A Operação Carbono Oculto evidenciou como a integração entre órgãos de Estado pode fortalecer o combate ao crime organizado, é o que afirmou o auditor-fiscal Cláudio Ferrer de Souza, superintendente-adjunto da Receita Federal em São Paulo. Em entrevista ao Correio, ele destacou que o caso mostra que a participação da instituição é essencial para a segurança pública.
“A gente fala que o crime é organizado, mas o Estado precisa ser mais organizado que o próprio crime”, afirmou. Segundo ele, a cooperação entre Receita, Polícia Federal, Ministério Público e secretarias estaduais permitiu atacar “a espinha dorsal do crime organizado” no setor de combustíveis, que movimentava bilhões com importações fraudulentas, adulteração e lavagem de dinheiro.
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“É um grande quebra-cabeça que a Receita Federal montou, desde a importação até chegar no efetivo produto do crime organizado”, disse. Ferrer destacou, ainda, que fundos de investimento e fintechs eram usados para ocultação patrimonial.
A nova instrução normativa que obriga essas empresas a repassar dados ao Fisco, publicada pela Receita nesta sexta-feira (29/8), deve mudar o cenário, de acordo com o auditor. “O objetivo é justamente fazer o gerenciamento de risco e filtrar as instituições ligadas ao crime organizado”, explicou.
Ele defendeu que a Receita seja incorporada formalmente ao sistema de segurança pública. “As polícias têm a competência de investigação, mas isso pode ser muito mais potencializado com as informações presentes na administração tributária”, enfatizou.
Entenda
A Operação Carbono Oculto, deflagrada pela Polícia Federal em parceria com a Receita Federal, Ministério Público e secretarias estaduais, desarticulou um esquema bilionário de adulteração e comércio ilegal de combustíveis em São Paulo.
O crime envolvia importações fraudulentas de metanol — autorizado apenas para uso industrial — que eram desviadas diretamente para postos ligados ao crime organizado.
Além da adulteração, o grupo utilizava fintechs e fundos de investimento para lavar dinheiro e ocultar patrimônio, em um esquema que misturava camadas de empresas de fachada e estruturas financeiras sofisticadas. A operação resultou no bloqueio de mais de R$ 4 bilhões em bens ligados à quadrilha.
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