Exposição

Uma história da arte brasileira: acervo do MAM ganha recorte no CCBB

Exposição no CCBB reúne cerca de 100 obras do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em um itinerário que propõe pensar os caminhos da produção nacional

Obra O coelho e o dinossauro, 
de Leonilson 
 -  (crédito: Leonilson)
Obra O coelho e o dinossauro, de Leonilson - (crédito: Leonilson)

Com uma coleção de mais e 7 mil obras, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) é um verdadeiro templo da história da arte brasileira nos séculos 20 e 21, por isso a proposta dos curadores Raquel Barreto e Pablo Lafuente de apresentar um recorte que permita uma leitura da importância desse acervo pode funcionar como uma introdução à diversidade da produção nacional. Em cartaz a partir de terça-feira no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Uma história da arte brasileira leva no título o artigo definido com um propósito específico. "A gente tem consciência de que é um recorte, uma forma possível de narrar essa história da arte", avisa Raquel. "Sobretudo, as pessoas que não estão tão familiarizadas com a história da arte brasileira vão ter uma perspectiva cronológica, o que faz sentido para entender o processo da arte contemporânea, que, às vezes, fica muito fechado em torno de especialistas."

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A perspectiva cronológica, acredita a curadora, ajuda a perceber os movimentos, os momentos, as tendências, as temáticas, os usos das cores, as experimentações e como elas mudam de geração para geração. É um recorte sem a proposta de ser temático, mas apresentado em ordem cronológica para facilitar a compreensão dos movimentos e suas ligações com a própria história do país. Divididas em cinco núcleos, as cerca de 100 obras focam em alguns dos momentos mais significativos da produção brasileira. A exposição tem início no Modernismo, o movimento das primeiras décadas do século 20 que mais buscou uma identidade nacional na arte brasileira, com artistas como Alberto da Veiga Guignard. Em seguida vem Abstracionismo e Concretismo que, nos anos 1950, trouxeram uma nova perspectiva a partir da reunião de grupos de artistas que defendiam manifestos e se afastavam das representações do real. Se o abstracionismo propunha uma arte mais sentimental, o concretismo trazia para o campo artístico a racionalidade e a radicalidade simbólicas. Para esse núcleo, os curadores trouxeram nomes como Ivan Serpa, Lygia Clark, Lygia Pape e Manabu Mabe.

A experimentação é a deixa em Nova Figuração e poéticas do conceito, com artistas que produziram, principalmente, nas décadas de 1960 e 1970 e cujas obras trazem um inevitável questionamento político, já que o Brasil atravessava, então, uma ditadura militar. Obras de artistas como Nelson Leirner e Rubens Gerchman carregam um ponto de vista crítico sem nunca deixar para trás o humor e a qualidade estética. Aqui entram ainda nomes como Carlos Vergara, Wanda Pimentel, Anabela Geiger e Anna Maria Maiolino.  "São os artistas importantes que pensaram a nova figuração e que produziram obras com uma temática política muito forte de denúncia da ditadura militar", explica Raquel.

A década de 1980 é representada em Da década de 1980 ao presente, com nomes que fizeram a Geração 80, como Beatriz Milazes e Daniel Senise, mas também com artistas contemporâneos que enfrentaram o cânone ao trazer para a arte brasileira as temáticas LGBTQIA , os olhares dos povos indígenas, dos negros e das mulheres.

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A coleção do diplomata e fotógrafo Joaquim Paiva encerra o percurso com Imagens do Brasil Contemporâneo. Cedida em comodato para o MAM, o acervo explora uma multiplicidade de olhares que vão da paisagem aos aspectos sociais da vida nacional. "Escolhemos a coleção Joaquim Paiva para pensar a fotografia brasileira", avisa a curadora. "É uma coleção significativa que inclui nomes, períodos e artistas muito interessantes e importantes. A ideia  era trazer um pouquinho dessa coleção pensando a fotografia no Brasil e a própria ideia de Brasil que transparece direto ou indiretamente nessas obras."

Para a curadora Raquel Barreto, a exposição tenta fazer uma ponte e estabelecer um diálogo entre uma coleção extremamente relevante para a arte brasileira e um público nem sempre familiarizado com a dinâmica e o acesso aos museus. É uma forma de democratizar uma linguagem que, ela acredita, é também universal. "Arte é uma forma de comunicar e dialogar. É um ativo cultural que o Brasil tem e que é apreciado, que pode comunicar sobre o país. Essa exposição já nasce, de alguma forma, nesse sentido internacionalista", garante Raquel.

Entrevista // Raquel Barreto


A coleção do MAM tem mais de 7 mil obras. Como selecionaram uma centena e o que decidiram
deixar de fora?

O que não foi incluído é a produção mais recente, a dos últimos cinco anos, mas nós entramos bem nas questões que atravessam a arte contemporânea brasileira.É possível entender os caminhos que estão levando à produção atual da arte contemporânea desenhada nesses artistas ou nessas obras que estão no último núcleo.

O que os núcleos contam sobre a história da arte brasileira?

Acho que seria muito pretensão dizer que eles perpassam todas as fases da  história da arte brasileira, mas eles perpassam uma narrativa, uma historiografia conhecida da arte brasileira cronológica, a partir de alguns eixos e alguns nomes consagrados que fazem esse percurso, esse caminho.

Qual a importância de fazer circular o acervo do MAM?

Para o museu é muito importante que o acervo da instituição circule, que é uma forma de democratizar o acesso, é uma forma de as pessoas conhecerem obras que conformam o nosso imaginário de arte brasileira, obras de grandes artistas nacionais e também de artistas menos conhecidos da nossa arte. O museu é um museu escola, então fazer essa exposição, itinerar é uma responsabilidade que a instituição tem com com a história, não só do Brasil, mas com a própria história da arte brasileira, que passou pelo MAM em momentos importantes como a relação com a nova objetividade, com a nova figuração.

 


  • Obra de Tunga, sem título
    Obra de Tunga, sem título Foto: Jaime Acioli
  • Obra de Nelson Leirner
    Obra de Nelson Leirner Foto: Nelson leirner
  • Foto de claudia Andujar
    Foto de claudia Andujar Foto: Claudia Andujar
  • Foto de Mario Cravo Neto na exposição  Uma história da arte brasileira
    Foto de Mario Cravo Neto na exposição Uma história da arte brasileira Foto: claudia Andujar
  • Loba, obra de  Daniel Senise na exposição  Uma história da arte brasileira
    Loba, obra de Daniel Senise na exposição Uma história da arte brasileira Foto: valentino fialdini
  • Foto de Walter firmo
    Foto de Walter firmo Foto: Walter Firmo
  • Alberto da Veiga Guinard na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB
    Alberto da Veiga Guinard na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB Foto: Alberto da Veiga Guinard
  • Ivan serpa  na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB
    Ivan serpa na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB Foto: Ivan Serpa
  • Obra A ilha, de Luiz Zerbini
    Obra A ilha, de Luiz Zerbini Foto: Luiz Zerbini
  • Obra Estúdio 4, de Lucia Laguna,, na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB
    Obra Estúdio 4, de Lucia Laguna,, na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB Foto: Lucia Laguna
  • Bicho Relógio de sol, de LygiaClark, na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB
    Bicho Relógio de sol, de LygiaClark, na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB Foto: Fabio Souza
  • Obra Relevo, de Lygia pape, na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB
    Obra Relevo, de Lygia pape, na exposição uma história da arte brasileira, no CCBB Foto: Jaime Acioli
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postado em 14/12/2025 05:06
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