Por Graça Seligman—
Costumo ir muito à São Paulo e quando encontro amigos paulistanos não é raro ouvir que Brasília foi o maior erro cometido por JK e pelo Brasil da época. Eu sei que os caros amigos cometem um grande erro de avaliação, mas os compreendo. Em geral, são pessoas que ficaram poucos dias por aqui, vêm a trabalho e se restringem a ir do aeroporto a escritórios, hotéis e voltam para suas cidades. Quase sempre repetem clichês do tipo Brasília não tem esquinas, não tem gente na rua, só se anda de carro e com essa pouca profundidade julgam a nossa cidade.
A construção de Brasília foi uma ousadia, quase um milagre e tem, de fato, muitos problemas. Entretanto, com o passar do tempo a cidade vem se transformando e se tornando cada vez melhor, com mais verde, com artistas relevantes ocupando a cena cultural, músicos espetaculares, inúmeros restaurantes e acabou se constituindo, tanto cultural como nos costumes, em uma verdadeira síntese do Brasil.
A cidade se transforma a cada década, cresce rápido, cria o seu próprio sotaque, amadurece e quem a conhece sabe muito bem onde encontrar tudo o que quer e precisa. É lindo ver a criançada brincando sob os blocos, correndo pelos pilotis, jogando bola nas quadras, andando de bicicleta, brincando nos parquinhos das superquadras do Plano Piloto. As cidades em volta do Plano não são mais satélites.
Ganharam personalidade e melhoraram muito a qualidade de vida de suas comunidades, orgulhosas de serem da Ceilandia, de Taguatinga, do Guará e de todas as demais.Quem foi criado na capital tem histórias para contar e agradecem o monte de amigos que fizeram pela vida afora. Dia desses perguntei para uma amiga: por que você gosta de Brasília? A resposta dela foi simples. Adoro esse horizonte aberto, a luz daqui o verde que vi crescer em toda a cidade e sobretudo foi aqui que fiz meus amigos e principais afetos.
Nada e nenhuma outra cidade me tira daqui, disse ela.Eu, vivo entre São Paulo e Brasília e quando passo muito tempo longe daqui me sinto um pouco “fora de foco”. Preciso voltar à Brasília para a minha casa no Lago Norte, sentir a sensação de pertencimento que aqui tenho.
Chego e me reconecto com o meu lugar, com meus amigos e com a minha cidade.Passei vários anos em Roma e chegou uma hora que eu e minha família quisemos voltar para o Brasil e voltamos para cá, pois o nosso Brasil é Brasília.Aqui me sinto construindo memória, me sinto parte da vida brasiliense e, sempre que viajo, eu penso que logo estarei de volta, para o meu chão.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br
postado em 24/05/2024 13:59 / atualizado em 24/05/2024 14:04