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Como Victor Sparapane se tornou o bilionário mais falado do Brasil

Cria da "Malhação", o ator de 33 anos, estrela "A vida secreta do meu marido bilionário", produção de 68 episódios em formato vertical que viralizou com mais de 320 milhões de visualizações e bateu recordes na plataforma ReelShort. Confira entrevista

Victor Sparapane, ator -  (crédito: VoxAthena)
Victor Sparapane, ator - (crédito: VoxAthena)

De entregar flyers em festas aos 13 anos a protagonizar a série brasileira mais assistida da plataforma ReelShort, Victor Sparapane, 33 anos, vive um momento de virada na carreira. Revelado como o irreverente Fera em Malhação (2012), o ator acumulou passagens por novelas da Record, como Jesus e Gênesis, e pela Netflix, na série Cidade invisível (2021). Agora, estrela A vida secreta do meu marido bilionário, produção de 68 episódios em formato vertical que viralizou com mais de 320 milhões de visualizações e bateu recordes na plataforma.

O santista reflete sobre os 11 anos que separam seu debut em Malhação e o protagonismo no fenômeno
— única produção em português entre as 10 mais assistidas da plataforma ReelShort. Suas palavras revelam a dura realidade do ofício: "Nesse meio, onde tudo gira tão rápido e é tão incerto, o que mais pesa é a falta de garantias. Você pode estar indo bem, entregando tudo, e mesmo assim não saber se vai trabalhar no mês seguinte." O ator compara a carreira a um esporte de alto risco: "É como estar aquecido no banco, sem saber se vai entrar no jogo. Mas ainda assim, estar com chuteira amarrada, mental focada e coração firme", compara.

Sobre as relações que sustentam sua trajetória, ele é categórico: "Às vezes a gente abre mão de conforto para viver disso. E é nesse processo que a gente encontra uma nova família — gente que vibra na mesma frequência".

Victor Sparapane e Jéssika Alves protagonizam A Vida Secreta do Meu Marido Bilionário
Victor Sparapane e Jéssika Alves protagonizam A Vida Secreta do Meu Marido Bilionário (foto: Divulgação)

Algo do Batman

Para construir Sebastião Torres — o bilionário traumatizado que arrasa nas redes —, Sparapane revela um processo criativo híbrido entre tecnologia e intuição: "Eu entendi rápido: ele carregava algo do Batman. Um cara bilionário, misterioso, cheio de feridas mal cicatrizadas, tentando criar justiça em um mundo que machuca", defende. Na trama, os caminhos de Sebastião e Nathália Queiroz (Jéssika Alves) se cruzam quando ela aceita se casar com ele para salvar a vida da mãe, que precisa de um tratamento urgente. 

Com o tempo escasso (gravava outra produção simultaneamente), o ator inovou. "Usei o GPT como ferramenta de criação. Eu mesmo fui entrevistando a inteligência artificial com base no roteiro. Ela me devolveu perguntas que me ajudaram a aprofundar o personagem em tempo real", admite Victor. O resultado? Uma fusão de técnicas. "Foi um processo intuitivo, mas pragmático. Representa bem como eu funciono hoje: entre o instinto e a estratégia, entre o lúdico e o objetivo", pontua ele, que também protagonizou um clipe da cantora Anitta, em 2016.

Sparapane desvenda as camadas emocionais de seu personagem mais viral. "Ele tem tudo pra ser o vilão, mas não é. É um cara que já tinha perdido a esperança de ser amado de verdade — e mesmo assim, nunca perdeu o olhar atento." E confessa o que aprendeu com o bilionário. "O Sebastião me lembrou que nem sempre a casca diz quem a pessoa é. Ele aprendeu a se defender, mas não deixou de sentir. Ainda dá pra confiar. Ainda dá pra amar", defende.

Arte e algoritmo

Sobre o recorde da série no ReelShort, o ator mostra visão estratégica. "Desde que recebi a proposta, entendi que existia ali um projeto com grande poder de distribuição. Muitas vezes. a gente faz trabalhos incríveis, mas o alcance é limitado", destaca ele, que define o momento atual da indústria: "Esse projeto marca o começo de um ciclo onde a arte e o algoritmo se encontram."

O posicionamento de Sparapane é claro em relação ao desafio de manter relevância nas redes. "Já senti essa pressão de ter que aparecer o tempo todo. Hoje entendo que visibilidade não precisa ser invasiva. O que me ajuda é saber que o que compartilho tem uma intenção. Uma curadoria", defende.

Inspirado por Fellini e Scorsese, Sparapane revela ambições autoral: "Tudo o que eu vivo hoje é uma forja do que ainda vou construir. Seja nas escolhas certas ou nos tropeços, cada momento tá me moldando pra esse lugar." E finaliza com um manifesto geracional: "A arte que eu busco hoje é aquela que aponta uma direção — 'Que eu carregue comigo o silêncio dos sábios e o grito daqueles que ainda tem algo a dizer.'"

