conferência do clima

Missão da pré-COP30 é tornar o multilateralismo forte

Evento preparatório discute avanços e propostas para a concretização de acordos climáticos

Projeção no Museu da República, e em oito cidades, cobra compromissos a serem assumidos pela COP30 -  (crédito: Ed Alves - CB/DA Press)
Projeção no Museu da República, e em oito cidades, cobra compromissos a serem assumidos pela COP30 - (crédito: Ed Alves - CB/DA Press)

O primeiro dia da Pré-COP, na reunião ministerial preparatória para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada ontem em Brasília, foi marcado pelo apelo ao fortalecimento do multilateralismo e pela defesa de avanços concretos na implementação dos acordos climáticos. O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, destacou os pilares que devem orientar as negociações do encontro em Belém, no próximo mês, e defendeu uma transição energética e ambiental pautada pela ética, pela cooperação internacional e por resultados concretos.

A presidência brasileira da COP30 propôs três objetivos centrais para o evento: "reforçar o multilateralismo e o regime de mudanças do clima no ano da Convenção-Quadro das Nações Unidas (sobre a Mudança do Clima); conectar o regime climático à vida real das pessoas; e acelerar a implementação do Acordo de Paris por meio do estímulo a ações e ajustes estruturais em todas as instituições que possam contribuir para isso".

No discurso, Alckmin reafirmou o compromisso do Brasil com as metas climáticas estabelecidas internacionalmente. Ele lembrou que as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) são o núcleo dos esforços globais para limitar o aquecimento a 1,5°C. "A apresentação pelos governos de NDCs alinhadas ao objetivo de até 1,5 grau do Acordo de Paris é sinal decisivo de seu compromisso com o combate à mudança do clima e o reforço do multilateralismo", ressaltou.

Alckmin recordou que o país apresentou sua nova meta na COP29, em Baku, que determina compromisso de reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa no país de 59% a 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005. Segundo ele, o plano é "ousado, mas realista", combinando "crescimento econômico, transição energética e proteção de florestas."

O secretário-executivo da Convenção-Quadro (UNFCCC, na sigla em inglês), Simon Stiell, destacou o que a COP30 precisa entregar para o sucesso das negociações climáticas. Em sua fala de abertura, afirmou que o evento deve "responder de forma clara e firme aos dados e à ciência mais recentes" e mostrar que o multilateralismo climático continua produzindo resultados.

"Não há a menor dúvida: o multilateralismo foi mencionado por todos. O tema da adaptação recebeu grande ênfase, desde países ricos até pequenas ilhas e nações de médio porte", destacou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, em conversa com jornalistas após a primeira rodada de reuniões.

Entre os temas mais debatidos, o balanço geral das NDCs — compromissos climáticos assumidos para reduzir emissões e adaptá-los aos impactos das mudanças climáticas — e a lacuna de ambição também tiveram destaque. "Muita gente reforçou a importância do balanço geral e do direcionamento de todos nós em relação ao balanço de Dubai. É um tema complexo, porque envolve colocar o balanço global dentro das NDCs", comentou Corrêa do Lago.

Alguns países ainda não apresentaram contribuições, mas delegações como a da Índia mostraram-se participativas. "A Índia fez um discurso extremamente positivo e construtivo. O ministro indiano veio, o que é raríssimo em pré-COP, e foi um sinal de apoio imenso à presidência brasileira", destacou o presidente da COP30.

O financiamento climático segue como pauta central, com os países menos desenvolvidos e de economia menor continuam demandando mais recursos. Segundo o embaixador, no primeiro momento, houve alguma sinalização positiva de países ricos. "Mas isso é declaratório, sem compromisso de valor", explicou.

Uma reunião bilateral entre o diplomata brasileiro e o comissário da União Europeia (UE) para o clima, Wopke Hoekstra, está marcada para hoje. De acordo com Corrêa do Lago, o objetivo é garantir que a COP avance nas negociações, criando um ambiente favorável para as tratativas entre os delegados da conferência.

"Com todos os delegados, o que a gente quer é, antes de mais nada, assegurar que tenhamos uma COP na qual possamos avançar nas negociações, evitando bloqueios provocados pelo desejo de colocar na agenda temas que não estão na pauta. A primeira coisa é assegurar a boa vontade de todos para que a COP possa começar já com negociações", observou.

Sobre a ausência da delegação americana, o presidente da conferência reiterou o convite feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Donald Trump. "Da nossa parte, é sempre importante dizer o quanto estamos convidando a todos. Esta é uma COP aberta para todos e todos serão bem-vindos", reforçou.

A diretora executiva da COP30, Ana Toni, destacou ainda a inclusão de representantes da sociedade civil. "Essa característica da COP30, que foi muito debatida, é a inclusão e a implementação. Acho que ficou muito claro na fala de todo mundo, marcando e percebendo o legado da COP 30 de implementação e inclusão, com o espírito do mutirão no combate à mudança do clima", enfatizou.

Estratégia de financiamento

O encontro preparatório para a COP30, que prossegue hoje, reúne os quatro grupos de trabalho criados pela presidência da conferência para orientar a implementação de ações climáticas. Após a abertura oficial, os líderes de cada Círculo da Presidência apresentaram um balanço das iniciativas já realizadas. Esses grupos temáticos têm como objetivo mobilizar atores públicos, privados, comunitários e internacionais em torno de ações concretas para enfrentar os desafios climáticos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que lidera o Círculo de Ministros de Finanças, apresentou três estratégias que serão levadas à conferência em novembro: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que propõe um modelo de financiamento baseado em investimento, e não apenas em doações; a Coalizão Aberta para Integração dos Mercados de Carbono, voltada à harmonização dos mercados regulados; e a Supertaxonomia, que busca garantir comparabilidade e integridade entre as taxonomias nacionais.

A meta de financiamento climático estabelecida para a COP30 é de US$ 1,3 trilhão, destinada a mobilizar recursos públicos e privados para apoiar ações de mitigação, adaptação e transição justa nos países em desenvolvimento.

Entre as prioridades apresentadas por Haddad, estão aumentar fluxos de financiamento concessional, reformar bancos multilaterais, fortalecer capacidades domésticas, promover inovação financeira e aprimorar marcos regulatórios.

O francês Laurent Fabius, presidente da COP21 — realizada em 2015, em Paris — e líder do Círculo dos Presidentes, que reúne pela primeira vez os presidentes de COPs anteriores, destacou o papel do grupo na apresentação de soluções para acelerar a implementação do Acordo de Paris e fortalecer o multilateralismo e a governança climática global. Em vídeo, ressaltou que todos os países continuam promovendo ações alinhadas ao tratado, considerado um dos mais importantes para o clima.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, representou o Círculo do Balanço Ético Global (BEG). Inspirado no Balanço Global do Acordo de Paris, o grupo busca integrar valores éticos às decisões políticas sobre a crise climática. "A ética é, sobretudo, um de seus principais fundamentos. A ética é o que dá sentido à ação. É o que nos lembra que enfrentar a emergência climática é também enfrentar uma crise moral e civilizatória", disse.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, apresentou o balanço do Círculo dos Povos. Segundo ela, a COP30 terá a maior participação indígena na história, com a maior delegação credenciada na zona azul. Ela observou que o encontro deve trazer soluções que "reconheçam os territórios como sumidouros de carbono e incorporar a realidade dos povos indígenas e das comunidades locais".

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postado em 14/10/2025 03:55
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