Política monetária

Em dia de Copom, Haddad critica Selic

Falando a investidores, o ministro da Fazenda disse que, se fosse diretor do Banco Central, votaria, hoje, pela redução da taxa de juros. O Comitê de Política Monetária deu início, ontem, à reunião que definirá a nova taxa de juros

As declarações de Haddad ocorreram durante o Bloomberg Green Summit, ontem, em São Paulo -  (crédito:  Diogo Zacarias)
As declarações de Haddad ocorreram durante o Bloomberg Green Summit, ontem, em São Paulo - (crédito: Diogo Zacarias)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aproveitou mais um evento do mercado financeiro para defender a queda dos juros, nesta terça-feira (04), dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, iniciou a penúltima reunião do ano. Os integrantes do Copom estão em período de silêncio, conforme determinam as regras do BC, para evitar especulações em período de decisão dos juros. 

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A taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ao ano,  está no maior patamar desde julho de 2006. O ministro avaliou que esse patamar está "muito restritivo", e, se fosse diretor do BC, votaria pela queda dos juros. "Eu não sou diretor do Banco Central. Se eu fosse, votava pela queda, porque uma taxa de juro real (descontada a inflação) de 10% ao ano não se sustenta", disse o ministro. Ele participou da cerimônia de abertura do Bloomberg Green Summit, realizada em São Paulo. 

Haddad defendeu que está na hora de os juros começarem a cair diante da melhora das expectativas de inflação. Conforme dados do boletim Focus, coletados pelo BC, a mediana das estimativas do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi revisada para baixo pela sexta semana seguida, passando para 4,55% no último relatório. Há quatro semanas, a mediana estava em 4,80%. "Por mais pressão que os bancos façam sobre o Banco Central para não baixar juros, elas vão ter que cair. Não tem como sustentar 15% de juros reais com a inflação batendo 4,5%", afirmou. "Na minha opinião, já é hora de começar a pensar em mudar o rumo", acrescentou o ministro, voltando a criticar o mercado financeiro ao afirmar que ele está "torcendo contra o Brasil", porque não está vendo a melhora recente dos indicadores, como inflação, desemprego e desigualdade.

Sinais

A declaração de Haddad surpreendeu o mercado e ecoou como uma espécie de ameaça ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, se tinha alguma dúvida em relação à decisão, agora, precisará dar um sinal de que é realmente independente do governo, de acordo com o economista e ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas Gomes. "Os juros estão elevados, mas isso não é um problema monetário e, sim, fiscal. E, agora, mais do que nunca, o Copom vai ter que sinalizar que é independente, porque quem manda na decisão do Copom são os modelos, é um piloto automático, porque o modelo indica que os juros precisam ficar onde estão", explicou Gomes. 

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, considerou as declarações de Haddad equivocadas, porque os bancos não estão fazendo pressão para o Copom não baixar os juros. "Os bancos também gostam de juros mais baixos, porque eles dão crédito e vemos uma desaceleração significativa na concessão de empréstimos, tanto para a pessoa física quanto para a jurídica. Juro baixo é bom para os bancos que têm a maior parte das operações ligadas ao crédito", explicou.

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Ela também considerou equivocada a fala de Haddad afirmando que o mercado está torcendo contra o Brasil. "O mercado está vendo, sim a economia. A economia cresceu bem e desacelera ainda gradualmente. O mercado de trabalho é resiliente, tanto que a Bolsa tem mostrado bom desempenho e operado acima de 150 mil pontos, porque o cenário esperado é de maior rentabilidade das empresas", destacou. Alessandra Ribeiro lembrou que Haddad não comentou sobre um ponto que o mercado financeiro tem precificado que é o risco, que tem aumentado por conta da perspectiva de aumento da dívida pública.  

COP30

Ao comentar sobre a agenda do governo na 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, a COP 30, em Belém, que terá início no próximo dia 10, Haddad defendeu que o país foque na consolidação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), criado pelo Brasil e com administração do Banco Mundial. O país fez um aporte de US$ 1 bilhão e, pela projeção do ministro, que poderá chegar a US$ 10 bilhões no ano que vem, quando o governo brasileiro entregará a presidência da COP. 

"Devemos focar na meta de colocar o fundo em pé e, se conseguirmos isso, vamos começar a ter bons resultados. Ali tem um mecanismo importante de garantir uma sustentabilidade ambiental para o planeta com baixíssimo custo", disse. 

 


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postado em 05/11/2025 03:29
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