Em primeiro plano, a produtora do longa O agente secreto, Emilie Lesclaux, deixa clara a meta de ter o filme (assinado pelo marido Kleber Mendonça Filho) exponencialmente visto — "principalmente no Brasil, onde foi feito". Emilie esclarece o fator vital para os ótimos resultados: a ajuda de muitos colaboradores. "Acompanho a produção de um filme em todas as etapas, do desenvolvimento do roteiro à captação de recursos, passando pela estruturação das coproduções e auxilio a composição da equipe, além de cuidar da viabilidade logística da produção e da pós-produção", enumera a profissional, vinda da França e radicada no Brasil há mais de 20 anos.
O acúmulo de funções parece só desembocar em realizações, em meio à tempestade de exibições em festivais, mundo afora, e a afinação na distribuição da obra. Anos de trabalho, que, sim, colocam O agente secreto como latente competidor pelo Oscar. "O filme parece ter uma energia que vai num movimento crescente desde a sua primeira apresentação em Cannes, por isso acredito muito no potencial dele chegar longe. Estamos trabalhando muito para fazer a melhor campanha possível, junto à distribuidora norte-americana Neon. Iremos onde o filme nos levar, isso inclui o Oscar", antevê a produtora.
Entrevista // Emilie Lesclaux, produtora
Que qualidades pessoais o Kleber Mendonça Filho (diretor de O agente secreto e marido) leva para a direção? Consegue percebê-lo como mero profissional?
Kleber sabe exatamente o que ele quer e como vai filmar cada plano, o roteiro já é extremamente preciso em termos de mise en scène. Isso nos ajuda muito no planejamento e a não perder tempo em termos de produção. Ele também sabe se adaptar às dificuldades e acha soluções ótimas que melhoram o filme ao mesmo tempo que contornam problemas de produção.
O que demarcou grande desafio?
O grande desafio foi recriar o Recife de 1977 na cidade atual, que é muito descaracterizada, e com as limitações de orçamento que sempre existem. O filme tem dimensões épicas, muitas locações, muitos personagens, cenas grandiosas e um roteiro extenso. E queríamos tudo isso explodindo na tela, com uma fotografia primorosa. Foi incrivelmente desafiador, mas muito prazeroso se ver a época se materializando na nossa frente, com a ajuda de colaboradores incríveis na direção de arte, figurino e caracterização.
Na trajetória de premiações, quais os pontos que tangenciam ou equivalem (ou até suplantam) a trajetória do vencedor do Oscar Ainda estou aqui?
A trajetória de Ainda estou aqui é histórica e um exemplo de uma campanha incrivelmente bem conduzida. Acho que nos dois filmes temos protagonistas muito fortes e carismáticos, talvez seja o ponto de comparação mais forte. E são filmes primos que retratam de forma complementar um período complexo da história do Brasil.
O filme tem que impacto, num Brasil mexido e revirado como o atual?
A gente vem viajando no mundo inteiro com o filme desde maio, e o impacto é forte, não apenas no Brasil, porque vivemos tempos difíceis no mundo como um todo, e muita gente se identifica com os temas do filme. Claro que no Brasil, as pessoas sintonizam numa frequência mais ampla do filme.
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Como mulher, que surpresa teve no olhar de um diretor junto a personagens femininas?
Um dos aspectos que mais gosto neste filme é o fato que apresenta uma galeria de personagens inesquecíveis, por menores que sejam as participações em tempo de tela. E nessa galeria, temos personagens femininas essenciais, como Elza (Maria Fernanda Cândido), Dona Sebastiana (Tânia Maria), Claudia (Hermila Guedes) ou Fátima (Alice Carvalho). As cenas dessas mulheres são muitas vezes aplaudidas em cena no cinema. O filme tem muitas relações de pais e filhos, mas a mulher apagada da História tem um lugar central e para mim um dos pontos mais tocantes do filme. De toda forma, senti isso em todos os filmes de Kleber que produzi, do Som ao redor a Retratos fantasmas.
