O Museu do Amanhã comemora, em dez anos de história, arte, cultura e ciência. Em meio a celebração, com entrada gratuita nesta quarta-feira (17/12), o museu mais visitado do Brasil inaugura a nova exposição temporária, Oceano — O Mundo é um Arquipélago. A mostra, que tem curadoria de Fabio Scarano, Camila Oliveira e Caetana Lara Resende, revisita a imensidão azul como origem da existência humana e meio de conexão entre os seres da Terra. “Quem divide somos nós. O oceano conecta”, afirma Camila.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
A experiência artística-científica, dividida em cinco etapas, se inicia no “Mergulho”, uma sala fechada, quase toda escura, com uma projeção audiovisual que te leva a imergir em um mar infinito antes do surgimento da vida na Terra. A sensação é de estar submerso. Depois, o público passará pela “Vida”, que vai desde organismos microscópicos até o esqueleto de uma orca de sete metros que foi encontrada no Ceará em 1996 e desenterrada em 2002. “Nessa parte apresentamos toda a biodiversidade do oceano”, explica a artista Camila.
- Leia também: Sóter lança livro de poemas e brinca com IA
A “Borda” é uma experiência à parte, é um espaço de passagem. É por ela que a pessoa circula pelo entorno, olhando o oceano a partir do que ainda não conhece completamente. “É a única área da exposição que a gente vai e volta”, destaca.
A exibição finaliza com as seções “Arquipélago” e “Naufrágio”, que buscam levar os espectadores para uma nova perspectiva de mudança da natureza a partir da ação humana. “A ideia não é ser uma exposição acusatória, mas sim, demonstrar a transformação do oceano, que tem papel do homem também”, ressalta. Nessas etapas artísticas, os espaços articulam imaginação, cultura e ciência para debater a relação dos homens com o mar, sejam elas simbólicas, afetivas ou comerciais. No fim, as obras demonstram uma mudança de paradigma a respeito do termo “naufrágio”: “ No nosso vocabulário, a palavra costuma significar fim. Para a gente, não: ele é um processo, uma travessia, não um encerramento”.
Segundo a artista, as próximas exibições temporárias nos anos seguintes trabalharão os outros três elementos — fogo, terra e ar — reforçando a ideia de conexão entre os elementos e a forma que o ser humano interage com eles. “Sustentabilidade é convivência”, declara.
Exposição permanente
Além da nova mostra, o museu conta com mais uma novidade, a renovação da principal atração, “Do Cosmos a Nós”, que conta a história da Terra desde o Big Bang aos tempos atuais, existente desde a inauguração do centro tecnológico-cultural. “No início, a exposição tecnológica tinha um caráter imersivo que atraía o público e informava, mas percebemos que a pandemia marcou uma virada. Depois de anos de telas, muitas pessoas passaram a sair do museu mais ansiosas e preocupadas com o estado do planeta. A partir disso, em 2023, com a criação de uma cátedra Unesco voltada a estudos de futuros e antecipação, nossas pesquisas começaram a orientar ajustes na linha curatorial, implementados em 2024 e 2025”, esclarece Scarano.
Com a necessidade de mudança, agora a sala nomeada como “Onde estamos?” traz uma nova perspectiva, de esperança ativa e não ansiedade. “A pessoa sai daqui com a ideia de que pode escolher fazer a diferença. De forma que entende o início e o que está por vir”, destaca o professor.
Uma inclusão maior de arte e cultura também é um diferencial da renovação. Apesar do conhecimento científico em peso, a mitologia ganha espaço nesse momento. No novo vídeo exposto, o final faz uma referência a uma lenda Yanomami de que as árvores “seguram” o céu: “Nessa ideia, fazemos uma alusão ao desmatamento, com a remoção das árvores ocorre a ‘queda’ do céu. Por mais que seja uma ideia figurativa, é mais ou menos o que acontece — com a destruição da camada de ozônio”.
Para os próximos anos, a ideia é propor experiências cada vez mais interativas. “Queremos algo mais orgânico e menos dividido, com dinâmicas que explorem visão, tato, audição e olfato”, conta o curador.
10 anos
Iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã é o equipamento cultural da cidade mais visitado, recebendo 5 mil pessoas por dia. Segundo o Secretário de Cultura, Lucas Padilha, o espaço é a “jóia da coroa” para a pasta. "Esse museu é o maior projeto de Lei Rouanet do Brasil”, afirma.
Além disso, o espaço, com acervo de 7 mil itens mapeados e 18 mil bibliografias, também é polo educativo e cultural, tendo recebido 70 mil alunos no ano de 2025: "É um lugar de pesquisa bem importante para a cidade”.
O centro tecnológico e cultural atua há dez anos no Rio de Janeiro, tendo transformado a perspectiva da região que está inserido, anteriormente onde se localizava o Píer de Mauá, um espaço ‘esquecido’ pela população. “O Museu do Amanhã surgiu como um equipamento cultural, âncora não só de formação de público, mas de formação de massa crítica, de consciência, de pesquisa e de interlocução com o entorno", concluiu o chefe da pasta.
*Estagiária sob supervisão de Aline Gouveia*
