Festival de Brasília

Morte e vida Madalena: crítica da comédia que abriu a Mostra Competitiva

Primeiro longa da Mostra Competitiva, a comédia Morte e vida Madalena plantou um clima ameno e discretamente divertido no Festival de Cinema de Brasília

Uma coroa de flores em velório, com a homenagem "pai por destino, um mestre na vida", traz o ponto de partida de Morte e vida Madalena, longa de Guto Parente. A protagonista é Madalena (Noá Bonoba, num tom de apatia), imersa em conflitos — apaziguados pelas memórias, como menina, ao mesmo tempo em que, como produtora de cinema, vê-se mobilizada para dar andamento a um filme do pai, morto.

O peso de um legado é atravessado pelos bastidores do dia a dia nas filmagens de uma produção ao estilo B (ficção científica impressa em preto e branco, aos moldes de um Ivan Cardoso). A sucessão de perrengues adentra a vida pessoal de Madalena, que vê, no oitavo mês de gravidez, até mesmo a sala de exames invadida por colega das artes. Com PhD "no ex-marido" Davi (Marcus Curvelo), que abandona o set de filmagens, Madá conta com a lealdade da assistente de direção Natasha (Nataly Rocha).

Junto com ameaça de greve e intervenções de sons (da vida real) que vazam como no caso do divertido número de forró, Madá — numa estranha conduta (justificada pelo desgaste do luto, talvez) — convida o espectador de Morte e vida a mergulhar numa real pasmaceira, sem tom exacerbado para as crises que se apresentam na batata quente em que se transforma o filme dentro do filme.

Descompromisso e pouca mobilização parecem se instalar na equipe do desgovernado longa ficcional, acentuando ares pacíficos e naïf do filme de Guto Parente em que alguns personagens, divertidamente, abraçam, sem muitas reservas, decisões demarcadas pela imposição da astrologia.

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Algumas situações, ao se "tocar o set", confirmam hilariedade. É o caso de quando, à revelia, a protagonista indica, para muitos colegas (um a um), serem a "única pessoa com capacidade para" completar a missão de concluir o filme dentro do filme. Com algumas piadas discretas (como a de sentido fálico, em que um policial ostenta "a preciosa, famosa" arma), o filme, apesar dos diálogos pouco aparados, ganha algo de vida, nas figuras de Gil (Honório Felix) e Oswaldo (Tavinho Teixeira, no papel do inexperiente diretor de ocasião). Oswaldo é bem aéreo na missão de concluir o filme. A vida imita a arte?


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