Em uma semana decisiva para os casos de violência sexual envolvendo Robinho e Daniel Alves, funcionários do Real Brasília foram denunciados por assédio contra a coordenadora do departamento médico e fisioterapeuta da Ferroviária, Ariana Patricia dos Santos, durante a partida entre as duas equipes, pela segunda rodada da Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino, na terça-feira (19/3).
O relógio marcava 40 minutos do segundo tempo, quando a goleira Luciana Dionizio solicitou atendimento. Ariana entrou em campo e ouviu comentários sexistas de membros uniformizados do Real Brasília: "Pode mandar ela vir para cá, ela é gostosa". A profissional paulista se revoltou, mas não conseguiu identificar os indivíduos. Ao fim da partida, Ariane e mais uma atleta entraram no vestiário da arbitragem para relatar o ocorrido à juíza Luciana Mafra Leite e à delegada Ilzanilde Costa dos Santos, adicionado à súmula posteriormente. O documento oficial do jogo relata que nenhum membro da equipe de arbitragem presenciou o fato.
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Em nota, o clube de Araraquara reforçou a denúncia e repudiou o ato. "Começaram a fazer comentários indesejados sobre suas características físicas, constrangendo a profissional e em total desrespeito às mulheres", diz trecho da nota divulgada. Sete horas após a acusação, o Real Brasília também se manifestou e definiu as queixas como "falsas e absolutamente levianas". O time do Distrito Federal se baseia no tempo de trabalho com os funcionários, de identidade não revelada, para defendê-los. "
Após conversar com o pessoal de apoio, que trabalha no clube há cerca de nove anos sem qualquer mácula, nenhum deles admitiu ter feito ou ouvido qualquer comentário como o descrito pela denunciante. Essa informação também foi confirmada pela equipe de segurança, gandula e equipe de imprensa posicionada atrás da área de atendimento", alega a instituição da Vila Planalto, em comunicado.
Em contato com o Correio, a Ferroviária ressaltou que o Real Brasília não foi surpreendido, pois estava ciente da denúncia desde o dia da partida. A reportagem procurou a fisioterapeuta Ariane dos Santos e a comissão técnica, mas não obteve retorno sob justificativa de que estavam concentradas para a partida contra o São Paulo, nesta sexta-feira (22/3), às 19h, em Cotia (SP.)
Jogo de narrativas
Segundo o Real Brasília, 20 metros separavam os funcionários do clube do local no qual Ariane atendeu a goleira da Ferroviária. O clube usa trecho da transmissão da partida feita pela TV Real Brasília para se defender e mostra que o áudio não capta a agressão (assista ao vídeo abaixo). Portanto, os comentários deveriam ser proferidos em alto tom. Ao Correio, o presidente da equipe brasiliense, Luis Felipe Belmonte, rebateu a acusação e afirmou que processará a fisioterapeuta da Ferroviária por difamação. Caso provas sejam apresentadas, garantiu que "botaria para fora" os envolvidos. "Mesmo se tivesse acontecido, isso é inapropriado. Mas é violência?", indagou.
Na avaliação do dirigente, a profissional da Ferroviária teria acusado funcionários do Real Brasília para "desviar o foco, porque elas foram favorecidas no jogo". O suposto favorecimento citado por ele, e na nota oficial do clube, seria em relação a um possível pênalti não marcado para as Leoas do Planalto e a invalidação de outro lance por impedimento. Belmonte conta que as denúncias se referem ao roupeiro, massagista e auxiliar massagista. "Ele (o auxiliar de massagista) nem português fala. Ele é nigeriano", compartilhou.
Ariane dos Santos também é fisioterapeuta da Seleção Brasileira sub-20. Esteve com a delegação da Amarelinha durante os três jogos na Copa do Mundo Feminina de 2023, na Austrália e na Nova Zelândia. Além de repudiar o caso, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) encaminhou a denúncia de assédio sexual ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para adoção de medidas cabíveis no âmbito esportivo.
Violência contra elas
Horas antes da vitória da Ferroviária por 2 x 0 sobre o Real Brasília, o portal ge.globo publicou um levantamento a respeito dos relatos de casos de assédio sexual e moral contra jogadoras das Séries A1, A2 e A3 do Campeonato Brasileiro. Segundo a reportagem, 209 jogadoras passaram pelo menos uma vez por situações dessa natureza. O número representa 52,1% das atletas procuradas.
*Estagiária sob a supervisão de Victor Parrini
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