Trabalho

Desemprego sobe a 7,8% e atinge 8,5 milhões de pessoas

A alta na taxa de desocupação em fevereiro se deveu especificamente ao aumento da procura por trabalho

O número de pessoas desalentadas chegou a 3,7 milhões, com alta de 8,7% na comparação trimestral, o equivalente a mais 293 mil pessoas nessa condição -  (crédito: Divulgação/SEI BA)
O número de pessoas desalentadas chegou a 3,7 milhões, com alta de 8,7% na comparação trimestral, o equivalente a mais 293 mil pessoas nessa condição - (crédito: Divulgação/SEI BA)
postado em 29/03/2024 03:55

A taxa de desemprego no Brasil registrou alta de 0,3 ponto percentual no trimestre encerrado em fevereiro, ficando em 7,8%. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada na quinta-feira (28/3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi a primeira alta desde o trimestre móvel encerrado em abril de 2023.

Com os resultados, o número absoluto de desocupados cresceu 4,1%, atingindo 8,5 milhões de pessoas. Apesar da alta, essa taxa ainda está abaixo da que foi registrada no mesmo trimestre móvel do ano passado, que estava em 8,6%.

O número de pessoas em busca de trabalho chegou a 8,5 milhões, com alta de 4,1% na comparação trimestral, o que equivale a mais 332 mil pessoas buscando uma ocupação. Mesmo crescendo, o número de desocupados ainda ficou 7,5% abaixo do que foi registrado no mesmo trimestre móvel de 2023.

A alta na taxa de desocupação se deveu especificamente ao aumento da procura por trabalho, o número de pessoas que estavam trabalhando no país se manteve nos 100,2 milhões, sem apresentar variação estatisticamente significativa na comparação trimestral.

Segundo a coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy, “o aumento da taxa de desocupação nessa época do ano está associado ao retorno de pessoas que, eventualmente, tinham interrompido a sua busca por trabalho em dezembro e voltaram a procurar uma ocupação nos meses iniciais do ano seguinte”.

Além disso, a pesquisadora afirmou que, em início de ano, há um processo de dispensas de temporários e de redução de velocidade da atividade econômica. “Isso dificulta a reabsorção dos trabalhadores no mercado de trabalho. Mas comparando com o panorama de um ano atrás, o cenário ainda é de expansão”, avaliou.

O número de pessoas desalentadas chegou a 3,7 milhões de pessoas, com alta de 8,7% na comparação trimestral, o equivalente a mais 293 mil nessa condição. Foi a primeira alta desse contingente desde abril de 2021, quando o número de pessoas desalentadas chegou a 5,9 milhões, durante a pandemia da covid-19.

Para o economista Daniel Medina, professor da Faculdade do Comércio, esse dado merece atenção. “A taxa de desemprego leva em consideração quem está desempregado e procurando emprego e existe outro indicador que são os desalentados, quem não está procurando. Em relação aos trabalhadores esse número ficou estável, então o que o IBGE alega tem fundamento, pois estamos aí com a mesma quantidade de pessoas trabalhando. No entanto, aumentou o número de pessoas procurando trabalho e também desalentadas”, observou.

Alguns grupos de atividade da Pnad mostraram redução no contingente de pessoas ocupadas, como agropecuária, administração pública, saúde, educação. De acordo com a pesquisadora, há um padrão de sazonalidade em comum entre essas atividades. “Na agropecuária isso pode estar ligado à redução do contingente de trabalhadores em algumas lavouras, como as culturas do milho e do café. Já nos demais, houve dispensa de servidores com contratos temporários”, disse Beringuy.

Rendimento

O rendimento médio das pessoas ocupadas chegou a R$ 3.110, uma alta de 1,1% no trimestre e de 4,3% na comparação anual. Já a massa de rendimento real habitual foi estimada em R$ 307,3 bilhões, mais um recorde da série histórica do IBGE. O resultado teve variação inexpressiva frente ao trimestre anterior, e cresceu 6,7% na comparação anual.

De acordo com a pesquisa, atividades que envolvem os profissionais do setor de alojamento e alimentação ficaram aquecidas nos meses de dezembro a fevereiro, mesmo para os trabalhadores informais do setor, contribuindo para essa alta da renda.

Apesar da alta no rendimento, esse reajuste segue perdendo para a inflação. “A inflação nos últimos 12 meses foi de 4,5%, ou seja, o salário médio não subiu o equivalente aos preços. De novo, isso mostra a dificuldade no poder de compra da população e a percepção dos preços mais altos, porque o salário não consegue comprar as mesmas coisas do ano passado”, destacou o professor da Faculdade do Comércio.

Segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na véspera, foram criadas 306,1 mil vagas com carteira assinada em fevereiro deste ano, dado 81,7% acima do saldo de janeiro. O salário médio real de admissão foi de R$ 2.082 em fevereiro — queda de 2,4% em relação a janeiro, mas alta de 1,4% na comparação com o mesmo mês de 2023.

Para Medina, é possível observar uma migração no mercado de trabalho. “Como o IBGE disse que não houve aumento de pessoas trabalhando, houve uma migração de informais para a formalidade. O salário médio de admissão de acordo com o Caged também caiu, o que também é outro ponto de alerta para a renda dos trabalhadores”, ponderou.

Já na análise de Rodolfo Margato, economista da XP, o saldo da Pnad vem em linha com o esperado pelo mercado, que já previa um desempenho moderado do emprego neste ano. “O cenário de mercado de trabalho apertado provavelmente persistirá ao longo de 2024. Acreditamos que a taxa de desemprego encerrará este ano em 7,8%. Em relação aos rendimentos reais do trabalho, esperamos crescimento anual ao redor de 2,5%, em comparação ao ano passado. Por fim, prevemos elevação de 2,0% para o PIB (Produto Interno Bruto) total”, avaliou.

 

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