MEMÓRIA

Zagallo relembrou façanhas no futebol em visita ao Correio em 2008

A lenda Mário Jorge Lobo Zagallo, o único tetracampeão mundial de futebol, esteve em Brasília em 2008 para celebrar os 50 anos da primeira conquista da Copa do Mundo. Ele morreu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, nesta sexta-feira.

A visita de Zagallo à redação do Correio em 24 de junho de 2008 animou os estudantes da Escola Nossa Senhora Perpétuo Socorro -  (crédito: Adauto Cruz/CB/D.A Press)
A visita de Zagallo à redação do Correio em 24 de junho de 2008 animou os estudantes da Escola Nossa Senhora Perpétuo Socorro - (crédito: Adauto Cruz/CB/D.A Press)

"O sempre agitado ambiente de uma redação de jornal ganhou mais movimento com a visita de cinco craques que trouxeram para o Brasil, em 1958, a primeira Copa do Mundo. Os ponteiros esquerdos Zagallo e Pepe, os volantes Zito e Dino Sani e o centroavante Mazzola pegaram de surpresa quase todos os jornalistas do Correio Braziliense. O alvoroço reforçado por um alegre grupo de crianças da Escola Nossa Senhora Perpétuo Socorro (Lago Sul), que conheciam a redação foi espontâneo. 'É o Zagallo! É o Zagallo', gritou um dos meninos, ao identificar o mais famoso deles."

O parágrafo acima é a abertura da matéria publicada às páginas 34 e 35 daquele 25 de junho de 2008, uma quarta-feira. O texto assinado pelos jornalistas José Cruz e Renato Freire detalhava a visita dos cinco ídolos campeões mundiais em 1958 à capital federal. Eles celebravam os 50 anos da façanha, com ida a escolas e monumentos de Brasília.

  • A visita de Zagallo à redação do Correio em 24 de junho de 2008 animou os estudantes da Escola Nossa Senhora Perpétuo Socorro
    A visita de Zagallo à redação do Correio em 24 de junho de 2008 animou os estudantes da Escola Nossa Senhora Perpétuo Socorro Adauto Cruz/CB/D.A Press
  • Campeões mundiais de futebol relembram a façanha de 1958 na sala onde é feita a primeira página do Correio Braziliense
    Campeões mundiais de futebol relembram a façanha de 1958 na sala onde é feita a primeira página do Correio Braziliense Adauto Cruz/CB/D.A Press
  • Páginas 34 e 35 do Correio Braziliense de 25 de junho de 2008 sobre a visita de Mário Jorge Lobo Zagallo e campeões do mundo à sede do jornal
    Páginas 34 e 35 do Correio Braziliense de 25 de junho de 2008 sobre a visita de Mário Jorge Lobo Zagallo e campeões do mundo à sede do jornal Produção/Correio Braziliense
  • Capa do Correio Braziliense de 25 de junho de 2008 sobre a visita de Mário Jorge Lobo Zagallo e campeões do mundo à sede do jornal
    Capa do Correio Braziliense de 25 de junho de 2008 sobre a visita de Mário Jorge Lobo Zagallo e campeões do mundo à sede do jornal Produção/Correio Braziliense
  • Zagallo visitou a redação do Correio em 24 de junho de 2008 ao lado de mais quatro campeões mundiais em 1958: Pepe, Zito, Dino Sani e Mazzola
    Zagallo visitou a redação do Correio em 24 de junho de 2008 ao lado de mais quatro campeões mundiais em 1958: Pepe, Zito, Dino Sani e Mazzola Adauto Cruz/CB/D.A.Press

Na entrevista aos jornalistas, Zagallo falou sobre o início da arrancada ao título mundial de 1958: "Os adversários não eram estudados do jeito que são hoje. O treinador tinha de confiar no observador. Mas no jogo da Áustria (vitória por 3 x 0) não teve isso porque era a estreia. Levamos um baile nos primeiros 20 minutos até nos acertarmos". E também sobre ter sido treinador na Copa de 1970: "Aí, como eu estava maduro, aceitei e fui dirigir a Seleção (risada geral)."

Leia a matéria publicada à época

Quando ele entrou na redação do Correio Braziliense, a criançada foi à loucura. Alunos da Escola Nossa Senhora Perpétuo Socorro (Lago Sul), que participavam do programa Leitor do Futuro, correram em direção ao ídolo, em busca de fotos e autógrafos. Não se tratava de Kaká, nem de Ronaldinho Gaúcho. Os torcedores mirins se emocionaram com a presença de Zagallo, 76 anos, tetracampeão mundial pela Seleção Brasileira; duas vezes como jogador, uma como treinador e uma como coordenador técnico.
Mesmo afastado dos holofotes desde a Copa de 2006, o Velho Lobo segue com o carisma intacto. Na visita que os craques da conquista de 1958 fizeram ao Correio, na tarde desta terça-feira, ele se desdobrou para atender aos fãs de todas as idades. E, em entrevista ao site do Correio, contou histórias marcantes de cinco décadas atrás.

Zagallo não se esquece da gentileza dos suecos, nossos adversários na decisão: "Tinha chovido nos três dias antes da final e eles sabiam que o futebol brasileiro não gosta de jogar na lama. Botaram uma lona para proteger o gramado da chuva. No dia do jogo, a bola rolou normalmente e nós metemos 5 x 2".
Com dois pontas-esquerdas natos no elenco de 1958 ; Pepe, que também visitou o Correio, e Canhoteiro, que acabou cortado antes do Mundial ;, o então craque do Flamengo se viu obrigado a mudar suas características para garantir uma vaga no time titular. Surgia o ponta falso, que fechava o meio-de-campo.

"Nos juvenis, eu era camisa 10. Notei que não teria chance e passei a jogar com a 11, mas meu estilo era de driblador. Tive que mudar porque, nos treinos do Flamengo, o Fleitas Solich (técnico paraguaio) marcava falta quando eu driblava. Comecei a soltar mais a bola. Isso me fez titular na Suécia, numa função totalmente diferente do que o se fazia na época."

Lenços brancos

Ao brilhar na Suécia, Zagallo foi à forra do maracanazzo da Copa de 1950. O então jovem que servia o Exército era um dos 200 mil torcedores que lotaram o Maracanã e choraram a dor da derrota diante do Uruguai. "Antes do jogo, a festa foi linda. Milhares de lenços brancos agitados na arquibancada. E o Brasil, que jogava pelo empate, fez 1 x 0. Aí veio o desastre."

Duas copas mais tarde, lá estava o jogador Zagallo erguendo a Copa do Mundo: "Nunca poderia imaginar que, oito anos depois, eu estaria em campo numa conquista da Seleção". Bicampeão no Chile, tri no México, já como técnico da Seleção, Zagallo não hesita em apontar os times de 1958 e de 1970 como os melhores da história. "A Seleção de 1982 também era excelente, mas não chegou nem em quarto lugar", lamenta.

A ausência na festa do cinquentenário de craques já falecidos, como Garrincha, Didi e Vavá, deixa uma ponta de frustração em Zagallo: "Dentro da alegria de estarmos aqui, em Brasília, tem a tristeza daqueles que já se foram. O Brasil deveria seguir o exemplo da Europa e fazer das homenagens a ex-campeões uma rotina. Por que não todo ano?".

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postado em 06/01/2024 11:48 / atualizado em 06/01/2024 11:55
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