Conhecida do grande público por seus trabalhos em programas de humor e com uma carreira sólida no teatro, a atriz Renata Gaspar tem traçado um caminho significativo e consciente no audiovisual. Seus projetos recentes, no entanto, a colocam no centro de um debate urgente: a violência contra a mulher. Em um curto espaço de tempo, ela representou vítimas de relacionamentos abusivos em duas grandes novelas da TV Globo — Um lugar ao sol (2021) e Terra e paixão (2023) — e agora se lança em Ângela Diniz: assassinada e condenada, série original HBO Max que estreia nesta quarta-feira (12/11).
Na produção, Renata vive Gilda, amiga de infância de Ângela Diniz, vivida por Marjorie Estiano. A personagem, uma mulher feminista e lésbica que acolhe a amiga no Rio de Janeiro, é uma figura fora de seu tempo: uma intelectual que estuda em Londres e retorna ao Brasil para lutar pela justiça no caso da amiga, tornando-se peça-chave no último episódio ao liderar o movimento real "Quem ama não mata".
Ao Correio, Renata reflete sobre a responsabilidade de dar vida a uma personagem que, embora fictícia, é um amálgama de vozes reais e fundamentais do movimento feminista dos anos 1970. "Ela era muitas numa só", comenta a atriz. "Uma intelectual, focada nos estudos e que sabe do poder que isso tem. Mergulhar em alguém assim foi um grande aprendizado."
A construção de Gilda exigiu equilíbrio. "No roteiro dizia que Gilda chorava só num momento específico, por exemplo. Ela é dessas mulheres que são práticas, racionais e que organizam todo um contexto; estão sempre à frente pra ver se ninguém se machuca. Tentei trazer isso de alguma maneira, mesmo que, muitas vezes, ela pareça fria e cautelosa", explica.
A reapresentação do emblemático julgamento de Doca Street (vivido por Emílio Dantas) foi um momento particularmente intenso. "Foi duro ouvir um julgamento em que uma mulher, que foi assassinada, acabou se tornando vítima duas vezes", relata Renata, destacando o paralelo com os dias atuais. "É como um retrato cultural de uma época e, ao mesmo tempo, espalhamento do de hoje."
Temas que a buscam
A recorrência de pautas ligadas à violência de gênero em sua carreira recente não passou despercebida pela atriz. Questionada se é uma responsabilidade que ela busca ou se são os temas que a escolhem, Renata é taxativa: "Acho que esses temas têm me buscado". Ela enxerga nisso um presente e uma oportunidade de aprendizado. "E mesmo com temas parecidos, é sempre uma perspectiva de personagens diferentes, então isso já muda tudo."
Sua personagem em Um lugar ao sol, vítima de feminicídio, gerou um impacto que ultrapassou a tela. "Recebi muitas mensagens de mulheres também, fiquei muito emocionada. Principalmente por ter conseguido conscientizar mulheres através da arte... Muitas me escreveram que conseguiram pedir ajuda, sabe? Isso não tem preço."
Já em Terra e paixão, sua personagem vivia um relacionamento abusivo com violência patrimonial e depois se descobria lésbica. "Mara era uma mulher conservadora que 'sai do armário' e vai questionar sua realidade, seu contexto. Já Gilda parte daí, ela já questiona a realidade da época e já parte da consciência de seu corpo político", compara.
Equilíbrio necessário
Apesar da imersão em temas densos, Renata mantém seu vínculo com a comédia. Ela está gravando a série infantil Shake Shakespeare para a TV Cultura, onde interpreta a palhacinha Manivela. "É legal não se levar a sério", brinca. "De certa forma, não deixa de ser um empoderamento. A alegria e tudo que é genuíno transforma o mundo e nos transforma."
No teatro, esteve em cartaz com a peça Raiva, nós temos um cão que morde, em São Paulo. "O teatro é a arte do encontro... na Grécia antiga era chamado de catarse, para expurgar tudo de ruim e se purificar internamente. Acho que precisamos disso pra sobreviver."
Ao conectar os pontos entre seus últimos trabalhos no audiovisual — Ângela Diniz, Terra e paixão e Um lugar ao sol —, Renata enxerga um fio condutor. "Diria que ainda temos muito o que mudar...", reflete, sintetizando a mensagem central que une suas atuações.
Saiba Mais
-
Diversão e Arte Ator André Dias lamenta morte do marido; famosos consolam
-
Diversão e Arte 'Insônia' marca estreia de Louise, filha de Chico Science, em carreira solo
-
Diversão e Arte ‘Os Donos do Jogo’: Série sobre o jogo do bicho alcança o Top 4 global da Netflix
-
Diversão e Arte Jonas Brothers firma parceria com marca de eletrônicos para show no Ano Novo
