LITERATURA

FliParaíba reforçou democracia, avalia secretário de Cultura

Pedro Santos destaca expansão do público, curadoria internacional e inclusão de vozes antes silenciadas como marcas da edição 2025

Festival cresceu em público, integrou territórios do estado e reafirmou a potência literária e cultural da Paraíba -  (crédito: Secult PB)
Festival cresceu em público, integrou territórios do estado e reafirmou a potência literária e cultural da Paraíba - (crédito: Secult PB)

O Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa, serviu de ponto de encontro entre Brasil, África lusófona e Portugal no 2º Festival Literário Internacional da Paraíba (FliParaíba 2025), realizado entre 27 e 30/11. O Correio foi convidado para acompanhar a programação de atividades voltadas para a literatura e a produção cultural em língua portuguesa, incluindo feiras de livros, encontros com escritores, ações formativas e shows de Maria Gadú e Mariana Aydar.

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No último dia de festividade, Pedro Santos, secretário de Cultura da Paraíba e coordenador do festival, viu um saldo amplamente positivo, sustentado por dois fatores centrais: aumento da presença do público e fortalecimento da curadoria, realizada pelo escritor português José Manuel Diogo. “Diogo traz um olhar internacional, dialogando com a Paraíba. As pessoas se sentiram parte do festival”, avalia.

Segundo Pedro, a expectativa de circulação pré-festival foi de cerca de 20 mil pessoas durante os três dias — o número, de fato, superou o da primeira edição. “Em comparativo com o ano passado, a gente vê que o festival já tomou uma dimensão maior”, afirma. Esse crescimento se reflete na composição das mesas: “Todas tiveram representantes de pessoas da Paraíba. Fizemos questão.” Em parceria com a Secretaria de Educação, o FliParaíba ainda recebeu estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O secretário de Cultura destaca que o festival só se consolidou plenamente ao incorporar os territórios culturais do estado. “A maior parte da programação é de paraibanas, pessoas do interior do estado. A Paraíba tem a sua potência literária no interior.” Ele cita nomes históricos para reforçar o argumento: “O José Américo de Almeida é de Areia, José Lins do Rego é de Pilar, Ariano Suassuna de João Pessoa.” A presença desses referenciais orientou uma prática de curadoria que buscou conectar o público local ao conjunto da produção contemporânea. “Quando a gente traz esses escritores para cá, a gente também traz esse olhar mais atento para dentro do Brasil.”

A frente formativa do festival também foi ampliada pela oficina de cordel e xilogravuras. O volume de lançamentos literários e outro destaque: conforme Pedro, foram 158 livros de estreia. “É absolutamente contagiante ver o que está sendo produzido”, comemora. “Aqui você vê passar a literatura infanto-juvenil, romances policiais, literatura fantástica, contos, romances. Há uma diversidade de gêneros literários na produção da Paraíba, e o festival cumpre também esse papel de democratizar o acesso a essa produção.”

Este ano, uma das apostas foi aproximar literatura e hip-hop, conciliação representada pelo Mc Marechal: “A gente fez uma parceria com as batalhas de conhecimento. Há uma língua que é viva. As pessoas se apropriam dela de várias formas”, afirma Pedro. Ele comenta o impacto das performances de improviso: “O que eles fizeram é um milagre. É muito bacana ver a língua ocupando caminhos que às vezes a formalidade não legitima, mas a vida legitima.”

Linguagens antes reprimidas também foram abraçadas pelo evento. O coordenador exemplifica a marginalização direcionada a culturas como o samba e a capoeira, atualmente devidamente evidenciadas. A decisão reforça a natureza política do evento. “É também um espaço de protagonismo dessas vozes que foram silenciadas durante muito tempo”, opina Pedro. Um exemplo disso foi a representatividade de culturas originárias durante o evento, bem como a cigana. “Muitos turistas não faziam ideia de que aqui existem aldeias indígenas. E a gente tem a maior comunidade cigana da América Latina”, relata.

Por fim, o secretário de Cultura ressalta como o festival integra todo o estado — muitas vezes reduzido a João Pessoa — em um evento cultural. O posicionamento acaba também por ser político, e, mais do que tudo, um grito do governo a favor da democracia.

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postado em 01/12/2025 15:36 / atualizado em 01/12/2025 16:40
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