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Leia a crítica do longa Assalto à brasileira, de José Eduardo Belmonte

Uma louca corrida pelo roubo de cruzados, em meio à forte crise econômica nos anos 80, serve para o diretor José Eduardo Belmonte exercitar a veia cômica

 Assalto à brasileira: uma ação comunitária -  (crédito:  Galeria Films)
Assalto à brasileira: uma ação comunitária - (crédito: Galeria Films)

"Mostrar para o governo que quem manda somos nós (povo)": essa fala do personagem de Christian Malheiros (na pele de Moreno, um aspirante a criminoso), na comédia de José Eduardo Belmonte, demarca o grau de crise e de intensa solidariedade do Brasil dos anos 1980. Belmonte cerca a ação de um dos maiores assaltos a banco do país. "Isso é desespero", reforça um dos personagens, que desencoraja a ação criminosa. Na trama, que recria os bastidores da agitação em frente à agência do banco Banestado (situado em Londrina), os limites de nonsense são posto à prova.

Observações hilárias do roteiro de L.G. Bayão vão ao encontro do timing cômico, da perfeita caracterização do período (tanto na cenografia como na apresentação de perrengues de uma nação), das improvisadas metas dos assaltantes e da cumplicidade de anônimos na corrente humana de curiosos em volta do prédio que abriga a (por vezes) tensa ação dos despreparados criminosos. Um senso de cordialidade e de cooperação dá as caras no longa do mesmo realizador de Billi Pig, que encontra, agora, o tom da graça. Jogos de cintura dos envolvidos, a inexperiência dos assaltantes e um senso de solidariedade assentam dinâmica divertida na telona. Há naturalidade no elenco, composto por nomes empáticos junto ao público, como Murilo Benício, Robson Nunes e Paulo Miklos.

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A corrida por 30 milhões de cruzados, em que se registra ainda a tensão em torno do enorme grupo de reféns, desemboca em notas de preocupação e vaidade quando o lacrador William questiona um jornalista (que cobre o evento): "Se (a gente) morre, você coloca o nome (no jornal)?". O tom colaborativo e a convivência orgânica dos personagens instaura clima de confraternização e de polidez ("licença" e "desculpe" estão no inesperado vocabulário dos meliantes). O exasperado momento de crime acaba por se tipificar como um tempo de generosidade. Em comunhão com um desenho de som invejável, o uso de Sérgio Sampaio, Titãs e Ira! na trilha aumenta a potência de todo o conjunto.

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postado em 20/09/2025 08:42
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