
Em meio à polêmica envolvendo a exploração de petróleo na Foz do Amazonas às vésperas da Conferência sobre o Clima, políticos e empresários defenderam, ontem, uma transição gradual para a energia verde. O assunto foi discutido no 10º Fórum CNT de Debates, promovido pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Com o tema Caminhos para a Descarbonização dos Transportes, o encontro abordou políticas públicas, inovação e sustentabilidade — pilares considerados centrais para o futuro da mobilidade e da infraestrutura no Brasil.
Em sua palestra, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, ressaltou que a companhia está "de cabeça na transição energética", mas ponderou que o processo precisa ocorrer de forma segura e gradual. "Não há bem-estar social sem segurança energética, e não há segurança energética sem zelar pelo clima. Essas coisas precisam andar juntas. O transporte é essencial nessa equação", afirmou.
Magda lembrou que a Petrobras reduziu em 60% as emissões de CO2 e metano em suas operações nos últimos 10 anos e vem ampliando a oferta de combustíveis mais limpos, como o diesel coprocessado com 10% de conteúdo vegetal, já utilizado na COP30. "Nosso desafio é crescer junto com o Brasil, adicionando energia cada vez mais renovável sem comprometer a segurança do abastecimento", concluiu a executiva.
Ex-presidente e conselheiro da CNT, Clésio Andrade destacou que a descarbonização do transporte é um dos principais desafios e, ao mesmo tempo, uma das maiores oportunidades desta geração. "A transição energética é, sem dúvida, um dos maiores desafios e uma das maiores oportunidades da nossa geração. O setor de transporte tem um papel central nessa transformação", afirmou.
Para ele, o processo deve ser encarado como um projeto de longo prazo, que exige visão estratégica e coordenação entre governo e iniciativa privada. "A descarbonização precisa ser tratada como um projeto de futuro, com planejamento, inovação tecnológica e compromisso coletivo. Não existe uma solução única. O caminho da sustentabilidade deve respeitar as diferenças regionais do Brasil e aproveitar nossos potenciais locais", observou.
O conselheiro da CNT defendeu que a transição energética deve ocorrer por etapas, considerando investimentos de curto, médio e longo prazos. "No curto prazo, temos os biocombustíveis, como o etanol, amplamente disponível e de baixo custo. No médio prazo, o biogás e o biometano. E, no longo prazo, o hidrogênio verde e a eletrificação ganham força, abrindo caminho para um futuro de neutralidade climática", explicou.. Clésio ressaltou que o país tem um diferencial competitivo por contar com uma matriz energética majoritariamente renovável e por poder avançar simultaneamente nas frentes de segurança energética, alimentar e climática. Apesar do avanço das fontes limpas, ele ponderou que o país ainda dependerá do petróleo por algumas décadas, e que a Petrobras tem papel estratégico nesse processo. "Vamos continuar dependentes do petróleo durante algumas décadas, e essa exploração, capitaneada pela Petrobras, precisa gerar resultados econômicos, sociais e tecnológicos para o país", afirmou.
Biodiesel
O setor de transportes tem enfrentado desafios diante do aumento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel comercializado no país. O encarecimento do frete e os crescentes custos de manutenção de caminhões têm preocupado transportadoras e parlamentares.
A senadora Kátia Abreu (PP-TO) alertou que, embora o biodiesel seja essencial para a transição energética, sua composição atual tem provocado problemas técnicos e impacto econômico direto sobre o transporte de cargas. "Estamos enfrentando entupimento de filtros, bombas e bicos injetores, especialmente nos caminhões mais antigos. Isso aumenta o custo do frete, reduz a eficiência e, paradoxalmente, faz com que se emita mais CO2", afirmou Abreu.
A parlamentar destacou que o transporte responde por 32% das emissões nacionais de gases de efeito estufa, o que o torna um dos setores mais estratégicos na transição para uma economia de baixo carbono. "Nosso foco é limpar essa matriz. Não há PIB, não há produção, não há país sem transporte. Mas precisamos buscar soluções que conciliem sustentabilidade e competitividade", reforçou.
Ela defendeu o avanço de alternativas como o diesel coprocessado com 5% e 10% de conteúdo renovável (R5 e R10), desenvolvido pela Petrobras, por apresentar maior estabilidade química e queima mais limpa.
COP30
O setor de transportes pretende levar à COP30, em Belém (PA), exemplos concretos de como vem contribuindo para a redução de emissões e o avanço da economia de baixo carbono. Entre as iniciativas apresentadas estão a Coalizão pela Descarbonização do Transporte, desenvolvida em parceria com o Movimento BW e mais de 50 entidades empresariais e acadêmicas. O grupo entregou ao governo federal um plano com 90 ações integradas capazes de reduzir em até 70% as emissões do setor até 2050.
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O ex-presidente da CNT reforçou o papel de liderança do transporte na construção de um modelo de desenvolvimento mais sustentável. "A sustentabilidade deixou de ser tendência e passou a ser condição essencial de competitividade. O sistema de transporte tem o dever de liderar esse movimento, unindo desenvolvimento econômico e preservação ambiental."

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