Quando precisou de sede para a Copa América em 2021, ao ver Argentina e Colômbia declinarem de recebê-la em meio à pandemia, Brasília estendeu a mão à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e abrigou oito partidas do principal torneio de seleções do continente. Inclusive a abertura e uma semifinal. No mesmo ano, a capital do Brasil foi a primeira a hospedar jogos com público no Mané Garrincha na Libertadores durante a crise sanitária. Abrigou o duelo de volta entre Flamengo e Defensa y Justicia nas oitavas.
O Governo do Distrito Federal acumulou pontos com a Conmebol e decidiu resgatá-los. No último dia 5, o presidente Alejandro Domínguez revelou depois do sorteio do Super Mundial de Clubes, em Miami, nos Estados Unidos, o desejo informal de Brasília e Montevidéu receberem a final única da Copa Libertadores da América, em 29 de novembro de 2025.
Não havia proposta no papel, apenas manifestações verbais das duas cidades. O Correio apurou que a justificativa informal apresentada por Brasília aos dirigentes da Conmebol foi minimamente convincente e colou: o aniversário de 65 anos da capital do país. A final única da 66ª edição encerraria com pompa a celebração do quadradinho inaugurado em 21 de abril de 1960.
Cinco dias depois daquele 5 de dezembro, Brasília largou na frente. Oficializou a candidatura e deu garantias. O governador Ibaneis Rocha tomou a frente. Com mandato até 31 de dezembro de 2026, o chefe do executivo local queimou a primeira de duas tentativas de ostentar a decisão no Mané Garrincha, praticamente o quintal do Palácio do Buriti tal a proximidade entre a sede do governo e o principal templo do futebol do Distrito Federal.
Se não for em 29 de novembro de 2025, será em 2026, dizem fontes da Conmebol com quem o Correio conversou. A confiança é de que a entidade dificilmente deixará de quitar a dívida com Brasília no aniversário de 65 anos. Em 2022, o DF receberia a decisão da Sul-Americana. Porém, o segundo turno das eleições gerais no país mudou o palco para Córdoba, na Argentina.
Trâmites
Ibaneis começou a se articular no último dia 10, em um documento enviado ao presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. No ofício número 63 de 2024, pedia ao dirigente para oficializar Brasília como candidata a receber a final única da Copa Libertadores da América em 2025. Entre os argumentos apresentados, o alto padrão da Arena BRB Mané Garrincha, a estrutura para treinos, aeroporto internacional com duas pistas para pousos e decolagens, voos diretos e rede hoteleira próxima do estádio, com 14 mil unidades habitacionais e 26 mil leitos.
O texto assinado pelo governador partiu em direção à Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, sede da CBF, com lembretes de que a capital recebeu a Copa das Confederações em 2013; a Copa do Mundo de 2014; e os torneios de futebol feminino e masculino nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, entre outras competições internacionais. Ibaneis Rocha se despede assim da entidade máxima do futebol nacional: "Na expectativa de contar com sua costumeira colaboração (…)".
Ednaldo Rodrigues não joga futebol, mas recebeu o cruzamento na medida, finalizou de bate-pronto e usou o ofício 1730/2024 para encaminhar o pedido do governador ao presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, com quem tem ótimo relacionamento segundo gente próxima dele. "A CBF formalizou junto à Conmebol a candidatura de Brasília como sede da final única da Conmebol. Juntos poderemos realizar uma final memorável", encerra a resposta imediata com assinatura do presidente Ednaldo Rodrigues.
Como publicou ontem o blog Drible de Corpo do Correio, a candidatura estava concretizada desde o último dia 10. A CBF publicou ontem a confirmação. "Brasília é uma das melhores cidades para receber a principal competição entre clubes da América do Sul. A capital brasileira une uma série de fatores importantes, como segurança, rede hoteleira, malha aérea e a grandeza do Mané Garrincha para realizarmos a melhor final de Libertadores já organizada", afirmou Ednaldo Rodrigues, em nota publicada no site da entidade.
Brasília é a primeira a protocolar a candidatura e dificilmente ouvirá não. A capital é favorita a se juntar a Lima (Peru), Montevidéu (Uruguai), Guayaquil (Equador), Rio de Janeiro e Buenos Aires (Argentina) na lista das sedes da final única. A Conmebol também tem dívida com Santiago. A capital chilena deveria ter recebido a decisão em 2019, porém perdeu a vez devido à crise política no país à época. A entidade recorreu urgentemente ao Estádio Monumental, no Peru, onde o Flamengo superou o River Plate na final por 2 x 1.
Destino
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam por que cidades como Brasília estão cada vez mais na rota dos eventos esportivos de ponta. "Essa é uma demanda que vem desde a Copa do Mundo realizada em 2014. As arenas seguem precisando mostrar a que vieram, até para justificar o investimento feito em cada uma delas. Brasília, então, surge com uma possibilidade muito boa. Apesar de não ter tanto apelo para utilização por parte dos clubes da cidade, o estádio possui nível de arenas europeias, o que propicia uma boa experiência tanto para quem joga, quanto para quem assiste", avalia Jorge Duarte, gerente de marketing e esportes da Somos Young.
CEO e sócio-fundador da End to End, Reginaldo Diniz destaca benefícios ao torcedor de Brasília. "Reforça o sentido de pertencimento dos torcedores que estão longe fisicamente do time do coração", comenta o executivo.
Especialista em marketing esportivo, Renê Salviano destaca a chance de negócios. "Do ponto de vista comercial, quanto mais opções de entretenimento o Mané Garrincha tiver, melhor para o estádio em longo prazo. Dá mais visibilidade e traz mais eventos".