Artes cênicas

Maitê Proença sobe ao palco com monólogo intimista e pessoal

Maitê Proença leva ao palco monólogo no qual reflete sobre experiências pessoais e sofridas. Espetáculo está em cartaz na Caixa Cultural

O pior de mim, com Maitê Proença, em cartaz na Caixa Cultural -  (crédito: Celso Lemos)
O pior de mim, com Maitê Proença, em cartaz na Caixa Cultural - (crédito: Celso Lemos)

O monólogo O pior de mim, em cartaz de hoje a domingo na Caixa Cultural, passou por quatro versões para chegar ao formato que o público pode agora conferir. A peça nasceu de um convite e de um desafio. Corria a pandemia e a atriz Maitê Proença recebeu um telefonema da amiga Ana Beatriz Nogueira acompanhado de um convite para escrever e montar uma peça no teatro Leblon para ser transmitida on-line para os espectadores.

De lá para cá, o projeto audiovisual filmado em teatro vazio de público se tornou uma peça encenada com temporada que, desde 2023, viaja pelo Brasil. No palco, Maitê fala um texto muito pessoal, publicado em forma de livro com o mesmo título e no qual reflete sobre episódios sofridos, como o assassinato da mãe, morta por 12 facadas dadas pelo pai, um abuso sexual sofrido quando tinha 10 anos, o julgamento paterno, mas também sobre a relação com as drogas para lidar com as dificuldades, a vida alucinante de celebridade e o envelhecimento.

Entrevista//Maitê Proença

Como nasceu O pior de mim?

Resolvemos criar o Teatro Já, que seriam peças encenadas dentro de um teatro mas sem público, para serem vistas on-line. Me foi encomendado um texto e eu pensei, 'o que pode ser pertinente num momento em que o mundo virou de avesso?' A resposta que me veio foi, 'a verdade crua'. E o que pode ser mais verdadeiro do que nossos fracassos?

Foi sofrido escrever esse texto?

Nossas histórias são todas diferentes, mas quando as coisas não dão certo, ficamos todos inseguros, frustrados, tristes e reagimos de duas ou três maneiras bem parecidas para encobrir esses sentimentos de que temos vergonha. Estava todo mundo em casa achando que ia morrer e o feedback que eu tive ao apresentar a peça foi sublime. Em vez do mundo perfeito do instagram, o que eu mostrava era a verdade crua. A pandemia passou e a sede do público pela verdade profunda num mundo de mentiras deslavadas segue se mostrando pra mim a cada sessão.

Qual o desafio de fazer um monólogo tão pessoal?

Eu faço com um distanciamento. Ao escrever já foi assim, era como se fosse outra pessoa fazendo aquelas revelações. De certa forma, a pessoa que viveu as histórias, a atriz e a escritora são entidades separadas. Se misturar, fica piegas.

Onde entra o teatro no seu processo de cura?

O processo de cura começa quando a gente encara os monstros de frente. Escrever e interpretar são formas que se dão para aquilo que a gente já destrinchou com os sentimentos, na confusão emocional, na tristeza, na coragem e no amor à vida. O que se leva pro palco são desdobramentos de algo que já aconteceu no passado.

Como você lida com o envelhecimento?

Envelhecer é mais difícil aos 50 do que aos 60. Para uma figura pública que trabalha com imagem, se livrar da pressão pela manutenção de uma figura do passado é complicado. Impossível competir com o seu ser mais jovem, com aquele viço encantador. Mas aí vem os 60 e você entende tudo, e para de tentar, e curte a calma de ter se encontrado finalmente com a pessoa que você sempre quis ser e nunca conseguiu enquanto fazia todo aquele esforço para agradar o mundo.

O que você faz quando fica triste?

Respiro fundo, faço pranayamas, exercício físico, entro no mar, danço, danço, danço, canto, respiro. E passa. A essa altura, eu sei que passa e não me dou tanta importância. Entender que sou apenas um grãozinho de nada neste vasto universo me bota no meu lugar e o bicho vai saindo.

O texto tem passagens difíceis. Como você lida hoje com isso agora que esses episódios foram expostos ao público?

Não fui eu que os expus, eles foram expostos em um programa de TV para todo o Brasil, à minha revelia. A partir daí, por minha filha pequena que estava na escola, por mim mesma que agora virava outra aos olhos do público, fui obrigada a me abrir e dar minha versão. São assuntos privados que não servem para entrevistas. Mas tratei deles da forma que sei, através da escrita e do teatro, através da arte.

 


  • Peça O pior de mim, com e de Maitê Proença
    Peça O pior de mim, com e de Maitê Proença Foto: DALTON VALERIO
  • Peça O pior de mim, com e de Maitê Proença
    Peça O pior de mim, com e de Maitê Proença Foto: Celso Lemos/Divulgação
  • Peça O pior de mim, com e de Maitê Proença
    Peça O pior de mim, com e de Maitê Proença Foto: DALTON VALERIO
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postado em 19/04/2024 07:00 / atualizado em 19/04/2024 09:54
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