SÃO JOÃO

Os grupos de forró que agitam as festas juninas (e como eles sobrevivem no resto do ano)

A Associação dos Forrozeiros do Distrito Federal (Asforró-DF) tem uma série de projetos para tentar contornar a falta de atividades relacionadas ao forró durante a maior parte do ano

O telefone de Chárliton Sousa, sanfoneiro e vocalista do Trio Xilique, banda de forró do Distrito Federal, começa a tocar no final de abril: é a preparação para a temporada de festas juninas na capital federal. O trio faz cerca de 15 shows em junho, e, às vezes, até três no mesmo dia. A frequência começa a cair em julho, e nem sempre é possível fechar todos os finais de semana do mês.

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Essa é a realidade de outras bandas de forró do DF. A dupla Bacurau Arretado chega a 25 shows em junho; o Trio Balançado, a 15 em junho e, outros, a 15 em julho; o Forró Cobogó tem média de oito shows no mês; e o Trio Siridó, até 20, no auge da temporada junina.

No repertório básico, não podem faltar nomes clássicos, como Luiz Gonzaga, Alceu Valença e Dominguinhos. "Deixamos um repertório, digamos, mais comercial, em que pessoas que não têm tanto apego pelo forró pé de serra vão conhecer essas músicas, porque são as que fazem sucesso sempre", conta Vavá Gomes, sanfoneiro do Trio Balançado. "Então, nós mudamos nosso repertório para tocar canções mais conhecidas, sempre voltadas para músicas que combinam com a festa de São João."

"A gente acaba misturando um pouquinho do piseiro, um pouquinho dos forrós atuais, forró eletrônico, sertanejo", diz Thiago Querosene, do Bacurau Arretado. Mas sem abandonar a tradição: "Sempre tem grandes artistas que são muito bem representados, que não podem faltar em qualquer tipo de evento."

A temporada junina é repleta de histórias marcantes. Gomes, do Trio Balançado, recorda uma das primeiras festas juninas em que tocou, um evento para idosos realizado em uma paróquia. "Foi uma energia ótima, porque fazia tempo que eles não escutavam essas músicas de são-joão, que fizeram parte da história deles. Eles estavam muito felizes. Nós organizamos uma quadrilha improvisada com eles e eu acho que foi, para mim, um dos primeiros shows em uma festa junina que teve uma energia tão bacana."

Resto do ano

Durante o restante do ano, a frequência de shows cai drasticamente, é o que revela o sanfoneiro do Trio Balançado. "Nos meses de janeiro ou setembro, por exemplo, fazemos em média seis shows por mês, o que é menos da metade do que fazemos na temporada de festa junina."

Os músicos revelam a presença de algumas festas de forró recorrentes fora da temporada de pico, como a Xinelada e o Forró do Ispilicute. Além disso, eles tocam em eventos privados, como aniversários e confraternizações. As bandas ainda relatam que, pela escassez de eventos nessa época do ano, os shows são realizados em locais diversos. Algumas bandas tocam em Regiões Administrativas, como Ceilândia e Taguatinga, enquanto outras vão até Goiânia, Pirenópolis e Chapada dos Veadeiros. 

No entanto, esses eventos isolados não são suficientes para que os integrantes das bandas consigam viver só da música. Sendo assim, a banda Bacurau Arretado é composta por um biólogo e um advogado; o Trio Xilique, por um agente de portaria, um motorista de aplicativo e um funcionário de mercado; o Trio Balançado, por um professor, um motorista de aplicativo e um funcionário de uma empresa de carros; e o Forró Cobogó, por três professores e um músico de choro.

E o futuro do forró?

A Associação dos Forrozeiros do Distrito Federal (Asforró-DF), criada em 1994, tem uma série de projetos para tentar contornar a falta de atividades relacionadas ao forró durante a maior parte do ano.

Alguns deles são o Itinerância Forrozeira, com apresentações nas feiras do Distrito Federal, em colégios e em lares de idosos; e os Centros de Convivência do Idoso, com trios de forró fazendo animação. A principal iniciativa da Asforró fora da temporada das festas juninas é o Sábado de Forró, realizado na Casa do Cantador. A Associação também promove todos os anos a Forrozada de Natal, com 13 dias de forró em restaurantes comunitários para celebrar o aniversário de Luiz Gonzaga e o Dia Nacional do Forró — em 13 de dezembro — em clima natalino

Um dos participantes dos projetos da Asforró é o Trio Xilique. Durante a época de pandemia, o grupo tocava em cima de um caminhão providenciado pela Associação, passando pelas ruas para que o público pudesse ouvir de casa. O trio também participou da comemoração de Natal. "Deu para nós nos mantermos, mas passamos um perrengue. A época da pandemia foi bem complicada", diz Chárliston Sousa, integrante da banda.

A Asforró tem também projetos permanentes de formação de músicos e público. O professor Carlinhos Barbosa dá aulas de acordeon, sanfona e zabumba, e é cobrada uma taxa simbólica dos alunos. Os interessados podem entrar em contato com a Associação, responsável pela matrícula.

Marques Célio, presidente da Asforró, conta que os maiores objetivos da organização são lutar pelo reconhecimento do forró como patrimônio cultural imaterial do povo brasileiro e gênero cultural nordestino de expressão nacional. "Sempre apresentando propostas, projetos e parcerias com quem quer realmente ver a nossa cultura com a sua chama iluminada."

*Estagiárias sob supervisão de Severino Francisco

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