
Aos 24 anos, a menina que se tornou febre nacional, emprestando vida a figuras indeléveis como a espevitada Maria Joaquina, de Carrossel, navega agora as águas serenas de uma maturidade artística conquistada a cada cena. A história de Larissa Manoela é um musical de muitos atos: das tramas infantis que marcaram época no SBT até a estreia na TV Globo, em que interpretou irmãs em tempos distintos em Além da ilusão. Agora, ela retorna ao horário das seis, um lugar de afeto que, mais do que um novo capítulo, é um reencontro.
Em Êta mundo melhor, Larissa mergulha no Brasil dos anos 1950 para dar rosto e alma a uma profissional de saúde, uma mulher de força silenciosa em uma época de limites claros. A intérprete da enfermeira Estela, que se diz apaixonada pelo desafio de reviver épocas passadas, fala desse processo como uma viagem no tempo: uma busca minuciosa por gestos, palavras e posturas que evitem a caricatura e revelem a humanidade universal de sua personagem. "Novelas de época me desafiam", afirma ela, que, entre a trama das seis e as filmagens Traição entre amigas — décima primeira incursão no cinema —, equilibra universos distintos, encontrando na disciplina a chave para uma entrega genuína.
E é nessa entrega, guiada mais pelo frio na barriga do que por planos rígidos, que Larissa Manoela continua a se reinventar, sempre em busca da próxima história transformadora — sem perder a capacidade de sonhar. "Eu tenho uma lista enorme de sonhos", admite a jovem esposa do ator André Luiz Frambach.
Entrevista | Larissa Manoela
Você comemorou muito o retorno nas redes sociais, dizendo "o mundo vai ficar ainda melhor". O que significa para você, neste momento da sua carreira, voltar a uma novela das seis da Globo?
Voltar a uma novela das seis tem um sabor muito especial para mim. Esse é um horário que tem um carinho enorme do público e que traz histórias sempre muito envolventes. Eu estava com muita vontade de reencontrar esse público de forma tão próxima, no dia a dia, porque novela das seis tem isso: ela entra na rotina das pessoas, vira assunto de mesa de jantar. Quando escrevi "o mundo vai ficar ainda melhor", foi um pouco disso que quis dizer. É a gratidão de estar vivendo uma fase madura da carreira, podendo me desafiar com uma personagem incrível e, ao mesmo tempo, me reconectar com esse lugar de afeto que é a novela das seis.
A novela é uma sequência de Êta mundo bom, um grande sucesso. Há uma pressão diferente em fazer parte de um projeto com tantas expectativas do público que acompanhou a primeira história?
Não sei se chamaria de pressão, mas uma expectativa natural. Quando a gente começa algo assim, motivado por amor e com propósito, a gente espera e deseja as melhores coisas! Além disso, Êta mundo bom conquistou o público de uma maneira muito especial. Mas eu procuro transformar essa expectativa em combustível. Estar em um projeto que já nasce querido, com um universo que o público tem vontade de revisitar, é um privilégio. Ao mesmo tempo, essa nova história tem seu próprio ritmo, seus novos personagens, sua originalidade, e eu acho que é aí que mora a magia: no equilíbrio entre reverenciar o sucesso do passado e construir algo novo, que se sustenta por si só.
O que mais te fascina ou te desafia em atuar em um período histórico tão específico e cheio de particularidades como o das novelas de época?
Eu sou completamente apaixonada por novelas de época. Elas me desafiam porque exigem uma pesquisa muito detalhada, desde os costumes até o vocabulário, passando pela postura, a gestualidade. É como se eu precisasse me transportar para um tempo que não vivi, mas que preciso recriar de forma fiel e verdadeira. O fascinante é justamente poder dar vida a uma mulher que, apesar de estar em outra época, fala de sentimentos universais que continuam ressoando hoje. O maior desafio é não deixar que a personagem vire uma caricatura de época, mas, sim, uma pessoa real, com desejos, fragilidades e forças.
