“Não vai andar, não vai andar de bicicleta, não vai subir a Pedra da Gávea… Todos os ‘nãos’ eu duvidei.” A frase de Regina Casé ao Fantástico resume os anos de luta e descrença superados por seu marido, o cineasta e artista Estêvão Ciavatta. Dezessete anos após um grave acidente a cavalo que o deixou tetraplégico, ele voltou à Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, e alcançou o topo.
O acidente que mudou sua vida ocorreu em um dia comum, quando o cavalo que montava se assustou e o lançou violentamente ao chão. O impacto direto na nuca o deixou imobilizado, com o rosto enterrado na terra. Mesmo consciente do risco, Estêvão pediu ao caseiro que não o movesse e esperasse pela ambulância.
Embora a lesão fosse grave, a rapidez no atendimento e a intervenção do neurocirurgião Paulo Niemeyer foram decisivas. Segundo Estêvão ao Fantástico, um atraso de apenas quinze minutos poderia ter sido fatal, já que o inchaço na medula ameaçava comprimi-la de forma irreversível. A cirurgia salvou sua vida e protegeu sua coluna.
Após o trauma, o diretor enfrentou meses de reabilitação, com movimentos restritos aos ombros e pernas e total dependência para tarefas simples, como se alimentar. Foi nesse período que Regina Casé assumiu o papel de força, desafiando todos os prognósticos pessimistas.
Estêvão decidiu que não deixaria o corpo derrotar o espírito. “Meu corpo já estava triste, então não podia deixar meu espírito ficar triste também. Eu botei ele para cima, porque ele ia me ajudar a me levantar”, relembrou.
O nascimento do filho, Roque Casé Ciavatta, representou um novo propósito para o casal. “Eu precisava conseguir segurar meu filho no colo, trocar a fralda dele, mesmo com as mãos sem força”, contou Estêvão.
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Com uma rotina de cerca de cinco horas diárias de fisioterapia, o cineasta tinha como meta voltar à Pedra da Gávea, montanha que havia escalado mais de quarenta vezes na juventude. A escalada marcou o encerramento de um ciclo. O percurso começou em uma trilha cercada por mata e terminou na temida Carrasqueira, trecho de escalada vertical. Com fé, disciplina e devoção, Estêvão subiu passo a passo, no ritmo que ele chama de “passo da cobra”: “Quem vai rápido demais pisa na cobra e é mordido. Se eu tivesse tentado cinco anos atrás, teria me ferrado.”
Enquanto ele subia, Regina acompanhava de um ponto próximo, na Pedra Bonita. “Fiquei com muito medo de notícia ruim”, confessou. O filho, Roque, abriu mão das aulas para escalar com o pai. Ao fim da jornada, Estêvão expressou gratidão a todos que o apoiaram ao longo desses 17 anos: “Sofria por não abrir a mão, por não andar como os outros. Mas depois percebi que a minha maior força estava na minha diferença.”
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