Entrevista | Victor Sparapane

Quais foram os principais desafios e aprendizados desde a sua estreia?

Acho que o maior desafio é continuar. E continuar com verdade. Porque nesse meio, onde tudo gira tão rápido e é tão incerto, o que mais pesa é a falta de garantias. Você pode estar indo bem, entregando tudo, e mesmo assim não saber se vai trabalhar no mês seguinte. Aprendi que, para continuar, você precisa se manter pronto — mesmo sem saber se vai ter a chance de mostrar o que preparou. É como estar aquecido no banco, sem saber se vai entrar no jogo. Mas ainda assim, estar com chuteira amarrada, mente focada e coração firme. Outra coisa que levo como aprendizado são as pessoas. Quem cruza meu caminho nos projetos. Às vezes, a gente se afasta da família, muda de cidade, abre mão de conforto para viver disso. E é nesse processo que a gente encontra uma nova família — gente que vibra na mesma frequência, que compartilha propósito. Seja em Malhação, Cidade Invisível, Reis ou A vida secreta, sempre levei comigo pessoas incríveis. São essas relações que me lembram por que vale a pena. Também aprendi que o mercado, às vezes, enxerga a gente por métricas. Você vira um "Big Name" quando tem visibilidade, mas isso não necessariamente vem no mesmo tempo em que você está no seu auge artístico. E aí entra um dilema: você tem que estar pronto, mesmo sem saber se o mercado vai te enxergar como tal. A verdade é que o jogo é assim. Você precisa ter fé e movimento. Fé no que não se vê, e movimento para, quando a oportunidade aparecer, você já estar lá.

Quando um personagem como o Sebastião chega até você, por onde começa a construção: pelo texto, pela fisicalidade ou por algum lugar interno?

Eu costumo começar pela escuta. Leio o texto, entendo a trama, e já começo a captar intuitivamente que tipo de arquétipo está ali dentro. E, às vezes, nem é um personagem clássico — é um fantasma meu, uma lembrança da infância, um personagem que me formou. No caso do Sebastião, eu entendi rápido: ele carregava algo do Batman. Um cara bilionário, misterioso, cheio de feridas mal cicatrizadas, tentando criar justiça num mundo que machuca. Como eu estava gravando outro projeto ao mesmo tempo, não tive muito espaço para fazer aquele mergulho tradicional, de sentar, decupar e estudar semanas. Então usei o GPT como ferramenta de criação. Eu mesmo fui entrevistando a inteligência artificial com base no roteiro. E aí, numa troca, ela começou a me devolver perguntas que me ajudavam a aprofundar o personagem em tempo real. Isso me deu velocidade, mas também uma profundidade que talvez eu não tivesse alcançado sozinho, com pouco tempo de preparação. Foi um processo intuitivo, mas também muito pragmático. E acho que isso representa bem como eu funciono hoje: entre o instinto e a estratégia, entre o lúdico e o objetivo.

A produção viralizou e ultrapassou 280 milhões de visualizações (dados atualizados: bateu o recorde da plataforma, é o produto top 1 mundial com mais de 320 milhões de visualizações). Em algum momento, você imaginou estar no centro de um fenômeno digital?

Sim. Em algum lugar, eu sabia que isso podia acontecer. Eu sempre procurei uma vitrine, um espaço que realmente conectasse com o público. Porque eu sabia que isso poderia abrir portas para projetos maiores, com gente que eu admiro, com diretores e criadores que me inspiram. Se eu apareço, me destaco, entrego — eu também passo a ser visto como alguém que pode carregar uma marca, um personagem, uma história. Desde que recebi a proposta, entendi que existia ali um projeto com grande poder de distribuição e divulgação. Isso me interessou. Porque muitas vezes a gente faz trabalhos incríveis, mas o alcance é limitado. Com A vida secreta..., eu sabia que o projeto conversava direto com o público das redes, com quem consome conteúdo como parte do cotidiano — e que, muitas vezes, nem chega a assistir novela tradicional. Então, mais do que estar no centro de um fenômeno, acho que esse projeto marca o começo de um novo ciclo. Um ciclo onde a arte e o algoritmo se encontram.


O formato vertical, pensado especialmente para celular, tem provocado mudanças na maneira de atuar? Há ajustes técnicos ou emocionais para essa nova linguagem?

A maior mudança não está no formato em si, mas na velocidade de produção. É quase sem tempo para errar ou chegar na excelência. Você entra em cena já sabendo que talvez só tenha uma ou duas chances pra chegar no que a história pede. E, se não chegou no melhor, ainda assim precisa seguir. Isso exige uma precisão emocional e técnica muito maior do que nos formatos tradicionais. E um desapego também. O mercado brasileiro já grava rápido. Mas no formato vertical, voltado para *mobile*, tudo precisa acontecer ainda mais rápido — e ainda assim funcionar. Acho que, apesar da pressão, isso gera movimento. Aquecimento da indústria e do mercado do audiovisual. E estar nesse meio, representando o Brasil nesse novo modelo, ao lado de gente talentosa como a Jéssika (Alves) e todo nosso time é uma alegria.

