
Aos 25 anos, Lorena Lima coleciona feitos raros: vencedora do Prêmio FITA 2024 de Melhor Atriz Coadjuvante por Brás Cubas, indicada como Jovem Talento no APTR e, agora, estreante no elenco fixo de Vale tudo, novela das 21h da TV Globo. Na trama, ela vive Laís, uma mulher "solar" — como define —, apaixonada por esportes aquáticos e parte de um casal lésbico feliz e normalizado que administra uma pousada sustentável em Paraty ao lado de Cecília (Maeve Jinkings).
A personagem marca uma virada na carreira da atriz, que na última novela, Vai na fé, interpretou Grazi, uma das inúmeras vítimas de abuso sexual do vilão Théo (Emilio Dantas). "Laís me permite explorar a alegria plena. Ela sorri largo, luta pela família que quer construir e, acima de tudo, vive um amor leve e digno", conta Lorena ao Correio.
Formada pela Unirio e integrante da Armazém Companhia de Teatro, Lorena traz no currículo a resistência do palco — onde atua desde os 7 anos — e a versatilidade de quem também dirige e canta. Mesmo com a agenda tomada pelas gravações, mantém viva a paixão pelo teatro: "Estou envolvida em Dias felizes, de Beckett. A Companhia é minha raiz", revela.
O salto para a televisão, porém, veio carregado de simbolismo. "É uma responsabilidade linda. Saber que casais LGBTQIAPN vão se ver na tela, felizes e realizados, me emociona", observa. Na primeira versão, o casal foi descontinuado com a morte de Cecília que, nesta releitura, sobreviveu — "retratação histórica", como a atriz bem define. E o retorno do público, segundo ela, tem sido surpreendente: "As pessoas me param na rua para agradecer. É a prova de que a representação importa".
Questionada sobre o momento atual da carreira, Lorena é taxativa: "Nunca pensei: 'Cheguei'. Quero mais". E deixa um recado: "Meu trabalho é sobre comunicação. Se Laís levar luz a alguém, cumpri meu papel".
Entrevista//Lorena Lima
Você vem de uma trajetória sólida no teatro e acaba de estrear como parte do elenco fixo de uma novela das 21h. O que representa, para você, essa nova fase da carreira?
Como artista, o meu maior desejo é me comunicar. Poder experimentar isso na amplitude que a televisão proporciona, conversando com tanta gente, tem sido uma experiência incrível.
Você conquistou o Prêmio FITA 2024 e foi indicada ao APTR como Jovem Talento. Como essas conquistas impactaram sua confiança e visão de futuro como artista?
Sem dúvida, saber que o nosso trabalho é bem-visto e reconhecido é um ótimo combustível para continuar. Esses prêmios vieram com Brás Cubas, o que potencializou a alegria. Foi um trabalho de muita pesquisa, muita intensidade e com uma das companhias de teatro mais antigas com trabalho ininterrupto no Rio de Janeiro. Estar nesses prêmios junto com a Armazém foi uma honra enorme.
Da Grazi, de Vai na fé, uma personagem marcada pela dor, a Laís em Vale tudo, uma mulher feliz, casada e cheia de vida. Como foi essa transição emocional entre dois papéis tão diferentes?
Como atriz, uma das coisas mais interessantes para mim é poder entrar por todas as frestas possíveis e experimentar o novo. É muito bom poder ir nos trópicos, visitar lugares diferentes e se deleitar de cada um deles.
A relação entre Laís e Cecília traz para o horário nobre um casal lésbico feliz, empreendedor e que adota uma criança. Qual a importância de retratar esse tipo de família na tevê aberta?
Sabemos o histórico de casais homoafetivos retratados na tevê. Poder mostrar um casal feliz e bem-sucedido é uma retratação histórica, uma tentativa de contar nossas histórias de uma forma honesta e digna dos nossos amores.
Como você lida com essa responsabilidade de representar e, ao mesmo tempo, provocar reflexão? Que tipo de retorno você tem recebido do público sobre a personagem?
O retorno tem sido o melhor possível. Inclusive, surpreendente. Antes de começar a novela, por saber o contexto da nossa sociedade, imaginei que poderiam ter comentários difíceis, mas só tenho recebido amor. As pessoas me param na rua falando sobre o quão felizes ficam em se ver na tela, com suas histórias sendo contadas. Isso é um baita combustível. Porque, para mim, um dos nossos trabalhos enquanto ator e atriz é comunicar. A gente está ali para contar uma história. E o espelho de que isso está acontecendo de uma forma efetiva é a resposta do público. Então, quando alguém encontra na rua e que acha lindo a gente representar um casal de mulheres na tevê, isso é de uma força muito grande para mim. E é uma resposta de que eu estou conseguindo traçar o meu objetivo, que é a troca com quem está assistindo.
Mesmo envolvida nas gravações da novela, você segue criando e colaborando com a Armazém Companhia de Teatro. Como equilibra as demandas do teatro e da televisão? Dias felizes, de Beckett, é um texto denso e poético. Como tem sido essa imersão artística em paralelo com o trabalho na novela?
O teatro me nutre em um lugar diferente da tevê, então poder associar os dois trabalhos foi uma catarse. Tinha o melhor dos mundos (risos). E, potencializando isso, tinha o fato de ser um trabalho de companhia, o que carrega uma outra camada, já que conseguimos aprofundar a investigação de algo que desejamos com ainda mais tempo e mais intimidade entre nós.
Quais lembranças você guarda da menina que descobriu a arte ainda na escola?
Da brincadeira, de quem não tinha muitas pretensões. Inclusive, é o que tento levar para o meu trabalho até hoje. Naturalmente, eu sempre me vejo em um lugar de perfeccionismo muito grande, mas sempre lembro da importância da brincadeira, do jogo, do inesperado. Sinto que, enquanto atriz, isso é essencial: estar aberto.
Olhando para sua trajetória até agora, qual foi o momento em que você pensou: "É isto: estou onde eu queria estar"?
Isso nunca passou pela minha cabeça. Ainda quero conquistar muitas coisas, fazer muitas pontes, ter muitos bons encontros.
Diversão e Arte
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