Artes visuais

Exposição reúne obras raras e inéditas para celebrar memória do Francisco Galeno

Exposição em homenagem a Francisco Galeno reúne 27 obras de 11 coleções particulares de Brasília

Capela 1, 2014, Objeto, 53 x 25 x 19 cm - Coleção Moraes e Oliveira - 1 -  (crédito: Francisco Galeno)
Capela 1, 2014, Objeto, 53 x 25 x 19 cm - Coleção Moraes e Oliveira - 1 - (crédito: Francisco Galeno)

Quando começou a imaginar uma exposição que pudesse homenagear o artista Francisco Galeno, morto em junho deste ano, a galerista Onice Moraes se deparou com uma curiosidade que também era uma demonstração de afeto e orgulho: os colecionadores costumam usar a expressão Meu Galeno para falar das obras do artista em seus acervos. Foi, então, inevitável dar o título de Meu Galeno à exposição em cartaz na Referência Galeria de Arte. "Todas as pessoas que possuem algum trabalho do artista se referem a ele como 'meu Galeno': 'meu Galeno é vermelho', 'meu Galeno é antigo', 'meu Galeno é tamanho padrão'", conta Onice.

A galerista reuniu 27 obras de diferentes períodos, técnicas e suportes, pertencentes a 11 colecionadores, todos de Brasília, para montar a exposição, organizada de última hora e encaixada na agenda da galeria, que já estava fechada até o fim do ano. "A ideia da exposição surgiu porque sentimos a necessidade de começar o trabalho de manter a memória do artista sempre viva e presente no meio cultural e nas diversas camadas de Brasília e do Brasil, tendo em vista o seu falecimento recente e a importância de sua obra para a arte brasileira", explica Onice, que ficou surpresa com a receptividade e a disponibilidade por parte dos colecionadores para emprestarem as obras.

São trabalhos das mais variadas épocas e que carregam um certo grau de ineditismo, já que nunca foram vistos pelo público. "Há algumas obras mais antigas, da década de 1980, que considero mais preciosas. Uma com forma de pipa, que ele sempre gostou de fazer, e uma com forma de igreja, ambas com a figura de insetos, que há algum tempo não víamos mais na sua produção", conta Onice.

Entre as preciosidades garimpadas pela galerista está um conjunto de obras pertencentes a Lucas  Galeno, um dos seis filhos do artista. São pinturas, principalmente, da década de 1970 e 1980, período em que o artista ainda se apropriava de uma maneira mais figurativa de certos signos como os insetos, as lamparinas e as pipas, que nunca desapareceram de seus trabalhos, mas que ganharam contornos mais abstratos ao longo dos anos. "Os trabalhos mais atuais têm uma marca registrada, mas esses (dos anos 1970 e 1980) são mais livres, com mais detalhes. Ele falava que hoje não tinha capacidade de pintar um quadro daquele com tanto detalhe. O artista vai evoluindo, deixando mais crua a pintura", explica Lucas.

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Entre as obras mais antigas há também algumas pinturas cujas estruturas de madeira foram feitas pelo pai de Galeno, uma inspiração sempre citada pelo artista. "São trabalhos de madeira que meu avô fazia para ele, de uma época de transição, em que ele estava ascendendo na carreira. Esses trabalhos ficaram na casa da minha mãe, em Brazlândia", diz Lucas, que cresceu cercado pelo imaginário criado pelo pai e, agora, quer manter o acervo unido para criar um instituto com a intenção de preservar a obra de Galeno. "Temos bastante trabalhos, temos mais experimentos que ele já não usava mais, como quadros da época do regime militar, das medalhas. E tem um bem bacana que é uma pipa com umas moscas e outro no formato de uma igreja com uma baratinha. E ele sempre falava 'esses não deixa ir, são seus'. São de 1986, foi exposto na época e saiu de casa agora pela primeira vez." Entre os que Galeno mais gostava dessa fase inicial está uma pintura em madeira, sobre estrutura retangular, que retrata a vista da casa do avô de Lucas.

