personalidade

"Não consigo fazer uma coisa só", afirma ex-Chiquitita Francis Helena Cozta

Artista que se recusa a ser definida por um único rótulo, Francis Helena Cozta prova que a verdadeira força criativa está na coragem de transitar entre todos os lugares. "O que me move é estar em lugares diferentes", diz

Francis Helena Cozta, atriz e realizadora -  (crédito: Felipe Quintini)
Francis Helena Cozta, atriz e realizadora - (crédito: Felipe Quintini)

Com uma trajetória que atravessa o teatro, a televisão, o cinema, a dança e, agora, a direção, Francis Helena Cozta é a personificação do artista multifacetado. Selecionada para o prestigiado Rio Web Fest com sua série autoral Carta para mim, a atriz e realizadora transformou um desabafo pessoal em uma jornada artística que culminou em um monólogo em turnê e revela uma profissional que encontra força justamente na sua versatilidade.

Aos 12 anos, já como Cris, uma das protagonistas do fenômeno Chiquititas, Francis não era novata. Com passagens por comerciais desde os 5 anos e pelo teatro desde os 10, ela já carregava uma bagagem incomum. "O teatro é a minha base da atuação. Ali eu aprendi o que era uma arte coletiva e entendi que o ator precisa conhecer um pouco de tudo", reflete. Essa base sólida, somada à sua formação como bailarina, deu-lhe a disciplina e a visão espacial que hoje aplica não só na interpretação, mas também na direção de seus projetos.

Sobre a novela, Francis comenta que o que foi mais especial foi poder unir a dança à atuação — além de ter morado na Argentina. "Eu tenho várias cenas de sapateado, coreografias e clipes que tinham muito a ver com meu universo do ballet. Foi uma experiência muito marcante por me permitir unir minhas artes, aprender outra cultura, estar em cena intensamente e exercitar muito. Como uma das protagonistas, eu tinha muitas cenas diárias, o que exigia estudo frenético e trouxe bagagem enorme", recorda, com afeto.

Transição natural 

Foi durante a pandemia, um período de introspecção forçada para muitos artistas, que Francis deu um passo crucial em sua carreira. Assediada por mensagens negativas nas redes sociais, ela transformou a dor em arte. "Escrevi um desabafo sobre minha carreira, minha vida. Achei que valeria a pena transformar isso em imagens", conta. Sozinha em seu apartamento, ela escreveu, atuou, criou cenários, figurinos e editou a websérie Carta para mim com seu próprio celular. O projeto, genuíno e visceral, foi selecionado para o Rio Web Fest e, de forma orgânica, evoluiu para o monólogo teatral homônimo. "Quis gritar para todo mundo que não sou perfeita. Não tem como ser perfeito passando pelo que um artista passa."

Se a atuação foi sua escola, a direção surgiu como um caminho natural. Francis credita essa transição à sua formação no ballet. "Comecei a coreografar muito nova e sempre tive a visão do todo. Sempre fui aquela colega que ajudava nas coreografias, que passava texto", explica. Para ela, dirigir é uma extensão desse trabalho coletivo. "O diretor é um elo que une tudo: figurino, luz, cenário, atores, produção. Eu gosto muito de ocupar esse lugar."

Sua experiência diante das câmeras e dos holofotes agora se transforma em ferramenta para conduzir outros artistas. "Consigo me colocar no lugar do ator. Sei o que é a insegurança, o cansaço, o medo. Então busco criar um ambiente seguro para que ele possa experimentar e errar."

Novos projetos

Em 2025, aos 40 anos, Francis Helena Cozta não para. Ela estará em frente às câmeras na websérie O que não falamos e nos filmes Voragem e Eu… Léo. No palco, está no musical Como é que se diz eu te amo, um tributo à Legião Urbana — banda que a marcou profundamente na adolescência —, e participa do espetáculo The Jury Experience Brazil.

No entanto, é atrás das câmeras e da mesa de direção que dois de seus projetos mais pessoais ganham vida. Ela dirige o curta-documentário Você. Idosos de Cerqueira e o espetáculo, que aborda o envelhecimento populacional com uma pergunta central: "como você quer envelhecer?". "É um tema urgente. Teremos cada vez mais idosos e menos jovens. Como queremos estar nessa sociedade?", provoca a diretora.

Paralelamente, assina a direção do espetáculo Eu, você, eles e a Chuck, uma comédia que explora o universo dos relacionamentos modernos. "É a história de dois homens que se conhecem em um aplicativo e marcam um primeiro encontro. A vida e o mundo ao redor interferem, tornando tudo uma grande loucura. É intimista, emocionante e engraçado."

Com uma formação que inclui publicidade, pós-graduação em jornalismo e certificação em cinema, Francis é um compêndio de referências. "Nós somos tudo o que consumimos. Eu não consigo fazer uma coisa só, o que me move é estar em lugares diferentes", afirma.

Olhando para trás, da criança atriz de Chiquititas à mulher diretora de hoje, o conselho que ela daria para sua versão mais jovem é um mantra de aceitação e coragem: "Só vai. Tudo passa. E a sua única certeza é que você não terá certezas. Abrace quem você é naquele determinado momento. Tenha coragem de mudar de ideia, mesmo que isso, aos olhos dos outros, seja estranho."

  • Google Discover Icon
postado em 17/09/2025 08:00
x