
Crítica // Corpo da paz ★★★
Junto com o envolvimento do jazz e a aura cintilante do cinema norte-americano (elementos encerrados no cego encantamento do personagem Gentil), a atmosfera de Corpo da paz ecoa, na fotografia, o brilho dourado de um período de implantação de incertezas no Brasil. Os castigos reservados aos "comunas", vistos como pecadores, aparecem embalados na eclosão do Ato Instituicional (AI-5), de ampla restrição. O ano de 1968, que abriga a ação do filme de Torquato Joel, molda-se decisivo para o menino Teobaldo (Giovanni Sousa), testemunha da bajulação em torno da figura de um estrangeiro (Greg, papel do convincente Vinicius Guedes) ciente do "muito a explorar" no Brasil.
Como num contínuo e dinâmico travelling, que encerra afresco do período de descobertas de Teobaldo, o filme propõe contato com Os três zuretas (1997), outro a mostrar um naïf rito de passagem. Num período destinado à formação de engenheiros, médicos e advogados, o irmão de Teobaldo, Lavôr, adota um percurso com quê diferenciado.
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A chamada subversão e o registro da puberdade caminham, na trama, lado a lado com a implantação de uma misteriosa plataforma para cooptar o Brasil para o sistema ianque. Num painel envolvente e breve, o diretor dá o recado, desfilando referências como a do desespero na tentativa de afilamento do nariz de Gentil, um tipo brasileiríssimo (interpretado por Alex Oliveira, perfeito) e no sufocamento moral de Aurora (Fabíola Morais), a católica mãe da trama. Cercado por rede solícita, e pouco amistoso, Greg avança para alinhavar a corrente de dúvidas dispostas no filme.
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