CB.Debate

Economista defende integração de políticas para fortalecer avanço do Nordeste

Segundo Adriana Amado, titular do Departamento de Economia da UnB, quando o Estado não intervém, o resultado é previsível: regiões mais adiantadas acumulam ainda mais vantagens e aquelas que largaram atrás tendem a aprofundar desvantagem

A professora Adriana Amado, titular do Departamento de Economia e da Pós-Graduação da Face-UnB, fez um recorrido histórico e estrutural do desenvolvimento regional brasileiro. O diagnóstico é direto: o crescimento do Nordeste não é obra do acaso — e muito menos resultado de leis naturais do mercado. A analise foi feita durante o CB.Debate: Os avanços do Nordeste, realizado pelo Correio Braziliense em parceria com o Banco do Nordeste (BNB), realizado nesta quinta-feira (4/12).

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Em sua fala, a economista resgatou o período de seu doutorado, nos anos 1990, quando estudou a articulação entre desenvolvimento regional e sistema financeiro num ambiente em que políticas públicas eram desmontadas e bancos de desenvolvimento enfrentavam forte descrédito internacional. “Era um momento pouco propício para defender política pública”, relembrou. Ainda assim, seu trabalho já buscava responder a uma pergunta que, segundo ela, continua atual: o que acontece quando o Estado se retira da engrenagem econômica?

Segundo Amado, quando o Estado não intervém, o resultado é previsível: regiões mais adiantadas acumulam ainda mais vantagens, enquanto as que largaram atrás tendem a aprofundar sua desvantagem. 

Ela citou o chamado efeito de vetor na literatura econômica, no qual investimentos em uma região aumentam produtividade e competitividade, gerando um ciclo de reforço. “Quem já está na frente permanece na frente. Quem está atrás, sem mecanismos corretivos, fica ainda mais distante”, afirmou. Para a professora, a ideia de que o capital migraria espontaneamente para regiões mais pobres por causa da maior produtividade marginal “tem aderência histórica bastante limitada”.

Políticas implícitas

Adriana Amado destacou ainda que a inflexão observada no Nordeste a partir dos anos 2000 tem relação direta com políticas públicas que, embora não tivessem desenho regional explícito, produziram forte impacto territorial. Ela citou a teoria das “políticas implícitas e explícitas”, amplamente difundida pela economista Tânia Bacelar.

Um exemplo é o Bolsa Família, que “gera demanda simples e local”, com baixo componente importado, fortalecendo economias regionais. Quando articulado a políticas como o apoio à agricultura familiar, o efeito multiplicador é ampliado. “É a transversalidade que potencializa os resultados”, explicou a especialista.

https://www.correiobraziliense.com.br/webstories/2025/04/7121170-canal-do-correio-braziliense-no-whatsapp.html

Outro caso mencionado foi a expansão das universidades federais, que, embora motivada por objetivos de educação e mobilidade social, resultou na interiorização do desenvolvimento. “As instituições atraem setores tecnologicamente mais avançados e permitem a apropriação de tecnologia — algo central para qualquer estratégia de crescimento sustentável.”

Para Amado, pensar desenvolvimento regional exige compreender como estruturas econômicas diferentes interagem. A integração, disse ela, não pode ser tratada como palavra neutra: “Se você integra sem cuidado, reforça divergências”.

 

Mais Lidas