LUTO

Lô Borges: Familiares e amigos se despedem do músico

O velório de Lô Borges, ícone da música brasileira, ocorreu no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Familiares e amigos se despediram do músico que marcou a história musical do Brasil

Credito: Arquivo Pessoal. Musico Lo Borges. -  (crédito: Arquivo Pessoal. Musico Lo Borges.)
Credito: Arquivo Pessoal. Musico Lo Borges. - (crédito: Arquivo Pessoal. Musico Lo Borges.)

O Brasil se despediu de Lô Borges. O velório de um dos artistas mais importantes da música brasileira ocorreu no Foyer do Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes em Belo Horizonte. O cantor faleceu no último domingo, por conta de uma intoxicação medicamentosa. Ele estava internado desde 17 de outubro.

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Segundo o jornal Estado de Minas, antes das 9h centenas de pessoas já se reuniam para dar um último adeus ao músico. O Palácio das Artes teve suas portas abertas perto das 9h20 para o público. O velório contou com uma homenagem do Coral Lírico de Minas Gerais. Mais de 30 coralistas e o maestro Lucas Viana estiveram no foyer para a despedida ao cantor e compositor mineiro. A apresentação emocionou o público presente. No repertório, Quem sabe isso quer dizer amor, escrita por seu irmão Márcio Borges e interpretada por Milton Nascimento, e o O trem azul, um dos maiores sucessos de Lô, foram escolhidas para a homenagem.

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Na despedida de Lô Borges, os músicos que dividiram, por anos, o palco com o cantor estavam muito emocionados. O baterista Robson Matos, o baixista Thiago Corrêa, o guitarrista Henrique Matheus e o tecladista Felipe D'Angelo foram a última formação a acompanhar Lô nos palcos. Todos estavam presentes no último show realizado pelo mineiro, em 27 de setembro, em Minas Gerais.

Em entrevista ao Estado de Minas, o baixista Thiago Corrêa destacou a inventividade de Lô Borges. "Ele teve uma atitude inventiva até o fim. Da geração dele, era o cara que continuava fazendo discos e se reinventando. Em cada álbum que a gente fez, havia uma proposta diferente, cada um com um parceiro novo", destacou. Para ele, Lô Borges era um músico que não se resignou.

Lô Borges lançou um disco por ano desde 2019, e ainda existem quatro projetos prontos. "Ele achou essa dinâmica e achou isso lindo. Faltou ano para ele lançar o tanto de coisa que fez", contou Thiago Corrêa. "Lô foi uma pessoa acima de tudo irreverente. Passei a ver a música de um jeito completamente diferente depois que o nconheci. Um cara genial, generoso e que me ensinou muito", completou Corrêa.

Presente no velório, Zeca Baleiro foi o último artista a participar de um álbum de Lô Borges. Céu de giz, lançado em agosto deste ano, reúne 10 faixas com composições ao lado de Zeca e haviam apresentações marcadas até o fim deste ano. Ao, Zeca contou que recebeu a notícia da morte da Lô em um voo para Belo Horizonte, a caminho da despedida de Rosana Decelso, referência na cena cultural de BH, também falecida no último domingo. "Uma semana dura, duas perdas muito importantes para mim", comentou o músico.

Zeca destacou que Lô possuía uma simbologia muito grande. "Era um artista inventivo, de um tipo que não vai mais existir. A música popular vai caminhar para outros lugares, outras direções. Ele é de um tipo de artista que não vai mais aparecer. Inventou um jeito de fazer música, então a partida dele representa meio que o fim dessa linhagem", ressaltou.

O velório aberto ao público, que estava marcado das 9h às 15h, foi seguido de um enterro reservado apenas para amigos e familiares, às 16h, no cemitério Parque da Colina.

