Petróleo

Governo Lula decide aceitar convite para entrar em fórum da Opep

O anúncio foi feito pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nesta terça (18/2). O país deve entrar no grupo como observador, cooperando para as decisões, mas sem participar do sistema de cotas de produção

Com produção de 3,672 milhões de barris de petróleo por dia, o Brasil é o nono maior produtor de petróleo do mundo e o primeiro da América Latina -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Com produção de 3,672 milhões de barris de petróleo por dia, o Brasil é o nono maior produtor de petróleo do mundo e o primeiro da América Latina - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

O Brasil aderiu à Carta de Cooperação entre Países Produtores de Petróleo (CoC), um fórum de discussão ligado à Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep). A decisão foi tomada durante a reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) desta terça-feira (18/2) e anunciada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

O país deve entrar no grupo como um observador, cooperando para as decisões do grupo, mas sem participar do sistema de cotas de produção. "A Carta também não limita ou afeta o direito do Brasil à soberania sobre a exploração e gestão de seus recursos naturais. Nesse contexto, o país poderá continuar desenvolvendo sua política energética de acordo com seus próprios interesses", destacou a pasta. 

A decisão foi tomada em meio à preparação do país para receber a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), em Belém (PA), e a tentativa controversa do governo de avançar na exploração de petróleo na região da Margem Equatorial, na bacia da Foz do Amazonas.

Silveira minimizou as críticas de ambientalistas sobre a entrada do país no grupo. “É apenas uma carta e fórum de discussão de estratégias dos países produtores de petróleo. Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo”, disse a jornalistas após a reunião. 

Na ocasião, o governo também anunciou o início do processo de adesão do Brasil à Agência Internacional de Energia (EIA, em inglês) e à Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, em inglês).

Opep

Criada em 1960, a Opep reúne 13 grandes produtores de petróleo: Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Venezuela, Iraque, Argélia, Equador, Gabão, Indonésia, Líbia, Nigéria, Catar e Emirados Árabes Unidos.

O Brasil foi convidado, em 2023, para integrar o grupo de aliados da organização, conhecido como Opep+. Criado em 2016, esse segundo grupo reúne países que são grandes produtores e exportadores de petróleo. 

Esses não fazem parte oficialmente do cartel, mas colaboram em políticas internacionais de petróleo e participam da mediação entre membros e não membros. São mais de 20 nações, entre elas Azerbaijão, Bahrein, Malásia, México e Rússia.

Com produção de 3,672 milhões de barris de petróleo por dia, o país é o nono maior produtor de petróleo do mundo e o primeiro da América Latina.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Transição energética 

A associação do Brasil com o aumento da produção de petróleo é fortemente criticada por organizações ambientais e é vista com preocupação na agenda de transição energética.  Para a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, a adesão do Brasil a qualquer instância da Opep é “mais um sinal de retrocesso do governo”. 

“Continuar a abrir novas áreas de exploração de fósseis em meio ao calorão que estamos sentindo, ao aumento de eventos extremos em toda parte do planeta, denota negacionismo e indica que escolhemos soluções do passado frente a um enorme desafio do presente e do futuro”, disse. “Usar recursos de plataformas já em operação para financiar a transição energética faz todo sentido. Intensificar e protelar o uso de fósseis para uma demanda que precisa urgentemente cair é como fazer uma guerra alegando buscar a paz”, complementou Araújo. 

Em nota, a organização não-governamental (ONG) WWF-Brasil, que atua em defesa do meio ambiente em todo o país, criticou a posição do governo e lembrou que poucos países no mundo estão tão bem posicionados para a transição para energias renováveis como o Brasil. “Com a decisão de ‘explorar petróleo até a última gota’, como declarado pelo ministro no ano passado, o país está abrindo mão de ser um líder da nova economia descarbonizada que o colapso climático exige de todas as nações”, enfatizou. 

Para a organização, a opção pelo petróleo retém o país em uma matriz e em tecnologias obsoletas “que, nas próximas décadas, nos colocarão dependentes das nações que efetivamente desenvolveram tecnologias para exploração de energias limpas”. “Ao alinhar-se ao cartel dos produtores de energias fósseis, o Brasil dá um tiro no pé da nossa agropecuária, que ano após ano tem sido castigada pelos eventos extremos causados pela queima de petróleo, gás e carvão.”

A WWF destacou ainda que os brasileiros já estão pagando mais caro pela comida por conta das mudanças climáticas, impulsionadas pela queima do petróleo. “E surpreende que o atual governo decida, sem apresentar um plano de transição energética, acelerar em tamanho retrocesso justamente no ano em que o país sediará a conferência do clima da ONU, quando o mundo se reunirá para enfrentar o colapso que já afeta economias e milhões de pessoas em todo o mundo”, defendeu. 

Rafaela Gonçalves
postado em 18/02/2025 12:40 / atualizado em 18/02/2025 15:23
x