Um ano diverso no mundo cinematográfico: assim foi 2025. Com destaques em diferentes gêneros e premissas, o Correio selecionou filmes que brilharam nas telonas, reacendendo o chama de alguns diretores, divertindo o público e emocionando os cinéfilos.
Num impulso forte, Pecadores (de Ryan Coogler), estrelado por Michael B. Jordan em um papel de gêmeos, trouxe ação e terror como havia tempo não se via, na união de vampiros, ancestralidade e muita música. Com toques de comédia, Uma batalha após a outra, marcou o retorno de Paul Thomas Anderson, com um impecável Leonardo DiCaprio em cena. Desde já, o filme é aposta alta para as temporadas de premiações. Na linha da alta velocidade, F1,com Brad Pitt, trouxe a energia da Fórmula 1 com bastidores das corridas, de modo impressionante. Comédia bem divertida, do início ao fim, Os Roses: Até que a morte os separe trouxe Olivia Colman e Benedict Cumberbatch em um roteiro bem ácido. Para os fãs de musical, a sequência de Wicked revelou o final da amizade das poderosas Glinda e Elphaba. Também bem-sucedido nas bilheterias, James Cameron mostrou o potencial de Avatar: fogo e cinzas.
Vice-líder nas bilheterias no Brasil em 2025, Como treinar o seu dragão, feito em live-action, multiplicou o imaginário juvenil, renovado ainda pelo nacional Chico Bento e a goiabeira maraviosa, com perigoso progresso afetando a famosa Vila Abobrinha, e a animação Elio, que revelou o introspectivo protagonista em altas negociatas com alienígenas, num sucesso da Disney-Pixar. Heroicamente, Quarteto Fantástico: primeiros passos e Superman esmagaram parte da concorrência.
2025 também foi o ano de grandes diretores se recondicionarem. O grego Yorgos Lanthimos chegou com Bugonia, estrelado por Emma Stone, e conseguiu brincar com os sentimentos dos espectadores em uma narrativa que envolve alienígenas e conspirações. Luca Guadagnino trouxe o maduro roteiro de Depois da caçada, com tópicos incômodos e discussão da moralidade humana. O esquema fenício apresentou na tela a minúcia singular do esteta Wes Anderson, enquanto, em Morra, amor, a dona da polêmica Lynne Ramsey comandou uma fita que atiçou os instintos da sempre feroz Jennifer Lawrence.
Dois outros projetos encantaram a crítica: Foi apenas um acidente, de Jafar Panahi, encheu de criatividade o desdobramento de um absurdo acerto de contas com o passado iraniano. Da Noruega, Joachim Trier encantou com Valor sentimental, mesclando poder em família e redenção a partir das artes. Politizado, A semente do fruto sagrado venceu prêmios em Cannes e Berlim, no exame de mazelas da família de um juiz iraniano. Exemplar na maternidade reservada a oprimidas mulheres, Vermiglio trouxe o esplêndido domínio da diretora Maura Delpero.
Muita luz
Renovadora, a melhor animação do Oscar, Flow, foi criada na Letônia, e revela o destino de um gato em processo de adaptação num mundo assombroso. Também redimensionando uma realidade estabelecida, Conclave foi dos melhores filmes do ano, ao discutir o papel da dúvida, num mundo com fé suspensa. Também em tom reverente, Nouvelle Vague voltou, impecavelmente, ao passado, a fim de celebrar a genialidade de Jean-Luc Godard.
No ramo documental ou na ficção, o cinema rendeu luz para figuras musicais como Luiz Gonzaga, Milton Nascimento e Cazuza. No flanco estrangeiro, Um completo desconhecido mostrou um Bob Dylan ora intenso, ora blasé, feito genialmente pelo ator Timothée Chalamet. Ainda nas artes, o "ilustrador do mundo moderno" Andy Warhol foi restaurado, em um forte documentário eslovaco.
Potente em 2025 foi o ramo do terror: enquanto A hora do mal, recheado com amplo apelo sobrenatural, consumou o talento do diretor Zach Cregger, Juntos pôs à prova o rendimento do estreante Michael Shanks. No filme, ele desenvolveu a alarmante situação de fusão (corpo a corpo) entre pessoas que se amam. Bastante inspirado, três anos depois de revisitar Pinóquio, o mexicano Guillermo del Toro remexeu no cânone do medo Frankenstein, candidato a cinco prêmios Globo de Ouro.
Mais nacionais
No Brasil, O agente secreto foi o maior destaque. Com direção de Kleber Mendonça Filho, o longa furou a bolha e brilhou nas maiores premiações do mundo. Com fortes possibilidades de indicações ao Oscar, o filme rendeu prêmios para Kleber Mendonça (melhor diretor) e Wagner Moura (melhor ator), no Festival de Cannes. Dois grandes filmes nacionais do ano ganharam a graça do talento de Rodrigo Santoro: O filho de mil homens, baseado na obra de Walter Hugo Mãe, e O último azul, que teve breve mas decisiva participação de Santoro (nesta premiada produção de Gabriel Mascaro, que obteve o Urso de Prata, em Berlim).
No universo de cinebiografias, Esmir Filho entregou um dos melhores filmes do ano e da história do país no gênero. Homem com H conta a história de Ney Matogrosso. Artista de personalidade única, ele trouxe desafio para a interpretação do vivaz Jesuíta Barbosa. Diretamente do Distrito Federal, a diretora Rafaela Camelo conseguiu mostrar sua maestria com A natureza das coisas invisíveis, filme com protagonistas infantis que debate morte, luto e solidão e que foi reservado para fechar o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O festival, por sinal, fez brilhar a estrela do diretor local José Eduardo Belmonte, que, no ano, empacotou três lançamentos: Quase deserto, Assalto à brasileira e Aurora 15.
Na trilha da visibilidade de Ainda estou aqui, a estrela mais longeva brasileira, Fernanda Montenegro, aos 95 anos, encarou o tráfico de drogas, no drama Vitória. Com outra temática realista e árdua, Manas trouxe apagamento da inocência infantil, sob comando de Marianna Brennand. Repleto de sentimentos masculinos introspectivos, o filme Oeste outra vez fez brilhar o talento do goiano Erico Rassi.