Clube da Esquina 

Aos 10 anos, Lô Borges acompanhou os ensaios da banda do irmão Márcio. Poucos anos depois, surgiram os Beatles e o jovem se encantou. "Me identifiquei com a história daqueles garotos cabeludos, fazendo músicas maravilhosas e um monte de gatinha correndo atrás deles. Era isso que eu queria para mim", contou Lô Borges em um vídeo divulgado em suas redes. "Nessa época, eu morava no 17º andar (de um prédio em Belo Horizonte) e sempre usava a escada. Foi nessa que eu conheci o Bituca. Quando eu estava passando pelo quinto andar, tinha um cara tocando violão e viramos amigos. Foi Milton que deu meu primeiro violão", relembrou.

A música logo tomou conta por completo da amizade entre os dois. Em uma esquina formada pelas ruas Paraisópolis e Divinópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, surgiu o Clube da Esquina. Foi com esse nome que Lô Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta, Wagner Tiso e Márcio Borges criaram um movimento musical que marcou a história do Brasil: o pessoal do Clube da Esquina.

Em 1972, o Clube da Esquina lança um álbum homônimo, que veio a se tornar um dos maiores discos produzidos no Brasil. Em entrevista ao Correio, Lô Borges comentou sobre o início da carreira. "Com 20 anos, fui coautor do Clube da Esquina, logo depois, fechei um contrato para fazer um disco só meu, no mesmo ano. Nem músicas eu tinha, não quis nem colocar meu rosto na capa, botei o tênis velho que não tirava do pé", comentou o cantor sobre seu primeiro disco solo.

Clube da Esquina, disco de Lô Borges e Milton Nascimento, completou 50 anos em 2022. Em entrevista na época, Lô Borges contou sobre sua gratidão em relação a participar do projeto. "Tenho de agradecer a Milton por ter apostado em mim desde sempre. Ele me levou para gravar o álbum Clube da Esquina quando eu tinha só 18 anos", relembrou Lô. "Ele (Milton) teve que brigar com a gravadora para me colocar como coautor do disco. Ele era o famoso Milton Nascimento, querendo dividir o álbum com o desconhecido e inexperiente Lô Borges. A gratidão que eu tenho por esse cara é eterna", completou.

O disco é reconhecido internacionalmente e alavancou instantaneamente a carreira de Lô. "É um álbum que até hoje tem um frescor. Ele foi feito de um jeito em que ninguém queria se dar bem, ou vender milhões de cópias, ou fazer o próximo sucesso do verão. Não havia ambição pequena, nós queríamos fazer arte", comentou em entrevista para o Correio, em 2023.

Celebrar os marcos do Clube da Esquina sempre foi muito importante para o mineiro. "Quando o Clube da Esquina fez 40 anos, ocorreram celebrações e entrevistas, e uma pessoa me perguntou se eu imaginava o que eu estaria fazendo 10 anos depois, e respondi que achava que ia estar compondo música inédita e, com certeza, estaria falando dos 50 anos do Clube da Esquina. E aqui estou!", compartilhou o músico ao Correio, em 2023.

Mesmo sempre lançando inéditas, com um disco autoral por ano desde 2019, Lô Borges apreciava seus sucessos antigos. "Nos meus shows, não canso o público, canto todas as músicas do Clube da Esquina. A galera gosta de ouvir, e eu e minha banda amamos tocar. Para mim, apresentar Um girassol da cor do seu cabelo, ou Tudo que podia ser e todas músicas que eu fiz nas décadas passadas é uma delícia, uma coisa renovada", destacou.

Questionado sobre o futuro, em 2022, Lô Borges disse à época: "Acho que se daqui há 10 anos, se Deus me der vida até lá, e espero que dê, estarei compondo e celebrando os 60 anos do Clube da esquina".

BH celebra a grandeza de Lô

Na noite de segunda-feira, antes mesmo do velório, as homenagens para Lô Borges tomaram conta da cidade. No bairro de Santa Tereza, uma tenda foi montada e artistas se reuniram para cantar. Os músicos Marcelo Dande, Felipe Bedetti, Gabriel Guedes, Rodrigo Borges, sobrinho de Lô e Marilton Borges, irmão de Lô, prestaram sua homenagem em forma de música.

