CINEMA

O último azul, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim, chega aos cinemas

Com Denise Weinberg e Rodrigo Santoro, drama nacional de Gabriel Mascaro mescla questões de etarismo com elementos fantasiosos

CRÍTICA O ÚLTIMO AZUL // 4 ESTRELAS

Vencedor do Urso de Prata no festival de Berlim, O último azul apresenta um futuro distópico em que pessoas acima dos 75 anos são excluídos da sociedade e forçados a morar em colônias para idosos criadas pelo governo. Tereza (Denise Weinberg) vive sozinha em uma pequena cidade na Amazônia, até o dia que é obrigada a parar de trabalhar em uma fábrica e, com autorização da filha, precisa se mudar para as residências governamentais. Relutante com a perda de sua independência e determinada a realizar um último desejo, Teresa resolve fugir e lutar pela própria liberdade.

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Ela acaba entrando em uma aventura fantástica que muda para sempre a trajetória de sua vida. Rodrigo Santoro interpreta Cadu, o dono de um barco que ajuda Tereza a navegar pelos rios amazônicos. O personagem é diferente dos trabalhos anteriores do ator, mas a entrega e performance continuam em alto nível. Mesmo com o pouco tempo de tela, ele introduz um dos pontos principais da trama: o caracol da baba azul, que tem um poder de encanto que faz as pessoas verem o que elas nunca foram capazes, como o futuro. 

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A frase “o futuro é para todos” permeia toda a narrativa. De programas de rádio a anúncios em aviões, o falso slogan propaga a ideia das colônias para que os jovens possam aumentar a produtividade sem se preocupar com os mais velhos. Mas a realidade é excludente: por mais que idosos e seus cuidadores precisem muitas vezes de assistência, afastá-los da sociedade, retirar seu poder de escolha, e a obrigação da colônia independente da saúde e condição da pessoa, é um cenário que beira o absurdo. 

Mesmo com os aspectos fantásticos, o roteiro de Gabriel Mascaro e Tibério Azul aborda o etarismo de maneira verossímil e instaura na sociedade, cada vez mais velha, a reflexão sobre como tratamos aqueles que vieram antes de nós. Weinberg — que tem indicações ao Emmy Internacional e uma estatueta do Prêmio Grande Otelo de melhor atriz coadjuvante — entrega uma protagonista forte, decidida, que, às vezes, tem atitudes questionáveis mas que faz o que precisa para sobreviver e luta pela própria liberdade. 

Apesar da velhice muitas vezes ser um período marcado pela solidão, Tereza encontra em sua jornada, além de Cadu,  Ludemir (Adanilo) que também a guia para novos e tortuosos caminhos. Além disso, ela forma uma genuína amizade com Roberta (Miriam Socarras), uma mulher também acima dos 70 anos que comprou a própria liberdade das colônias e vive em um barco nos rios amazonenses. A relação das duas tem como base o companheirismo, e mostra como, independentemente da idade, ninguém precisa viver isolado, e que sempre há coisas novas para experimentar.

A fotografia do filme também chama a atenção. Ao capturar perfeitamente os cenários e a natureza amazônica, Guillermo Garza transporta o espectador diretamente para as afluentes e ecossistema do estado. Acompanhado de uma trilha sonora envolvente — composta por Memo Guerra —, Gabriel Mascaro entrega um filme belo e bem desenvolvido, que mereceu a exaltação nos festivais internacionais e na academia brasileira de cinema, como um dos escolhidos para disputar o Oscar no próximo ano.

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