Crítica

Um pingue pongue erótico e emotivo balizado por Zendaya está no cinema

Diretor de Me chame pelo seu nome, Luca Guadagnino, com o talento esperado, confirma a gangorra de sentimentos e a sensualidade impressas no filme produzido pela estrela Zendaya

Zendaya e Mike Faist em cena de Rivais -  (crédito:  Warner Bros. Pictures/Divulgação)
Zendaya e Mike Faist em cena de Rivais - (crédito: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Crítica // Rivais ★ ★ ★ ★

É realmente uma partida de tênis que se configura, na telona de Rivais: mas, numa metáfora, as pessoas poderiam ser as raquetes e os sentimentos as bolinhas do jogo — a ciranda do vaivém é intensa, e os olhos dos espectadores não podem perder um lance. Os personagens, no desparelho número três, passam de melhores amigos a piores, de interesses românticos a desafetos momentâneos, e de promissores atletas a decadentes seres decepcionados. A dado ponto, já consagrado, o jogador profissional Art Donaldson (Mike Faist) se vê excessivamente no centro de tudo e carrega o peso da frieza profissional da ex-aspirante a campeã Tashi (papel de Zendaya), agora sua treinadora e esposa. Demasiadamente apoiado, além de enferrujado e nada confiante, Art "precisa começar a ganhar", como ela estipula. Joga contra ele um passado de relação turbulenta junto ao ex-colega de quadra Patrick Zweig (Josh O'Connor), um interesse amoroso comum a ele e à esposa.

No passado, como candidatos a juniores, Art e Zweig foram batizados como Fogo e Gelo. Era um período áureo de descobertas, inclusive com as primeiras experiências sexuais. O "tipo de (mulher) de todo mundo", como decreta o louro Art, Tashi desponta para treinar a dupla, até no campo amoroso. O que faz grande diferença é que ela carregue um ar arrogante — a exemplo de um momento em que responde a um "Eu amo você" com cortante "Eu sei" (ecoando o Han Solo, de Star wars). À vontade como os dois pretendentes, Tashi, ao período juvenil, encoraja joguinhos e situações que chamuscam afetos de todos.

Num jogo em que há constante dispensas e dispensados, há grandes nomes por trás da elaborada trama. Primeiro, Serena Williams serviu como bússola para interesses e guia da atriz e também produtora Zendaya. O roteiro leva a assinatura do dramaturgo Justin Kuritzkes, o marido de Celine Song (Vidas passadas), nome em alta em Hollywood. O casamento do bom roteiro (repleto de idas e vindas no tempo) é sacramentado pela excelente direção de Luca Guadagnino, responsável pelo brilho de Me chame pelo seu nome. Também um filme pontuado pelo equilíbrio de intimidades, Rivais serve à luva ao cinema do realizador italiano. Traz assédio, amor, prazer e respeito, tudo desalinhado de ordem. A sensualidade carregada é conduzida por cenas como a do beijo triplo, o momento da sauna e a relação consumada em meio a uma tormenta no clima de Nova York.

Junto com músicas de fundo oitentista e sacras adotadas nos filmes de Guadagnino, um dos momentos mais gélidos (em que a intimidade de um casal do filme não preserva fogo) vem coroado pela voz de Caetano Veloso, à frente dos belos versos de Pecado. O erotismo quebra entraves como o da eterna cara marrenta da personagem de Zendaya, junto com a chatice da fase maternal e fria pela qual passa. Vínculos intensos, traição e outros emaranhados impulsivos (os palavrões e ao esfacelar de raquetes, em quadras de tênis) prendem a atenção do público. Mais uma vez, Luca Guadagnino ainda convence com o dom da densa representação nostálgica.

 

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postado em 26/04/2024 10:51 / atualizado em 26/04/2024 10:55
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