ouviu a música urbana como um todo, e nós gostamos da cidade e de morar nela, desde sempre. Nossas influências são muito urbanas, assim como nós, então a música acaba refletindo isso e fica com essa cara de São Paulo, desde os nossos EPs", detalhou Alê.
"Tem muitas coisas que eu acho características de São Paulo, por exemplo, a Rita Lee. Para mim, ela tem a cara da cidade. Então é muito legal que, aos poucos, a gente apareça nessa lista que vem na cabeça das pessoas", celebrou o vocalista.
Primo em segundo grau de Almir Sater, o compositor do grupo também estreou o primeiro álbum solo no fim do ano passado. "Terminei o disco em um mês e, no mês seguinte, comecei a gravar o da banda", lembrou. "Às vezes, pode acontecer que uma música da banda possa ter a ver mais com meu projeto solo, ou o contrário. Mas isso tem a ver com o momento. Na hora em que você está no estúdio gravando, você quer dar o melhor que tem, e foi mais ou menos o que aconteceu nessa situação. Eu tinha músicas suficientes para gravar os dois e tentei encaixá-las em cada projeto de forma racional", afirmou.
Porão do Rock
Nomes frequentes na agenda cultural da cidade, o Terno Rei apresenta a nova turnê na capital federal no mês que vem. "Acho que fora de São Paulo, Brasília é a cidade em que a gente mais se apresenta. Nos últimos três anos, fomos mais de seis vezes", destacou Alê. O quarteto paulistano é uma das atrações do festival Porão do Rock, que ocorre em 23 e 24 de maio.
No segundo dia de evento, os músicos dividem a line-up com Baianasystem, Menores Atos, Matanza Ritual e a atração internacional Stone Temple Pilots. "O mais legal de tocar no Porão do Rock é ter a possibilidade de ver o show do Stone Temple Pilots. Eu e o Bruno somos muito fãs desde criança e por muito tempo foi minha banda preferida. Eu acho que eles são uma banda subestimada, que têm um estilo de tocar muito legal, então tem tudo para ser um dia inesquecível", torceu o vocalista.
Sepultura, Raimundos, CPM 22 e Dead Fish são outros nomes que fazem parte da programação do festival. Ingressos podem ser adquiridos por meio do site oficial do Porão do Rock, a partir de R$ 150.