Guerra comercial

Após tarifaço, novas ameaças contra exportações brasileiras se avizinham

Nova lei, em debate no Congresso dos Estados Unidos, pode retaliar o Brasil por comprar produtos originados na Rússia

Segundo Trad, missão da comitiva é distensionar a relação entre o Brasil e os EUA e facilitar um cenário no qual os países possam negociar as sanções -  (crédito: Divulgação/Assessoria do senador Nelsinho Trad)
Segundo Trad, missão da comitiva é distensionar a relação entre o Brasil e os EUA e facilitar um cenário no qual os países possam negociar as sanções - (crédito: Divulgação/Assessoria do senador Nelsinho Trad)

Congressistas norte-americanos sinalizaram a senadores brasileiros que o Brasil precisa rever suas relações com outro país do Brics, que tem causado sérios problemas para a diplomacia norte-americana: a Rússia. O risco é de que o país seja, novamente, sancionado, desta vez por meio de uma lei que está em negociações pelo Congresso dos EUA, mas que deve avançar no próximo mês, já que tem o apoio de parlamentares tanto do Partido Republicano, de Trump, quanto do Democrata.

"Há outra crise pior que pode nos atingir em 90 dias", disse, ontem, o senador Carlos Viana (Podemos-MG), ao destacar que o texto discutido no Congresso norte-americano prevê punições automáticas e legais. "Será uma lei americana. Os dois partidos deixaram claro que aprovarão essa lei."

A preocupação principal está voltada para a compra, pelo Brasil, de fertilizantes e derivados de petróleo russo, insumos importantes para o agronegócio e para o setor energético. Segundo a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, a insatisfação dos americanos foi manifestada abertamente nas reuniões. "Esse assunto é sensível. Eles acreditam que, ao comprar da Rússia, o Brasil dá munição para o país continuar com a guerra (contra a Ucrânia)", relatou.

A movimentação no Congresso norte-americano faz parte de um esforço para sufocar economicamente a Rússia, que ignorou as tentativas dos Estados Unidos por um cessar-fogo duradouro na Ucrânia — embora Donald Trump tenha prometido, em sua campanha, acabar com a guerra em um dia se eleito. O país também ignorou as propostas de paz feitas pelos países europeus.

Em 15 de julho, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, já havia dito que países como o Brasil, China e Índia (todos integrantes do Brics) podem ser tarifados em 100% por comprar petróleo da Rússia (que também integra o Brics). A declaração se deu depois de uma reunião com congressistas estadunidenses.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse que o Brasil compra fertilizantes por necessidade, não por escolha política. "Não está sobrando fertilizante por aí. Também, quem compra combustível não é o governo brasileiro, são empresas privadas que importam para revender internamente", disse. O Brasil atualmente importa mais de 80% dos fertilizantes que utiliza, a maior parte da Rússia. De janeiro a novembro de 2024, o Brasil comprou US$ 3,4 bilhões (cerca de R$ 20 bilhões) em insumos, segundo dados da plataforma Comtrade, da Organização das Nações Unidas (ONU) e do governo brasileiro.

As declarações foram dadas em entrevista, ao final da missão de oito senadores aos EUA, para negociar a tarifa de 50% imposta por Trump sobre produtos brasileiros. Tereza Cristina reforçou que essa questão deve constar do relatório final da missão.

Esforço diplomático

O senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), que fez parte da missão diplomática nos Estados Unidos, afirmou ao Correio que os canais de diálogo com o Congresso americano e o setor empresarial seguem abertos, e destacou que será necessário um esforço diplomático direto para conter novos desgastes. “Agora continuam as tratativas, vamos dizer, negociação na base do Executivo e nós do Parlamento continuamos a manter a relação nos canais abertos com o Parlamento americano e com as empresas, e isso é só o começo. Vai ter muita coisa a ser feita a partir de agora, inclusive com as questões de produtos derivados da Rússia, de óleo e gás, com a questão do Brics”, declarou.

Segundo o senador, evitar a ampliação das sanções exigirá um envolvimento direto entre os chefes de Estado dos dois países. “Agora vai ser um tratamento meio setorial, como já saiu no próprio decreto, com relação aos produtos, mas para evitar outras tarifas muito maiores, relacionadas a outras situações como a questão do diesel da Rússia, a gente vai ter que negociar também, e aí é onde entra necessariamente a presença do presidente do Brasil conversar com o presidente dos Estados Unidos”, completou Marcos Pontes.

Participaram da missão os senadores: Nelsinho Trad (PSD-MS), Tereza Cristina (PP-BA), Jaques Wagner (PT-BA), Fernando Farias (MDB-AL), Rogério Carvalho (PT-SE), Esperidião Amin (PP-SC), Marcos Pontes (PL-SP)  e Carlos Viana (Podemos-MG). O grupo voltou ontem mesmo ao Brasil.

 *Estagiária sob a supervisão de Edla Lula

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postado em 31/07/2025 04:29
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