Artes visuais

Arte Naif ganha espaço na Caixa Cultural com mostra internacional gratuita

Exposição na Caixa Cultural mostra panorama da arte naif brasileira com 96 obras de 20 estados e 15 países

Obra de Ivone Mendes recria a ciranda de Lia do itamaracá, em Recife -  (crédito: Divulgação)
Obra de Ivone Mendes recria a ciranda de Lia do itamaracá, em Recife - (crédito: Divulgação)

Bordados, aplicações e pinturas que a mãe fazia em panos de prato foram as primeiras técnicas artísticas que Adriano Dias conheceu. O paraibano da cidade de Guarabira, ao descobrir o estilo naif (do francês, ingênuo), se encantou pela simplicidade das formas e cores. "Para nós do interior, a arte era muito ligada ao renascimento, Mona Lisa, Rembrandt." Em 1987, com 19 anos e impregnado de novas ideias, ele realizou a primeira exposição, no interior da Paraíba. Nesta quarta-feira (8/10), o Festival Internacional de Arte Naif (Fian), idealizado por Adriano Dias, chega à Caixa Cultural de Brasília, com 96 obras de 20 estados brasileiros e de 15 países, que  permanecem em cartaz até 7 de dezembro.

Foi quando participou, na Polônia, de uma mostra de arte naif que Adriano Dias decidiu replicar a ideia no Brasil. "Lá na Europa, os artistas se juntavam e produziam eventos. Então, pensei: 'eles estão certos, não podemos esperar o poder público fazer por nós'", relembra Dias. Em 2017, ele começou a convidar expositores e, no ano seguinte, reuniu cem obras no primeiro Festival Internacional de Arte Naif, que ocorreu em Guarabira. A cidade marcada pelo cordel e por manifestações populares se tornou ponto de referência para esse estilo. 

Se no início o Fian era regionalizado, agora, na sexta edição, há o aumento do alcance. Para Dias, trazer a iniciativa para Brasília representa "um divisor de águas". "Além de ser uma exposição de obras de arte, essa é uma oportunidade para manifestar o grito de um grupo de artistas, de ocupar espaços que não ocupávamos. Temos esse papel hoje de manter a arte naif viva no Brasil", pontua. "Nós continuamos mantendo esse legado da Semana de Arte Moderna ao prezar pela liberdade formal de expressão", completa o idealizador do Fian.

Em primeiro plano

A homenageada da sexta edição do evento é Vera Marina, artista carioca radicada em Brasília há 24 anos. Advogada de formação, ela conheceu a arte naif em Ipanema e foi pioneira no estilo na capital do país. "Quando cheguei, não havia arte naif aqui." Miniaturista, como se define, Vera gosta de contar histórias por meio das imagens. "Sou muito cotidiana, meus quadros têm enredo." 

Entre as temáticas dos trabalhos estão, por exemplo, escolas de samba, em especial a Mangueira, da qual se declara fã, e lugares icônicos de Brasília, como a Torre de TV. "Você pode brincar e mexer com os temas do jeito que imaginar", explica, ao relacionar essa característica às origens da estética naif, criada por pessoas que não tinham acesso a cursos de arte e exploravam de maneira autodidata técnicas de pintura.

O que não sabiam Adriano Dias e Pedro Cruz, responsáveis pela escolha da homenageada, é que ela está com um problema de visão que a impede, por enquanto, de compor quadros. "Estou fechando o palco da minha arte, tirando os pincéis de cena, as telas de cena, as tintas", revela. "Estou na expectativa pela homenagem. É muito gratificante, tudo vai ser surpresa. Não é o fim, é o início", avalia a artista de 83 anos.

A artista Valéria Grille considera a participação no Fiam uma conquista. Os bordados dela que compõem a mostra reverenciam tanto o Rio de Janeiro, onde mora, e Guarabira, a qual chama de "capital da arte naif brasileira". Trabalhos de outros 19 estados, além de 15 países, integram a exposição. "A gente propõe uma leitura do que é essa produção do Norte, Nordeste, Sul, Sudeste, Centro-Oeste, e de fora do país, para possibilitar esse encontro da arte naif", comenta Adriano Dias.

A curadoria desta edição da Fian é assinada por Jaqueline Finkelstein (ex-diretora do Museu Internacional de Arte Naif - Miman/RJ), Jacques Dupont (colaborador do Museu Internacional de Arte Naif de Magog, no Canadá) e Pedro Cruz (sócio fundador da Galeria André Cunha de Arte Naif, em Paraty). Uma instalação com xilogravuras e cenários que remetem à cidade de Guarabira também integra o evento. Nesta quarta, Vera Marina, Adriano Dias e o artista venezuelano Maldonado Dias participam da abertura da exposição.

*Estagiário sob a supervisão
de Severino Francisco

Festival Internacional de Arte Naif - Fian 2025 

de 8 de outubro a 7 de dezembro. Visitação de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural Brasília (Setor Bancário Sul). Classificação indicativa livre. Entrada gratuita.

 


  • Manifestações populares são temas frequentes na arte naif
    Manifestações populares são temas frequentes na arte naif Foto: Fotos: Divulgação - Dell
  • Forró no Cangaço, obra de André Cunha, recebeu menção especial na Fian de Fortaleza
    Forró no Cangaço, obra de André Cunha, recebeu menção especial na Fian de Fortaleza Foto: Divulgação
  • Obra de Vera Marina, homenageada da edição, faz referência a São Sebastião
    Obra de Vera Marina, homenageada da edição, faz referência a São Sebastião Foto: Dell
  • Esperança Garcia, primeira advogada 
do Brasil, pintura de Luciana Nascimento
    Esperança Garcia, primeira advogada do Brasil, pintura de Luciana Nascimento Foto: Divulgação
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JP
postado em 08/10/2025 05:37
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