Como você lida com o engajamento nas redes sociais? Existe uma pressão por estar constantemente visível?

Existe, sim. Mas hoje eu tento olhar com mais estratégia do que cobrança. Já senti essa pressão de ter que aparecer o tempo todo, de mostrar tudo. Hoje eu entendo que presença é diferente de exposição. Que visibilidade não precisa ser invasiva. As redes são ferramentas. E como toda ferramenta, elas podem construir ou destruir. O que me ajuda é saber que o que eu compartilho tem uma intenção. Uma curadoria. Se estou postando, é porque tem algo ali que faz sentido com quem eu sou ou com o que eu quero construir. É sobre conexão real.

O Sebastião é sedutor, misterioso e cheio de cicatrizes emocionais. O que mais te atraiu nele?

A complexidade dele. Ele tem tudo pra ser o vilão, o canalha, o frio. Mas não é. Ele é um cara que já tinha perdido a esperança de ser amado de verdade — e mesmo assim, nunca perdeu o olhar atento. Ele enxerga os detalhes. Ele observa o gesto antes da palavra. Acho que o que mais me atraiu foi esse paradoxo: ele se protege com a frieza, mas continua procurando sinais de afeto. E no meio disso tudo aparece a Natália (Jéssika Alves), que quebra a lógica e desafia o jogo. E que obriga ele a baixar a guarda. E, ali, entre a dor e a entrega, ele vai reencontrando uma parte dele que ele já nem lembrava mais.

Há algo que você aprendeu com ele e que leva consigo agora?

Com certeza. Acho que o Sebastião me lembrou que nem sempre a casca diz quem a pessoa é. Ele tem um traquejo social enorme, mas também tem uma sensibilidade que poucos percebem. Ele aprendeu a se defender, mas não deixou de sentir. E isso me tocou. Porque às vezes a gente também se blinda, também se protege, e vai perdendo a capacidade de ser tocado. O Sebastião me lembrou que o amor mora nos detalhes. E que, mesmo ferido, ainda dá pra confiar. Ainda dá pra amar.

Você falou sobre escrever, dirigir, produzir. Já tem algo em desenvolvimento nesse sentido?

Já faço isso, de certa forma, nas redes. Cada conteúdo que coloco no ar tem uma direção, uma curadoria, um cuidado. É ali que exercito minha autonomia criativa, que testo formatos, que conto histórias do meu jeito. Claro que meu sonho é escalar isso. Ter um time ainda mais afiado, mais alinhado, que possa me acompanhar em projetos maiores. Criar uma comunidade, um ecossistema de criação onde meus sonhos se tornem realidade — e os sonhos de quem vem comigo também. Essa busca por realização criativa — talvez seja meu *ikigai*, meu motivo pra levantar todo dia.

O que seria uma “narrativa que importa” para você hoje? Como é, para você, conciliar ambição artística com propósito?

Narrativa que importa é a que te atravessa. Que te vira do avesso e te faz pensar: “Isso aqui sou eu”. Pra mim, propósito e ambição andam juntos quando a entrega artística toca o outro. Quando não é só bonito, mas necessário. A arte que eu busco hoje é aquela que aponta uma direção — *“Que eu carregue comigo o silêncio dos sábios e o grito daqueles que ainda têm algo a dizer.”*

Como a paixão se manifesta na sua rotina como ator e na forma como escolhe seus personagens? Fellini, Visconti, Scorsese, Coppola… Como essas referências se traduzem no seu trabalho como ator?

É difícil falar em paixão quando a rotina vira ofício. Acho que o romantismo deu lugar ao compromisso. O amor pela profissão já virou estrutura, disciplina, clareza. Mas isso não significa que perdeu o brilho. Significa que amadureceu. Esses mestres do cinema — Fellini, Scorsese, Coppola — sempre me inspiraram porque contavam histórias com alma. Família, máfia, moral, culpa, redenção. É o tipo de universo que eu adoro assistir e, mais ainda, viver enquanto ator.

Você se vê, um dia, dirigindo e roteirizando projetos inspirados nesse cinema mais clássico e intenso?

Com certeza. Tudo o que eu vivo hoje é uma forja do que ainda vou construir. Seja nas escolhas certas ou nos tropeços, cada momento tá me moldando pra esse lugar. Não sei se vou fazer algo clássico no sentido estético, mas sei que será intenso. Profundo. E, espero que, quando esse momento chegar, eu tenha ao meu lado um time que sonha junto. Porque, no fim das contas, fazer cinema é isso: transformar o invisível em memória coletiva.

 

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postado em 29/06/2025 08:00
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