As ruas ficaram lotadas de fãs de todas as idades para celebrar o legado deixado por Lô Borges na música mineira e nacional. A cantoria incluiu canções como Paisagem da janela, Clube da esquina nº 2, O trem azul, Trem de doido e Quem sabe isso quer dizer amor.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

 


Repercussão

Repercussão

Artistas também prestaram homenagens para Lô. Na rede social X, o cantor Caetano Veloso escreveu que Lô é uma das maiores joias do Brasil: “Seu encontro com o gênio Milton resultou no Clube da Esquina, disco, estilo, movimento que fez da música brasileira uma presença mais prestigiosa no mundo do que a bossa nova já tinha conseguido. Estou muito abalado com a notícia de sua morte tão precoce”, escreveu Caetano. 

Alice Carvalho, atriz de Agente Secreto,  diz que Lô a ensinou muitos sentimentos com o disco Clube da Esquina. “Lembro de ouvir e ter a sensação de que alguém havia matado uma charada em mim (jovem, deslocada, estranha, meio melancólica)  e não estava sozinha sentindo. Descanse em paz, Lô. Grande ídolo, sou como você é”, compartilhou Alice. 

Paulinho Moska, também se despediu e se referiu ao mineiro como ídoLô Borges. “Obrigado por tanta beleza e magia.Nunca esquecerei esse abraço em forma de música. Você agora vive muito além do fim, na eternidade dos nossos sonhos que não envelhecem nos girassóis de amor nos cabelos e vestidos. A imensidão de sua obra nos ensinou a delicadeza. Vai em paz, amigo querido”, relatou. 

O presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva,  destacou que as canções de Lô Borges ultrapassaram as fronteiras de Minas Gerais e estão gravadas não apenas em álbuns, mas na memória e no coração de milhões de brasileiros. “Conheci melhor as canções de Lô Borges através da Janjinha, que é fã desde sua adolescência e coloca seus álbuns para tocar nos nossos momentos de descanso”, comentou o presidente. 

“Gerações de músicos foram influenciados pela sua obra. Seu álbum “Clube da Esquina”, em parceria com Milton Nascimento e Beto Guedes, é considerado um dos mais importantes de nossa história. E a própria MPB que conhecemos não seria a mesma se Lô Borges não tivesse nos dado a alegria de ter existido.O Brasil agradece a Lô Borges”, ressaltou o presidente. 

A Ministra da Cultura  e cantora Margareth Menezes diz que com o coração apertado, se despede de Lô Borges, um dos maiores gênios da nossa música. “Um artista que, com o Clube da Esquina, transformou a música popular em poesia, liberdade e sentimento. Lô foi alma mineira, compositor de sensibilidade rara, criador de melodias maravilhosas. Sua obra é dessas que vão continuar iluminando mesmo depois que o artista parte. Que sua travessia seja de luz! E que a nossa cultura siga viva, inspirada pelo seu legado tão bonito”, destacou. 



 

  • Diversos músicos e autoridades se despediram 
de Lô Borges na manhã 
de ontem
    Amigos, fãs e familiares foram se despedir de Lô Borges na manhã desta terça-feira (4/11) Foto: JairAmaral/EM/D.A Press
  • Rogério Flausino (D)
 e Wilson Sideral se 
despediram do amigo 
que marcou suas 
carreiras
    Rogério Flausino (D) e Wilson Sideral se despediram do amigo que marcou suas carreiras Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
  • Uma tenda foi montada próximo ao cruzamento das ruas, onde artistas se reuniram para uma 'Cantoria em homenagem' a Lô Borges
    Uma tenda foi montada próximo ao cruzamento das ruas, onde artistas se reuniram para uma 'Cantoria em homenagem' a Lô Borges Foto: Túlio Santos/EM/D.A.Press
  • Zeca Baleiro recebeu a notícia da morte de Lô dentro de um voo para Belo Horizonte
    Zeca Baleiro recebeu a notícia da morte de Lô dentro de um voo para Belo Horizonte Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
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postado em 05/11/2025 04:40 / atualizado em 05/11/2025 09:36
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