
O cinema nacional é marcado por duas datas comemoradas duplamente no país: o dia da primeira sessão de cinema exibida no Brasil, celebrado nesta quarta-feira (5/11), e o dia em que foram filmadas as primeiras imagens em território brasileiro, em 19 de junho.
Ambos os marcos históricos ocorreram no Rio de Janeiro. A exibição pioneira, em 1896, contou com oito curta-metragens que foram assistidos por membros da elite carioca, na Rua do Ouvidor, a menos de um ano após os irmãos Lumière inaugurarem as primeiras sessões na França.
Dois anos depois, em 19 de junho de 1898, as primeiras imagens em território brasileiro foram filmadas, criando o segundo marco do cinema nacional. As cenas foram gravadas pelo italiano Affonso Segretto a bordo do navio Brésil, que chegava da França, registrando o cenário da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
À época, os filmes ainda eram mudos e com poucos minutos de duração. Na Europa e nas Américas, câmaras e projetores começavam a surgir, inaugurando a primeira fase da indústria cinematográfica.
“É bom termos duas datas para lembrar do cinema brasileiro, que devia ser mais conhecido, difundido, visto e debatido”, afirma Pablo Gonçales, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB). “É um cinema vibrante e que deveria ser considerado um agente ativo da memória, da cultura e da linda arte brasileira”.
Pablo é um dos coordenadores do Cine Beijoca, cineclube formado por estudantes da UnB voltado para clássicos desconhecidos da sétima arte no Brasil.
Se para muita gente falar de cinema nacional é sinônimo de sucessos como Central do Brasil, Cidade de Deus, O Auto da Compadecida e o recente Ainda Estou Aqui, o professor propõe um olhar para a face pouco conhecida das produções brasileiras.
O outro lado do cinema nacional
Mensalmente, o Cine Beijoca reúne cinéfilos brasilienses para assistir e debater filmes que ficaram esquecidos na memória do país, como filmes do Cinema Novo e pornochanchadas dos anos 1970 e 1980.
Pablo Gonçalo reforça a importância do ‘lado B’ do cinema nacional para a cultura brasileira. “Os anos 70 e 80 representam uma incrível liberdade e uma alegria única no cinema brasileiro”, aponta. “Apesar da ditadura, tínhamos a Embrafilme. Apesar da televisão e das novelas, tínhamos um período inventivo, irônico, e bem produtivo.”
Para ele, esse período no cinema brasileiro ainda tem muito a ser redescoberto pelo grande público. “Achamos que esses filmes ainda não são vistos como merecem. São, muitas vezes, sessões leves, engraçadas, e com um engajamento com o público nos debates”, afirma.
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O lado underground do cinema nacional mistura diversos gêneros e temáticas que são “reveladores da cultura brasileira”, segundo Pablo. Os filmes do período costumam flertar com comédia, política e sexualidade e textos de escritores como Nelson Rodrigues.
“Filmes como Excitação, do Jean Garret, e Rio Babilônia, do Néville de Almeida, revelam aspectos históricos, culturais e cinematográficos que ainda têm muito a dizer sobre nós”, conclui o professor.
Cinco filmes para conhecer o ‘lado B’
Para redescobrir os filmes que marcaram o underground do audiovisual brasileiro e comemorar a data ‘irmã’ do cinema nacional, o Correio traz uma lista de filmes que marcaram as telas do Brasil:
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Ladrões de Cinema (1977), de Fernando Cony Campos
A comédia conta a história de um grupo de amigos do Morro do Pavãozinho que roubam os equipamentos cinematográficos de uma equipe francesa que filmava o carnaval carioca e decidem, eles mesmos, produzir um filme retratando a Inconfidência Mineira junto com os demais moradores da comunidade. Disponível no Youtube.
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Mulher de Todos (1969), de Rogério Sganzerl
O filme segue as aventuras de Ângela Carne e Osso, uma ninfomaníaca seguida por um detetive particular contratado pelo marido, o extravagante Doktor Plirtz, para investigar suas suspeitas de infidelidade. Disponível no Youtube.
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Excitação (1976), de Jean Garret
Após se mudar para uma praia isolada em busca de tranquilidade, um casal começa a observar fenômenos misteriosos pela casa, como objetos eletrônicos ganhando vida e manifestações sobrenaturais. Disponível no Youtube.
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Os Sete Gatinhos (1980), de Neville d’Almeida
Adaptando a obra de Nelson Rodrigues, a história narra as desventuras da família Noronha após uma das cinco filhas do patriarca Seu Noronha ser suspensa do colégio interno por um crime violento.
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Rio Babilônia (1982), de Neville d’Almeida
Uma jornalista começa a investigar um misterioso traficante internacional de ouro durante a última semana do ano de 1979, no Rio de Janeiro. A trama segue diversos personagens que se envolvem em situações extravagantes e perigosas na cidade em meio às festividades do réveillon. Disponível no Youtube.

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