
Texto clássico de Dias Gomes, O bem-amado parece concebido para enfrentar o Brasil contemporâneo, mas nasceu em 1962 e foi montado em 1970 por Procópio Ferreira. Na história, que depois viraria a novela de mesmo nome, o prefeito Odorico Paraguaçu planeja construir um cemitério com propósitos eleitorais. Porém, Sucupira não tem mortos para serem enterrados. O ator Diogo Vilela subiu ao palco como Odorico Paraguaçu pela primeira vez em janeiro deste ano. O sucesso foi tanto que O bem-amado já foi vista por mais de 35 mil pessoas. A peça desembarca em Brasília neste fim de semana, no teatro do Sesc Paulo Gracindo, para três apresentações gratuitas.
Sob direção de Marcus Alvisi, Vilela e um elenco de 14 atores encenam um dos textos mais hilários e reveladores da sociedade brasileira. “A peça não é política, mas fala de uma personalidade que é um personagem arquétipo, um prefeito de uma cidade do interior. A circunstância fala de um político, mas é uma circunstância”, explica o ator, que também encenou, do mesmo Dias Gomes, O pagador de promessas. “Mostra que o político tem o foco que deveria ter. Se a gente tivesse o foco que o político tem, a gente seria bem-resolvido. Eles têm um foco tão grande! E não perdem. Perdem tudo, menos o foco.”
A ironia de Vilela está por toda a peça na maneira como Paraguaçu se relaciona com o poder, com os habitantes de Sucupira e com os eleitores. “Segundo Dias Gomes, isso é uma comédia patológica”, explica o ator. Ele conta que a peça estreou em janeiro sem qualquer patrocínio. A ideia era fazer uma temporada curta, mas foi tão solicitada que acabou viajando o país. Produtor de teatro há 31 anos, o ator escolheu O bem-amado pela identificação. “Achamos grande identificação do público. Além disso, essa e O pagador de promessas são dramaturgias que precisam ser montadas, são muito atuais. E toda vez que a gente vai com O bem-amado a uma cidade, tem que voltar”, garante.
Vilela lembra ainda que teatro é uma arte milenar grega capaz de refletir a sociedade, por isso alguns textos provocam tanta identificação. “Teatro é identificação civilizatória, mostra como a gente é, é o crivo de como vai a sociedade. Um espelho. E o público se identifica e ri de si mesmo”, acredita.
O Bem-Amado
Com Diogo Vilela. Direção: Marcus Alvisi. Hoje e amanhã, às 20h, e domingo, às 18h, no Teatro Sesc Paulo Gracindo (Setor Leste Industrial, Lotes 620 a 680, QI 1, Gama). Entrada gratuita, mediante troca por 1 kg de alimento não perecível. Não recomendado para menores de 12 anos