Literatura

Isis Valverde fala sobre as motivações para escrever segundo livro de poesia

Isis Valverde lança o segundo livro da carreira de escritora para falar sobre seus medos e anseios, buscando na literatura uma forma de viver a liberdade

Isis Valverde encontrou uma nova de se expressar na poesia -  (crédito: Hick Duarte)
Isis Valverde encontrou uma nova de se expressar na poesia - (crédito: Hick Duarte)

Carregar histórias não contadas, especialmente quando se pode verbalizá-las, parece um desperdício. Em vez de aprisionar, as palavras servem como uma ferramenta para dar vazão a sentimentos e experiências. Assim pensa Isis Valverde, 38 anos, que, mesmo com duas décadas de carreira na atuação, não deixa de lado o amor pela escrita. Lançado neste ano pela Citadel Grupo Editorial, o segundo livro da atriz, Vermelho Rubro, é descrito por ela como uma "obra que sangra".

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O manuscrito aborda temas como a luta da mãe contra o câncer, a infância em Minas Gerais e inúmeras reflexões sobre medos e anseios. "Acredito que dói muito não contar as histórias que estão em você. Ter dentro de si uma história não contada é dolorido demais", desabafa Isis. Nascida em uma família com forte veia literária — com uma avó poetisa e um tio autor de livros — a atriz cresceu imersa no universo da literatura. 

A escrita começou como um exercício solitário, pensado para ser um pouco diferente do que era atuar. Nesse ecossistema, descobriu uma liberdade para ser inteira com esses devaneios. Essa paixão manifestou-se na criação de seus livros, um processo que ela compara a um "sonho realizado". Para o prefácio da primeira obra, Camélias em mim: Memórias, inquietudes e inspirações poéticas (2019), a atriz ligou para o apresentador Pedro Bial, que prontamente aceitou o convite. 

Quanto ao novo lançamento, pediu uma espécie de validação para o roteirista Nelson Motta, por acreditar que ele entende desse universo como ninguém. "As palavras em si não capturam, libertam a gente. Tenho isso comigo desde muito pequena", diz, explicando que, ao colocar seus sentimentos no papel, sente-se mais leve e conectada com o outro. Ajudar o próximo a encontrar respostas e iluminar quem está lendo também faz parte desse propósito literário.

Uma conexão universal

E, de fato, ela tem feito dessa paixão um objeto compartilhado. Nas redes sociais, vídeos declamando poesia tomam conta de seu feed. Para além dos livros que lê, Isis ainda publica pensamentos que a invadem, sejam eles sobre dias bons ou ruins. O que importa, no final de tudo, é saber que alguém, em algum lugar, irá se identificar com aquilo que ela está externalizando. 

A ideia de recitar esses poemas surgiu em um momento de vulnerabilidade materna, no qual sentiu a necessidade de se conectar com algo que a confortasse. Na ocasião, sentiu-se mal consigo mesma por não poder corresponder a uma tarefa que envolvia o filho. No carro, ligou o celular e resolveu desabafar. Mal sabia a atriz que a confissão atingiria milhões de pessoas. "Só queria que alguém lesse aquele texto para mim. Era um momento ruim, só pensei em me expressar", revela.

Com isso, a repercussão mostrou o poder da linguagem em conectar e ser uma espécie de alento para os 29 milhões de seguidores que a acompanham. Isis acredita que esse trabalho de propagação é fundamental para continuar mantendo a chama da poesia viva nas pessoas. Afinal, é como ela descreve: a literatura está em todo lugar, todos os dias. 

Sem nenhum roteiro, maquiagem ou preparação, a atriz aperta o play e deixa os sentimentos se aproximarem. Fazer isso, na visão dela, é uma forma de colocar sob o holofote da luz os sentimentos importantes que, às vezes, passam despercebidos ou são ignorados. "Geralmente engolimos nossas dores com a rotina. A escrita vem para libertar", acrescenta.

A maturidade ancestral

Essa veia literária, que veio de uma herança familiar, também nasce de um amor especial. A profunda admiração por Clarice Lispector é uma ilustração clara disso. A atriz, inclusive, credita sua mudança de visão sobre a literatura à autora, da qual é fã desde a adolescência. "A liberdade clandestina que ela tinha, a humildade, a honestidade crua. É impossível não se apaixonar", conta.

A mesma falta de medo que busca no que escreve, Isis encontra nos livros de Clarice. Mas, para além da autora, cita Manoel de Barros, Carlos Drummond de Andrade, Chacal e Cora Coralina, como alguns dos nomes literários mais importantes da sua vida até aqui. Cem anos de solidão, do Gabriel García Márquez, não me mudou, me preencheu por inteira", ressalta. 

De maneira carinhosa, descreve o lado de escritora como uma segunda face. Enquanto se define como brincalhona e palhaça no dia a dia, destaca que a poesia a leva, todas as vezes, para um lugar de profundidade e seriedade, onde seu feminino ancestral se manifesta. "Essa dualidade é o que me impulsiona a escrever", completa. 

Isis, de fato, é muitas em uma só. Apesar do afeto pela literatura, é impossível fugir da atuação. Viver tantos personagens, poder se expressar de corpo inteiro, bem como chorar, rir, ter raiva. Todas essas sensações aparecem quando ela decide interpretar. "Esses meus dois caminhos falam das situações do cotidiano e da evolução do ser humano. Mas o que faço com a alma é ser atriz. É o que me trouxe aqui, humildemente. Não me vejo escritora, mas vivo a pele do que escrevo."

 


Outrora

Disparo, depois pergunto se machucou

Pois minha imaginação não tem estrada.

E eu não gosto

mesmo da estrada. Gosto do desvio e do desver.

Amor é tudo que eu tenho...

Não se esqueça de olhar as flores

Segure-as, delicadamente, na mão...

Respire, observe...

E vê?Você já não pode ser a mesma...

Atrevida

Hoje eu acordei atrevida.

Roubei das estrelas a luz

E enfeitei ainda mais o Sol.

Tirei da Lua a doce poesia

E misturei no azul do mar.

Pisei na areia leve

E como mágica

Vislumbrei nos translúcidos grãos

A menina linda que ainda brinca em meu coração.

  • Isis Valverde encontrou uma nova de se expressar na poesia
    Isis Valverde encontrou uma nova de se expressar na poesia Foto: Hick Duarte
  • A atriz Isis Valverde é apaixonada por literatura desde pequena
    A atriz Isis Valverde é apaixonada por literatura desde pequena Foto: Hick Duarte
  • Isis Valverde acredita que as palavras vêm para libertar
    Isis Valverde acredita que as palavras vêm para libertar Foto: Hick Duarte
  • Vermelho Rubro é o segundo livro de Isis Valverde
    Vermelho Rubro é o segundo livro de Isis Valverde Foto: Divulgação
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postado em 20/10/2025 06:00 / atualizado em 20/10/2025 10:48
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