
Crítica // O retrato de Norah ★★★
Vencedor do Prêmio Especial do Júri no segmento Um Certo Olhar do Festival de Cannes, o longa da Arábia Saudita O retrato de Norah traz a esteia em longas do diretor Tawfik Alzaidi. Filmado em AlUla, região permeada por circuito de sítios arqueológicos, o título descortina uma situação nociva não apenas para mulheres (limitadas à opressão), mas para todo e qualquer cidadão saudita que tenha sofrido com absoluta cegueira intelectual camuflada pelo peso da tradição: nos anos de 1990, as artes estavam banidas do cotidiano da população.
"Não esconda a sua vergonha no escuro — o Criador ainda vê" está destacado, em cartela disposta na narrativa que conta da chegada do professor Nader (Yaqoub Alfarhan, o mesmo de Scales, filme selecionado para pré-vaga ao Oscar de melhor título internacional), entusiasmado para ensinar crianças de pequeno vilarejo. "Desenhar é uma forma de expressar o que você sente por dentro", diz ele, a fim de reconectar os jovens, deslocados, mas fundamentais no cotidiano como força laboral dos pais.
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Morto há cinco anos, o pioneiro da arte abstrata Saad Al-Obaid ganha referência pela produção ser dedicada a ele. O filme recondiciona personagens com elementos como imaginação e expressão. Nisso, ao lidar com críticas ao sufocamento do feminismo, o filme se aproxima de A bela intrigante, de Jacques Rivette, que expunha uma retomada com a arte, em relação a anterior e duro hiato. Em O retrato de Norah (com a personagem-título feita por Maria Bahrawi), os homens predominam, mesmo quando se analisa uma condição feminina. Ao menos o decisivo personagem chamado Abu Salem (Abdullah Alsadhan) chega calibrado e sem vilania explícita. A discreta música de Omar Fadel completa o interessante painel.

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