O jornalista e empresário Klécio Santos comprou a primeira obra de Galeno há cerca de cinco anos. A pintura foi, também, a primeira da coleção. Hoje, ele tem no acervo seis obras do artista. "Gosto da originalidade dele, principalmente do lance que ele faz com a madeira, como ele trata. Uma das obras de que gosto mais são uns arames com prendedores: acho lindo a simplicidade, a originalidade e o trato com a madeira, até a moldura ele cria. Ele tem toda a originalidade dos artistas contemporâneos", explica o colecionador. 

Para Santos, o artista também é um símbolo de Brasília, apesar da origem piauiense. Francisco Galeno nasceu em Parnaíba, no Piauí, em 1957. Em 1965, ele veio para Brasília para morar com o pai, que era marceneiro e trabalhou na construção da capital federal, em um acampamento e, quatro anos depois, foram morar em Brazlândia, onde o artista passou boa parte da vida e construiu a casa-ateliê conhecida como um ponto vivo da cultura da cidade. A matéria prima de Galeno sempre foi o universo popular e a criatividade dos artesãos brasileiros, especialmente os da região de Parnaíba. 

Lamparinas, carretéis, carrinhos de brinquedo, pipas empinadas na rua, todos esses elementos apareciam de forma mais figurativa ou mais abstrata em suas produções. A maneira como o artista percorreu esse universo ganha vida na exposição graças à representatividade com obras  de diversas épocas. E a disposição dos colecionadores em ceder as obras é também fruto da maneira como o artista se relacionava com o público e com a própria produção. "Galeno gostava de falar de seu trabalho para os colecionadores, contar suas histórias com a família, a influência da mãe, do pai e do avô sobre a sua obra.  Como ele costumava dizer, não entra um prego em sua obra que não venha carregado de memória e afeto", lembra Onice Moraes.

Meu Galeno

Exposição de obras de Francisco Galeno. Visitação até 13 de setembro, de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 15h, na Referência Galeria de Arte
( CLN 202 Bloco B Loja 11 Subsolo)

 

  • Obra de 1989, do acervo de Lucas Galeno
    Obra de 1989, do acervo de Lucas Galeno Foto: Francisco Galeno
  • New York, óleo sobre madeira da Coleção Lêda Oliveira
    New York, óleo sobre madeira da Coleção Lêda Oliveira Foto: Francisco Galeno
  • Francisco Galeno, Sem título, óleo sobre madeira, 49 x 120 cm, 1983 Coleção Lucas Galeno - Foto Kim Rafael
    Francisco Galeno, Sem título, óleo sobre madeira, 49 x 120 cm, 1983 Coleção Lucas Galeno - Foto Kim Rafael Foto: Francisco Galeno
  • Obra sem título, da Coleção Clara Becker
    Obra sem título, da Coleção Clara Becker Foto: Francisco Galeno
  • Francisco Galeno, Sem título, óleo sobre madeira, 130 x 95 cm, 1987 - Fotos Kim Rafael
    Francisco Galeno, Sem título, óleo sobre madeira, 130 x 95 cm, 1987 - Fotos Kim Rafael Foto: Francisco Galeno
  • Francisco Galeno - Q Suco, 1990, óleo sobre madeira, 110 x 80 cm - Coleção particular
    Francisco Galeno - Q Suco, 1990, óleo sobre madeira, 110 x 80 cm - Coleção particular Foto: Francisco Galeno
  • Francisco Galeno - La barca, sd, OSM, 110 x 80 cm - Coleção Philipe Rossi
    Francisco Galeno - La barca, sd, OSM, 110 x 80 cm - Coleção Philipe Rossi Foto: Francisco Galeno
  • Francisco Galeno - Rosilda, 2020, OSM, 77 x 52 cm - Coleção Klécio Santos
    Francisco Galeno - Rosilda, 2020, OSM, 77 x 52 cm - Coleção Klécio Santos Foto: Francisco Galeno
  • Capela, obra de 2020
    Capela, obra de 2020 Foto: Francisco Galeno
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postado em 13/08/2025 05:55
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