acordo Mercosul-UE

Governo está otimista, mas admite preocupação com salvaguardas

Embora acredite na assinatura do acerto entre os blocos sul-americano e europeu, Itamaraty alerta para medidas de proteção na UE

A embaixadora Gisela Padovan considera que as medidas, em votação hoje na União Europeia, podem prejudicar produtores brasileiros -  (crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A embaixadora Gisela Padovan considera que as medidas, em votação hoje na União Europeia, podem prejudicar produtores brasileiros - (crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Autoridades do governo brasileiro estão confiantes para a conclusão do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Porém, avaliam que a votação sobre as salvaguardas, que serão analisadas, hoje, pelo Parlamento Europeu, "é preocupante". 

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A informação foi dada, ontem, pela secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixadora Gisela Padovan, em uma conversa com jornalistas sobre a 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, que será realizada  em Foz do Iguaçu (PR), no próximo sábado, quando também está prevista a assinatura do acordo. "Eu acho que (a salvaguarda) é um motivo de preocupação, mas o acordo assinado até então não inclui esse tipo de medida", disse.

As salvaguardas são medidas adotadas para proteger as indústrias locais de concorrência internacional. Essas novas salvaguardas podem prever a suspensão temporária de preferências tarifárias sobre as importações agrícolas dos países do Mercosul, caso essas mesmas importações prejudiquem os produtores da União Europeia. "Conheço o tema das salvaguardas e acho que são merecedores de preocupação", afirmou a embaixadora.

A diplomata, no entanto, demonstrou otimismo até mesmo em relação às manifestações contrárias da França e da Polônia, porque, em sua avaliação, ainda haverá quórum para o tratado ser aprovado durante a cúpula do Mercosul. A embaixadora confirmou a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, António Costa, no encontro de líderes do bloco sul-americano em Foz.

"O que eu posso dizer é que o Brasil continua otimista. Nós dependemos da votação no Conselho, mas temos sinalizações de que a ideia é assinar mesmo, agora", afirmou. De acordo com a embaixadora, a sinalização do governo é de confiança pela assinatura do acordo em Foz. "O importante para nós é encerrarmos 26 anos de negociações importantes para ambos os lados, um acordo que os países do Mercosul consideram suficientemente equilibrado para estarem plenamente engajados. Do ponto de vista do Mercosul, não há qualquer dúvida de que queremos assinar esse acordo no dia 20", acrescentou.

A diplomata comentou, ainda, que "as barganhas foram feitas ao longo da negociação" e que o Brasil conseguiu incluir "elementos importantes em relação ao que tinha sido pré-assinado em 2019", principalmente na área de compras governamentais e propriedade intelectual. 

O especialista em relações internacionais Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores Associados, contou ao Correio que as resistências dos franceses em relação ao acordo UE-Mercosul vem diminuindo nos últimos dias. "A resistência na Europa, mesmo entre os franceses, diminuiu muito, e tudo indica que o acordo vai ser fechado, finalmente, para, depois caminhar para as ratificações internas", apostou.  "Há boas chances para a conclusão do acordo desta vez", acrescentou. 

Parente contou que conversou com duas pessoas que estão no meio das negociações. Ele ressaltou que o prazo para a transição é longo, podendo chegar até a 15 anos para a queda de todas as barreiras tarifárias entre os dois blocos, dependendo do produto.

Potencial

Conforme dados do Itamaraty, o acordo UE-Mercosul envolve um mercado consumidor de 718 milhões de pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 22 trilhões. 

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, destacou que esse mercado potencial é muito importante para a economia brasileira, e ela também elogiou o trabalho dos negociadores brasileiros. "A diplomacia brasileira trabalhou muito para que esse acordo fosse concluído e ele poderá trazer efeitos positivos para os dois blocos e poderá dar tração em outros acordos potenciais", afirmou. 

De acordo com Padovani, além da negociação da inclusão da Bolívia no Mercosul daqui a quatro anos, desde que o país vizinho cumpra as exigências previstas para passar a ser um membro, o bloco tem avançado nas negociações com os Emirados Árabes, que estão "muito próximas da conclusão". 

Em outubro, foram retomadas as negociações com o Canadá e, segundo ela, os dois lados "querem avançar rapidamente". O bloco também iniciou conversas para ampliar o acordo com a Índia, de 2009, uma vez que inclui apenas 5% do universo tarifário. "Também estamos em conversa com o Japão para, primeiro, fazermos uma parceria estratégica e depois negociar um acordo de livre comércio. E estamos iniciando diálogos com a Indonésia e Vietnã, que são parceiros importantes no Sudeste Asiático", disse a diplomata.

 


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postado em 16/12/2025 04:29
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