Você construiu uma carreira sólida no SBT antes de migrar para a Globo. Como avalia essa transição?
Eu tenho uma gratidão enorme pela minha trajetória. Foi no SBT onde tudo começou e pude viver personagens que me marcaram. A transição para a Globo foi um passo natural, mas fui recebida com muito carinho, tanto pela emissora quanto pelo público, e senti que as pessoas me acolheram de braços abertos. Acho que o público percebe a entrega e o amor pelo que faço, e é isso que cria essa ponte tão bonita entre nós.
Você também está com o filme Traição entre amigas. Como você lida com a demanda de projetos tão diferentes ao mesmo tempo?
É um presente poder viver projetos tão distintos simultaneamente, mas claro que exige muita organização e disciplina. A novela tem uma rotina intensa, diária, enquanto o cinema pede um mergulho concentrado em um período menor. Então eu procuro separar muito bem os universos na minha cabeça, para não misturar linguagens nem personagens. Ao mesmo tempo, sinto que um trabalho alimenta o outro: a agilidade e a entrega da televisão me ajudam no cinema, e a profundidade da câmera de cinema me dá novas ferramentas para a tevê. E ainda tem o teatro, teatro musical... Ali é também um espaço profundo de aprendizado e troca direta com o público.
Tendo experiência em ambos, o que você busca em um projeto para o cinema que é diferente da televisão, e vice-versa?
No cinema, o que mais me atrai é a possibilidade de explorar nuances, silêncios, pequenos gestos que dizem muito. É uma atuação quase microscópica, porque cada detalhe importa. Já a televisão tem essa grandiosidade de chegar todos os dias à casa de milhões de pessoas, de criar um vínculo imediato e forte. Na tevê, gosto da possibilidade de construir uma personagem ao longo do tempo, de acompanhar sua trajetória por meses. No cinema, é um mergulho mais curto, mas muito intenso. Então cada meio me completa de um jeito diferente.
Como você escolhe seus projetos hoje? Existe um "plano de carreira" ou você prioriza histórias e personagens que a desafiam?
Eu acredito em planejamento, sim, mas acho que a arte não é feita de fórmulas. Então, mais do que pensar em um "plano de carreira" rígido, eu priorizo projetos que me emocionem e que tenham algo a dizer. Gosto de olhar para uma personagem e pensar: "Essa história vai me transformar de alguma forma". Se eu sinto esse friozinho na barriga, sei que estou no caminho certo. Claro que também penso na diversidade de papéis, em não me repetir, mas o que me guia mesmo é a paixão pelo que aquela história pode gerar em mim e no público.
O que você espera que o público sinta e absorva ao acompanhar a jornada da sua personagem em Êta mundo melhor?
Espero que as pessoas se emocionem, que encontrem nela inspiração e também um espelho. Minha personagem fala muito sobre resiliência, sobre encontrar força mesmo nos momentos mais difíceis, e acho que essa é uma mensagem universal. Se cada espectador puder levar um pouquinho disso para a sua própria vida, já vou me sentir realizada. A novela é entretenimento, claro, mas também tem esse poder de tocar fundo, de fazer pensar, e é isso que eu desejo.
Existe algum outro gênero, formato ou tipo de personagem que você ainda sonha em interpretar e que ainda não teve a oportunidade?
Eu tenho uma lista enorme de sonhos (risos). Acho que o maior desejo de um ator é se reinventar sempre, e eu quero continuar experimentando, surpreendendo e me surpreendendo. Não sei se consigo apontar algo muito específico. Um deles é participar de um grande musical, unir interpretação com canto e dança em um mesmo trabalho. Também tenho muita vontade de explorar personagens mais sombrios, que me tirem totalmente da zona de conforto, como uma vilã mais complexa ou até um papel no suspense psicológico.
Diversão e Arte
Diversão e Arte
Diversão e Arte
Diversão e Arte