Política monetária

Expectativas de inflação seguem em nível incômodo para o BC, diz Galípolo

Presidente da autoridade monetária vê impacto limitado do tarifaço dos Estados Unidos sobre a economia brasileira, mas alerta para expectativas desancoradas e riscos fiscais

Galípolo:
Galípolo: "O Banco Central não tira o olho da bola. Nossa meta é a meta de inflação. Independentemente do que ocorrer, o Banco Central não vai se desviar um milímetro do que é a defesa da moeda e do valor da moeda do país" - (crédito: Raphael Ribeiro/BC)

Em meio à escalada de tensões comerciais com os Estados Unidos, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou que o Brasil deve sentir menos os efeitos do tarifaço norte-americano, mas advertiu que as expectativas de inflação seguem desancoradas em um “patamar bastante incômodo” para a autoridade monetária.

“O Brasil vai se machucar menos do ponto de vista comercial”, disse nesta segunda-feira (11/8), em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Ao repercutir a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa básica em 15% na última reunião, Galípolo afirmou que a menor dependência do país em relação ao mercado dos EUA funciona como “um amortecedor natural” diante do aumento de tarifas.

Ele lembrou que o BC incorporou ao seu balanço de riscos, ainda em janeiro, a possibilidade de um tarifaço global reduzir o ritmo da economia. “As tarifas tendem a criar mais fricção no comércio e reduzir a atividade econômica”, avaliou.

Segundo Galípolo, há hoje três leituras predominantes sobre os impactos. “De um lado, há um aumento de oferta doméstica, que tende a reduzir preços — algo temporário. Há também um possível canal de transmissão do câmbio para a inflação, caso o real perca valor, mas de efeito limitado. E há um impacto na atividade econômica, mais perene, ligado à perda de empregos e à dificuldade de encontrar novos destinos para exportações.”

Meta de inflação 

O presidente do BC afirmou que, mesmo após a elevação de 450 pontos-base na Selic ao longo de 2025, “as expectativas de inflação continuam num patamar bastante incômodo para o Banco Central”.

Ele defendeu que os juros permaneçam “num patamar bastante restritivo por um tempo prolongado” até que as projeções indiquem convergência à meta. “A gente vê alguma alteração para as expectativas de curto prazo, mas as de médio e longo prazo seguem desancoradas”, reforçou.

Sobre a questão fiscal, Galípolo disse que é preciso separar o impacto de curto e de longo prazo. “De um lado, o fiscal de curto prazo, como impulso à demanda e dinamismo à economia. Do outro, o fiscal de longo prazo, a trajetória da relação dívida-PIB, que é um desafio enfrentado por quase todas as economias do mundo.”

Galípolo reafirmou, ainda, o compromisso do BC com a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) — de 3% em 2025, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. “O Banco Central não tira o olho da bola. Nossa meta é a meta de inflação. Independentemente do que ocorrer, o Banco Central não vai se desviar um milímetro do que é a defesa da moeda e do valor da moeda do país”, enfatizou.

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postado em 11/08/2025 12:16
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