GOVERNO

Rita Serrano admite desconforto e diz que disputa é ruim para a imagem da Caixa

Presidente da Caixa, Rita Serrano, reconhece que disputa do cargo pelos partidos do Centrão é ruim para a imagem dela e do banco, mas "faz parte da democracia". Ela conta que está trabalhando 14,16 horas por dia e "cumprindo o papel"

Rosana Hessel
postado em 19/07/2023 18:31 / atualizado em 19/07/2023 19:10
Rita Serrano -  (crédito: Rosana Hessel/ CB)
Rita Serrano - (crédito: Rosana Hessel/ CB)

A presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, está um pouco desconfortável com as especulações de que ela pode perder o cargo no meio das negociações políticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os partidos do Centrão. Ela reconhece que essa disputa faz parte da "democracia", mas procura desempenhar o papel para o qual foi designada, trabalhando 14 a 16 horas por dia.

“O presidente só me mandou trabalhar nos últimos eventos em que estivemos juntos”, disse Rita Serrano, nesta quarta-feira (19/7), após a cerimônia de assinatura de um protocolo de intenções da Caixa com o Banco do Brasil (BB), o Banco da Amazônia (Basa) e o Banco do Nordeste (BNB), para-a criação de um grupo de trabalho para traçar medidas para o compartilhamento das estruturas e sinergia nas operações, na sede da instituição.

Depois da troca no Ministério do Turismo, que agora está sob o comando do deputado Carlos Sabino (União-PA), a Caixa é uma das instituições mais cobiçadas pelos partidos do Centrão, principalmente, o Partido Progressista, legenda do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A executiva contou que conversou com o chefe do Executivo, na última sexta-feira (16/7), durante um evento de entrega de imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida, na Bahia. O MCMV foi relançado pelo novo governo, na semana passada, com a sanção da lei recriando o programa que tirou de cena o Casa Verde Amarela, da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ampliando o público de beneficiados com renda de até R$ 8 mil mensais, com taxa de juros abaixo do mercado.

De acordo com ela, Lula não tocou no assunto nos últimos encontros, mas ela admitiu que há um desconforto e o desgaste de poder ser retirada do cargo a qualquer momento. “Eu não me sinto insegura agora. E o desgaste dessa exposição, é muito ruim para a imagem. E é ruim, inclusive, para o banco, porque você cria uma insegurança. Agora, isso não envolve só a mim. Na verdade, é um processo de desgaste do próprio governo. Não estou falando só de mim. Estou falando de todos os ministérios, principalmente dos ministérios, onde as mulheres estão, de várias estatais, a Caixa, os Correios, Embratur (Empresa Brasileira de Turismo)”, afirmou Serrano, parafraseando a ministra da Saúde, Nísia Trindade. A ministra da Saúde também está na mira de políticos do Centrão, porque a pasta chefiada por ela tem um dos maiores orçamentos da Esplanada dos Ministérios. No caso de Nísia Trindade, que também tem perfil técnico como Serrano, Lula já avisou que não pretende rifar a ministra da Saúde.

“Então, eu não me sinto insegura. Estou aqui cumprindo meu papel, trabalhando muito, 14, 16 horas por dia. Mas, obviamente, a exposição é ruim. Agora, faz parte, logicamente, da democracia. Tem interesses, tem negociações que envolvem o processo democrático de base do governo. Então essa disputa faz parte da democracia”, completou Rita Serrano.

De acordo com a executiva, a Caixa espera entregar, até o fim do ano, mais de 10 mil unidades de obras Minha Casa, Minha Vida, que estavam paralisadas. Ela disse que, quando assumiu o banco em janeiro deste ano, o cenário era desolador, “com a gestão baseada no medo e na perseguição”, por conta do aumento do número de assedios na instituição que culminaram com a demissão do ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães.

“Pegamos o banco completamente desmantelado. Os computadores dos funcionários tinham 10 anos de uso, porque o banco parou de investir em tecnologia no último período. Estamos, agora, correndo atrás do prejuízo e tentando reconstruir o banco, focado na competição, porque não vamos abrir mão da rentabilidade”, afirmou Rita Serrano.

Sem revelar os números do balanço que deve ser divulgado somente em 17 de agosto, a presidente da Caixa disse que os números do 1º semestre deste ano “são promissores” em mais de 300 municípios em que a instituição atua. “Apesar do desmantelamento, estamos retomando o papel do banco de protagonista e se destacando nas políticas públicas, Mas também queremos competir e ganhar rentabilidade”, afirmou. Ela lembrou que a instituição registrou, de janeiro a junho deste ano, aumento de 9% nas contratações de crédito na comparação com o mesmo período de 2022, totalizando R$ 259,1 bilhões.  

De acordo com Serrano, a demanda por crédito é crescente, o habitacional, segmento em que os demais bancos estão evitando entrar por conta da taxa básica da economia (Selic) ainda estar muito elevada”. O banco ampliou os recursos para empréstimos no setor habitacional e, com isso, diminuiu a fila de clientes aguardando a liberação. “Estamos absorvendo, ao máximo, a demanda, e aí, as pessoas ficam na espera, como se houvesse um problema na Caixa. Mas, na verdade, não é isso. O problema é maior, é sistêmico", destacou.

"A Caixa vem dando uma resposta positiva nesse aspecto de concessão de crédito em vez de ter uma rentabilidade maior com a tesouraria”,destacou a presidente do banco. “Conseguimos antecipar uma parte, aumentar os recursos e aliviar essa pressão que estava demais. Eu acredito que, com a taxa de juros atual, os outros bancos investem mais em tesouraria. E nós estamos investindo no crédito, mas o orçamento que vem da poupança está diminuindo”, destacou. De acordo com os dados do banco, a Caixa respondeu por um terço do volume de retiradas da poupança de janeiro a junho.

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