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Governo escala TV interativa para a próxima Copa do Mundo

O presidente Lula assinou ontem decreto que inicia a mudança da televisão aberta para a TV 3.0, que promete chegar às capitais a tempo da Copa do Mundo, em junho do ano que vem. Atualização trará mais qualidade e integração com a internet, trocando canais por aplicativos.

Parte do Brasil deve assistir a próxima Copa do Mundo – e os debates eleitorais – já  com a nova tecnologia de televisão aberta, a TV 3.0. Pelo menos, essa é a promessa do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem o decreto que dá início à transição para o modelo, que integra internet à transmissão. O telespectador poderá, por exemplo, escolher quais câmeras assistir em um jogo de futebol, comprar produtos usados por personagens de novelas ou interagir com outros usuários. Além disso, o sinal mais moderno permite imagens em resolução de 8K e até dez canais de áudio. Ministros de Lula afirmaram que a cobertura nacional deve levar entre dez e 15 anos, mas que capitais e grandes cidades podem receber as primeiras transmissões no próximo ano. A Copa do Mundo começa em 11 de junho de 2026.

“Estamos dando um passo importante para tornar o Brasil cada vez mais forte e soberano em questão de tecnologia. Até junho próximo, sim, estaremos com a prestação desse serviço para o povo brasileiro”, declarou o ministro das Comunicações, Frederico Siqueira Filho, durante a assinatura, que ocorreu no Salão Nobre do Palácio do Planalto, com a presença de executivos das emissoras de TV. Siqueira Filho destacou que, mesmo com as plataformas digitais, a televisão ainda é o meio de comunicação mais acessado, especialmente o sinal aberto, responsável também por mais de 50% do emprego no setor. “O Brasil possui cerca de 80 milhões de domicílios, mais de 75 milhões têm televisão. Por outro lado, 75 milhões de lares têm internet. Então, vamos integrar digital com a TV, para que a gente possa evoluir na prestação do serviço da cidadania”, justificou o titular.

A adoção do modelo será gradual, e pode levar 15 anos para chegar a todo o território. Siqueira Filho comparou o processo com a transição do sinal analógico para o digital que começou em 2007 e ainda não foi totalmente concluído. A transmissão foi encerrada em junho deste ano, menos em 74  municípios do Rio Grande do Sul, que pediram mais tempo por conta das enchentes.

Para acessar a TV 3.0, os brasileiros precisarão adaptar seus aparelhos, como ocorreu na transição digital. “Os usuários, já de imediato, caso tenham interesse, precisarão sim adquirir um conversor para que as televisões possam se adaptar à nossa tecnologia”, explicou o ministro das Comunicações. Televisores já adaptados  e conversores chegam ao mercado a partir do ano que vem.

Em sua fala, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), apontou que a atualização reforça a soberania brasileira – repetindo o mote atual do governo em meio aos ataques do governo Trump. “Esse decreto representa a nossa visão de futuro sobre a agenda digital e tecnológica. Abertura, cooperação e soberania. Aliás, a soberania hoje é um grande tema, que une todo o país. Não só a soberania, mas a soberania digital”, declarou Sidônio. Ele reforçou a importância da atualização também para a prestação de serviços públicos, permitindo acesso ao aplicativo Gov.br e a um sistema de alerta para desastres naturais.

Sidônio criticou ainda a dificuldade no acesso ao sinal aberto nas televisões modernas. Nesses aparelhos, os canais gratuitos acabam escondidos em meio a aplicativos pré-instalados. “Está cada vez mais difícil encontrar canais de TV aberta nos atuais aparelhos de televisão. Os fabricantes precisam facilitar que os usuários os encontrem. Não podemos naturalizar que parcerias comerciais acabem escondendo os canais de TV aberta como acontece hoje. Eles devem ter o mesmo destaque dos demais”, enfatizou.

Fôlego

A solenidade contou com a presença de executivos dos grandes grupos de televisão, incluindo Paulo Marinho (Globo), Renata Abravanel (Grupo Sílvio Santos), Marcos Vinicius Vieira (Grupo Record), João Carlos Saad (Band),  e Amilcare Dallevo (RedeTV!), além de presidentes das associações do setor. "Com a assinatura desse novo decreto, damos vida à TV 3.0, a televisão aberta da era digital, onde canais tornam-se aplicativos", ilustrou o presidente do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), Raymundo Barros. Já o presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Flávio Lara Resende, apontou que, na transição, será necessário investir em infraestrutura de comunicação e em políticas públicas para garantir o acesso dos mais pobres à nova tecnologia. “E investimento em capacitação técnica, para formar profissionais aptos para explorar todo o potencial e as múltiplas possibilidades da TV aberta”, afirmou.

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Para as companhias, a TV 3.0 dá mais ferramentas para competir com os serviços de streaming e com as redes sociais, que disputam pela atenção do usuário. A possibilidade de usar algoritmos para personalizar anúncios e sugestões de programas, além de vendas de produtos pelas próprias emissoras, também promete aumentar a receita – complementando as propagandas que circulam em intervalos. Propagandas direcionadas de produtos e serviços como as bets estão entre as principais fontes de lucro para as plataformas. Por isso, a mudança foi comemorada, com forte presença dos executivos no evento. A adoção da TV conectada, porém, deixa dúvidas no ar que serão respondidas com o avanço na transição, como o custo dos novos conversores e aparelhos, e a regulamentação de anúncios e aplicativos utilizados no sistema – tema que está em discussão para as Big Techs.

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