Apesar de o desemprego continuar em queda e atingir o menor nível da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o mercado de trabalho formal perde o fôlego na criação de novas vagas, de acordo com dados divulgados, ontem, pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged).
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada, ontem, pelo IBGE, mostra que a taxa de desocupação para o trimestre encerrado em novembro atingiu o menor nível de toda a série histórica, iniciada em 2012, com 5,2% da força de trabalho do país, dado que surpreendeu o mercado, porque era esperada uma estabilidade da taxa anterior, de 5,4%.
Desde junho, o indicador segue em trajetória de queda, emplacando novos recordes. No período analisado de setembro a novembro, a Pnad identificou 5,64 milhões de pessoas à procura de emprego, o que representa o menor número de desocupados já registrado desde o início das medições. Além disso, a pesquisa constatou novo recorde no total de pessoas ocupadas no país, de 103 milhões.
Na comparação com o trimestre encerrado em outubro, o grupo de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais registrou o único avanço significativo do número de pessoas ocupadas, com uma alta de 2,6%, ou 492 mil a mais. Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, o avanço do número de trabalhadores no setor público se dá por conta de uma estratégia do próprio governo federal. "Desde o começo do governo, é uma visão de governar diferente, de ter mais trabalhadores do setor público, de fazer mais editais, mais concursos, de preencher mais vagas, diferente das gestões anteriores dos ex-presidentes (Michel) Temer e (Jair) Bolsonaro, onde se tentava fazer mais com menos pessoas", avaliou.
Renda maior
A pesquisa do IBGE também indica que o rendimento médio da população ocupada do país aumentou para R$ 3.574, um novo recorde. O valor é 1,8% acima do trimestre móvel anterior e 4,5% a mais do que o mesmo período de 2024. Esse aumento foi resultado da alta de 5,4% no rendimento dos trabalhadores em informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas. Na comparação com 2024, cinco atividades registraram ganhos salariais: agricultura e pecuária (7,3%), construção (6,7%), informação, comunicação e atividades financeiras (6,3%), administração pública (4,2%) e serviços domésticos (5,5%).
A pesquisa divulgada ontem pelo MTE também mostra que o saldo de admissões foi positivo em novembro. Apesar disso, o resultado foi o pior para o mês em toda a série histórica, com 85,8 mil postos de trabalho gerados no período. No acumulado do ano, a diferença entre contratações e desligamentos chegou a 1,89 milhão. Já nos últimos 12 meses, o que inclui dezembro do ano passado, o saldo supera 1,33 milhão de pessoas.
- Leia também: Salário mínimo 2026: qual o valor com novo reajuste?
Ao comentar os números do Caged, ontem, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, minimizou a desaceleração na geração de vagas com carteira assinada e destacou que não vê com maus olhos o resultado de novembro e voltou a apontar a questão dos juros como principal fator para a redução do crescimento da economia e, consequentemente, do mercado de trabalho. "Apesar, sim, de uma desaceleração, que eu venho chamando a atenção desde maio, durante o maio e todo o semestre, o papel aqui dos juros eu acho determinante para esse processo de desaceleração, porém a combinação da tarefa nada fácil do Banco Central é de mirar a inflação", disse Marinho. Ele reforçou estar confiante para o ano de 2026, apesar de ser um ano eleitoral e com os juros ainda elevados.
De acordo com o levantamento do MTE, apenas os setores de comércio (0,7%) e de serviços (0,3%) tiveram resultados positivos no mês passado. Em contrapartida, os segmentos da construção, da agropecuária e da indústria registraram saldos negativos no mesmo período, de 0,7%, de 0,8% e de 0,2%, respectivamente. O salário médio real de admissão apontado pela pesquisa do Caged em novembro foi de R$ 2.310,78, praticamente estável ante ao valor do mês anterior, de R$ 2.305. Vale destacar que, ao contrário da Pnad, que considera empregos formais e informais, a análise do Caged é feita somente com base em trabalhadores que integram as regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Para Rodolpho Tobler, mestre em economia e finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV), os dados do Caged já indicam uma desaceleração no mercado de trabalho que pode se estender para 2026. "A geração de emprego formal vai encerrar o ano em um nível muito favorável, mas em um ritmo um pouco menor do que vinha acontecendo ao longo do ano. Já há sinais de desaceleração parecida com a que a economia já tem retratado", apontou o especialista, que avalia que ao mesmo tempo em que há um "pouso suave" da economia, isso também se reflete nos dados sobre o emprego.
"Os saldos vêm ficando um pouquinho menores, mesmo após mês, já aparecendo um reflexo ali da atividade econômica que tem desacelerado de maneira um pouco branda, mas já tem dado alguns sinais de perda de força", avaliou Tobler.
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