
Aos 40 anos e com 24 de carreira, Pedro Nercessian vive um momento de expansão profissional e reflexão pessoal. Atualmente na Europa para sua primeira produção internacional, o ator está também no centro de um debate urgente ao integrar o elenco da série Ângela Diniz, na Max. A produção revisita o assassinato da socialite em 1976, um caso emblemático que colocou o machismo e a defesa da "legítima defesa da honra" no banco dos réus.
- Ângela Diniz, assassinada a tiros pelo companheiro, mas condenada pela sociedade
- "Temas feministas têm me buscado", afirma Renata Gaspar, de "Ângela Diniz"
Para o carioca, que vive o milionário Otávio, a história não era desconhecida. "Quando eu era adolescente vi a imagem da Ângela no museu da polícia. Ela ficou guardada em algum canto da minha memória", relembra. E foi a partir dessa memória que construiu sua abordagem para o personagem. "O Otávio, para mim, é como aquela piada depreciativa sobre mulher que os caras fazem nas rodinhas achando que isso não é uma agressão, achando que isso não tem relação nenhuma com o fato de um homem se sentir no direito de tirar a vida de uma mulher", define, com clareza contundente.
O ator vê na série uma ferramenta poderosa de iluminação social. "Os números mostram que sim [o machismo ainda mata]. Naquela época nem os números existiam. Era tudo tratado como crime de mesma natureza", analisa. "Quando a gente, inclusive através de uma série, joga luz nessa história e mostra as causas desses abusos e crimes fica mais fácil pra gente como sociedade trabalhar pra acabar com isso."
Troca única com o público
Paralelamente aos projetos audiovisuais, Pedro tem cultivado um espaço de troca única com seu público através de vídeos que discutem relações humanas e evolução pessoal, muitos com milhões de visualizações. "Ser ator é expor os sentimentos. Então fazer isso nas redes foi uma espécie de exercício", explica. "As pessoas se identificaram muito, compartilharam e a coisa ganhou uma proporção enorme. Hoje conheço meu público, sei o que pensam e eles sabem de mim, ficamos mais íntimos e eu gosto disso." Sobre a influência desse engajamento, ele pondera: "E sim, saber que você tem relevância na vida das pessoas tem feito os produtores me olharem com mais atenção, números impressionam, mas não deixo isso virar a tónica da minha carreira. Mas estaria sendo hipócrita se dissesse que isso não ajuda não só aqui, mas também fora do país."
Recém-completados 40 anos, o ator sente o peso psicológico da marca. "É psicológico. E não tem nada mais real do que o que é psicológico", filosofa. "Hoje vejo situações e penso 'Não preciso passar por isso, já tenho 40 anos'. Então me sentir mais maduro faz eu me mostrar pro mundo assim também. Na carreira mesmo não sinto muita diferença. Ainda faço personagens mais novos. Dizem que não aparento ter 40. Será?"
Um retorno às raízes
Seu momento internacional é também um retorno às raízes. Ele está em Lisboa filmando uma comédia romântica do diretor francês Ruben Alves. "Minha ligação com Portugal é afetiva e familiar. A família do meu avô veio de lá em busca de uma vida melhor no Brasil. Por isso fazer um filme representando um brasileiro que vive em Lisboa é jogar luz sobre esse retorno", conta.
O set de filmagem era um microcosmo da mistura cultural: "As gravações aconteciam em quatro idiomas diferentes. As vezes uma frase começava em Português passava pro francês e terminava em espanhol." E conclui, com otimismo: "Pode parecer um loucura, mas se houver vontade de todos essa mistura super pode dar certo pra todo mundo. Eu estou falando do filme, mas também estou falando de Lisboa." O filme estreia em Portugal na época das festas de Santo Antônio e depois ficará disponível na Disney+.
Pedro Nercessian estreou em 2001 em O clone. Depois, vieram dezenas de novelas e séries, como Malhação, Justiça e A força do querer, na Globo. Também vem sendo cada vez mais conhecido pelo público da Record, onde fez Reis e Amor sem igual. Em seu último trabalho na emissora em Paulo, o apóstolo interpretou o personagem Bispo Tiago, liderança na igreja primitiva nos primeiros anos do cristianismo que também estará em Ben-Hur, a próxima produção da emissora.

Diversão e Arte
Diversão e Arte
Diversão e Arte
Diversão e Arte