
Após oito anos de negociações, Mercosul e Efta assinaram nesta semana, no Rio de Janeiro, um acordo que estabelece uma zona de livre-comércio entre os blocos, eliminando tarifas e barreiras para a maioria dos bens e serviços. Grupo de países nórdicos, o Efta é formado por Suíça, Islândia, Liechtenstein e Noruega. Já o Mercosul, além do Brasil — que tem a presidência temporária do bloco até dezembro deste ano —, abrange o Paraguai, o Uruguai e a Argentina. Após a assinatura do acordo, o Correio conversou com a ministra do Comércio e Indústria da Noruega, Cecilie Myrseth, sobre as oportunidades de investimentos entre Mercosul, Efta e, principalmente, entre o Brasil e a Noruega. A seguir, trechos da entrevista:
Além das reduções tarifárias, como a senhora vê o acordo Mercosul-Efta fortalecendo os investimentos noruegueses no Brasil, particularmente em setores como tecnologia verde e energia?
Acredito que já tínhamos uma base bastante sólida entre Noruega e Brasil, com nossas 230 empresas norueguesas já presentes aqui. Agora, isso não é apenas um sinal de que estamos proporcionando mais cooperação, uma estrutura mais forte, mas também estamos dizendo às indústrias norueguesas que vocês devem escolher os países do Mercosul para seus investimentos e cooperação empresarial. Nossas forças aqui são, é claro, o setor de energia, novas energias renováveis, o setor marítimo, com uma pegada realmente forte aqui no Brasil, do lado norueguês, o setor de frutos do mar e, quando se trata de inovação e tecnologia. Fizemos a primeira parte do trabalho e espero ver isso florescer.
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Com o Fundo Amazônia, Noruega e Brasil têm uma parceria no combate ao desmatamento. No ano passado, o país nórdico doou US$ 1,26 bilhão para esse projeto. Este novo acordo comercial pode impulsionar projetos de energia sustentável e de desenvolvimento na Amazônia?
Em geral, toda vez que os países do Efta fazem um acordo, a sustentabilidade é uma parte importante do acordo. Mas quando se trata do Fundo Amazônia, os compromissos noruegueses são de longo prazo e nós os mantemos (a contribuição ao Fundo Amazônia). Isso pode ser visto em nosso apoio financeiro ao fundo. Essa é minha principal resposta sobre a Amazônia.
O Brasil busca se tornar uma potência em hidrogênio verde e outras tecnologias renováveis. Como vê o potencial de colaboração entre nossos países neste setor específico?
Temos que fazer mais do que está funcionando e do que já estamos fazendo. Temos algumas de nossas mais importantes empresas de energia presentes aqui. Temos a Equinor, a Hydro, a Yara, e ontem (segunda-feira (15/9) me encontrei com a presidente da Petrobras (Magda Chambriard). É meu segundo encontro com a Petrobras no último ano, e eles estão no mesmo caminho que a Noruega quando se trata de CCS [captura e armazenamento de carbono] e também energia eólica offshore. Temos muito a aprender um com o outro — pesquisadores, inovação, tecnologia. Acredito que este acordo (Mercosul e Efta) apenas fortalecerá esses laços.
O acordo Mercosul-Efta aborda questões ambientais e sociais (combate ao desmatamento e desenvolvimento social). Como a Noruega trabalhará com o Brasil para garantir que os compromissos de sustentabilidade do acordo sejam cumpridos?
Essa parte do acordo mostra que somos sérios sobre sustentabilidade, e isso nos dá uma plataforma importante para discutir esses tópicos e garantir que sejam cumpridos. É um sinal importante que essas questões estejam no acordo do Efta, como sempre garantimos quando fazemos acordos.
O Brasil tem enfrentado tarifas dos EUA e políticas que levantaram discussões sobre comércio global. O que o acordo Mercosul-Efta pode sinalizar em relação ao protecionismo e essas políticas?
Acho que isso (o acordo) é uma declaração poderosa para o resto do mundo e para todos aqueles que acreditam que o sistema de comércio baseado em regras ainda é importante. Aqui, Mercosul e Efta estão mostrando e liderando o caminho, demonstrando como deve ser feito. Em tempos em que muitos de nós temos preocupações com a situação do comércio global, isso me dá muita esperança.
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